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Impasse na COP28 após lobby pró-petróleo da Opep

9 de dezembro de 2023

Presente à Conferência do Clima em Dubai, cartel articulou o bloqueio de restrições aos combustíveis fósseis, principal motor do aquecimento global. Brasil se juntou ao grupo como membro associado.

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O secretário geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Haitham al-Ghais
O secretário geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Haitham al-Ghais: lobby dos combustíveis fósseis na Conferência do Clima em DubaiFoto: Kamran Jebreili/AP/picture alliance

Qualificando como "pressão indevida e desproporcional" as discussões da comunidade científica sobre a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis para conter o colapso do clima, o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Haitham al-Ghais, exortou os estados-membros da entidade a bloquearem "proativamente qualquer texto ou formulação" neste sentido na Conferência do Clima em Dubai (COP28). Em carta endereçada aos países da Opep, ele classificou a questão como de "extrema urgência".

"Parece que a pressão indevida e desproporcional contra energias fósseis pode chegar a um ponto de virada com consequências irreversíveis", escreveu al-Ghais em documento obtido pela agência de notícias AFP.

Após o lobby da Opep, países se dividiram em Dubai sobre um possível acordo para o abandono gradual dos combustíveis fósseis.

A entidade reúne 13 países – Argélia, Angola, Guiné Equatorial, Gabão, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, República do Congo, Emirados Árabes Unidos e Venezuela, sob a liderança da Arábia Saudita. Pelo seu peso no mercado internacional de petróleo, o grupo exerce forte influência nos seus preços globais, detendo 80% das reservas e tendo produzido 40% de tudo que o mundo consumiu de petróleo na última década.

Observadores das negociações na COP28 afirmam que Arábia Saudita e Rússia, dentre outros países, estão insistindo para que a conferência foque apenas em reduzir a poluição do clima, em vez dos combustíveis responsáveis pelo atual quadro – uma aposta, ao que tudo indica, na captura e armazenamento de CO2, as chamadas tecnologias CCS.

Aposta na tecnologia CCS não é solução realista

Ao menos 80 países na COP28 – entre eles os estados-membros da União Europeia e os Estados Unidos, mas também as nações mais vulneráveis às mudanças climáticas – apoiam um acordo para abandonar os combustíveis fósseis e cumprir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5º C em relação à era pré-industrial.

Países dependentes de petróleo e gás, contudo, se opõem à ideia. É o caso da Arábia Saudita, um dos grandes exportadores internacionais de petróleo, que trabalha em Dubai para, ao menos, enfraquecer as decisões desta cúpula do clima ao pressionar pela continuidade da exploração de petróleo e gás mediante a captura e o armazenamento de CO2 por meio das tecnologias CCS – uma contrapartida ainda cara e inadequada para resolver, sozinha, o problema das emissões.

Outros países, como Índia e China, não apoiaram explicitamente o fim dos combustíveis fósseis, mas têm engrossado o coro em prol das energias renováveis.

Cientistas dizem que a humanidade precisa reduzir suas emissões de CO2 à quase a metade dos valores atuais até 2030 se quiser ter alguma chance de limitar o aquecimento global a 1,5º C em relação aos níveis pré-industriais, e compensá-las completamente para zerá-las até 2050.

Mediador das negociações na COP28 e mais alto executivo da estatal de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, Sultan Al-Jaber chegou a negar, antes da cúpula, a ciência por trás dos apelos ao abandono de combustíveis fósseis.

Brasil se juntou à Opep+ durante a COP28

Recentemente, ainda nos primeiros dias da COP28, o Brasil confirmou que aceitou o convite para integrar a Opep+, espécie de extensão turbinada do cartel, com a presença de membros associados que participam da discussão de políticas internacionais para o setor petrolífero.

Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desconversou ao ser perguntado sobre a adesão, afirmando que o país se juntaria à entidade para advogar pela transição energética.

Reação

À frente da presidência rotativa da União Europeia (UE), a Espanha reagiu à movimentação da Opep por meio de sua ministra do Meio Ambiente, Teresa Ribera, que chamou de "repugnante" a oposição a resoluções ambiciosas nas negociações climáticas.

Ambientalistas também reagiram com indignação à posição da Opep.

Ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock fez um apelo na sexta-feira aos países produtores de petróleo, argumentando que já há exemplos bem-sucedidos pelo mundo de que é possível aliar a proteção do clima ao desenvolvimento econômico, e que se comprometer com essa agenda é também uma questão de justiça social.

"Aqui em Dubai, temos a chance de ter pela primeira vez não uma aliança do antigo mundo dos combustíveis fósseis, mas uma aliança daqueles que querem dar passos concretos rumo ao futuro", disse Baerbock.

Segundo ela, a transição para uma economia de baixo carbono é um grande desafio porque "ainda há aqueles que querem dar continuidade a sua política de poder do passado também no futuro", valendo-se inclusive de combustíveis fósseis para isso.

A 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas deve terminar na próxima terça-feira (12/12). Em eventos anteriores, as negociações foram estendidas por um período maior devido à falta de consenso em torno de questões centrais.

A próxima COP deverá ser realizada no Azerbaijão, outro país cuja economia é altamente dependente do petróleo.

ra/le (AFP, Reuters, ots)

A ascensão dos Emirados Árabes Unidos