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Impasse sobre imigração ameaça governo de Merkel

14 de junho de 2018

Líder alemã enfrenta racha interno que pode ameaçar seu futuro político: enquanto o ministro do Interior defende maior controle de fronteiras, a chanceler federal rejeita a ideia. Nenhum dos dois parece querer ceder.

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Angela Merkel
Após 12 anos no poder, Merkel enfrenta um dos maiores desafios à sua autoridadeFoto: picture alliance/dpa/M. Kappeler

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, vive momentos tensos dentro de seu bloco conservador, em meio a uma forte divisão em relação à imigração. O impasse interno pode ameaçar o futuro político da chefe de governo, apenas três meses depois de sua coalizão ter assumido o poder.

Merkel vem sendo confrontada por seu ministro do Interior linha-dura, Horst Seehofer, um crítico feroz da postura liberal da chanceler federal em relação aos refugiados. O político é um grande defensor do endurecimento do controle das fronteiras.

Após longas negociações entre os dois não terem solucionado a disputa, uma sessão parlamentar foi suspensa nesta quinta-feira (14/06) para que ambos os lados – a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, e sua aliada bávara União Social Cristã (CSU), de Seehofer – se reunissem para discussões estratégicas.

Seehofer exige, como parte de um novo "plano diretor para a migração", que as forças de segurança nas fronteiras alemãs tenham o direito de recusar a entrada de refugiados sem documentos de identidade ou que já estejam registrados em outros países da União Europeia (UE). Ele também quer impedir o retorno ao país de migrantes cujos pedidos de refúgio tenham sido recusados.

Merkel, por sua vez, rejeita a ideia, porque teme que Bruxelas enxergue a medida como um ato unilateral da Alemanha, que afasta o senso de unidade dentro do bloco, e porque poderia piorar a situação de países como Itália e Grécia, já sobrecarregados.

Diante do impasse, a chanceler federal prometeu buscar uma resposta negociada dentro da UE, que realiza sua próxima cúpula em 28 e 29 de junho, em vez de tomar "medidas unilaterais" à custa de outros países do bloco europeu.

A CSU, no entanto, está convencida de que a Alemanha "não pode esperar por outra cúpula europeia". O governador da Baviera, Markus Söder, membro do partido, defendeu que é preciso "pensar na população local, e não apenas no resto da Europa".

Alexander Dobrindt, líder da bancada do CSU no Parlamento alemão, declarou que Seehofer tem autoridade para agir sem o consentimento de Merkel e ordenar que a polícia recuse refugiados – um ato desafiador que forçaria a chefe de governo a demiti-lo, provocando um colapso da aliança.

Dobrindt disse ainda que a liderança de seu partido se reunirá na próxima segunda-feira para tomar uma decisão final sobre a questão, praticamente dando a Merkel um ultimato para que ceda ou enfrente uma verdadeira crise dentro de seu governo. "Vivemos uma situação muito séria", afirmou.

A chanceler federal alemã – que é a líder da UE há mais tempo no poder – afirmou na quarta-feira que a questão migratória é um "teste decisivo para o futuro da Europa". O tema, no entanto, rapidamente se tornou um teste para a autoridade de Merkel em seu próprio país.

Segundo o jornal alemão Bild, "se nenhum acordo for alcançado, Merkel deve apresentar uma moção de confiança, e todos os parlamentares terão que decidir entre se manter no caminho de Merkel ou enfrentar uma aventura chamada novas eleições".

Segundo a legislação alemão, o chanceler federal pode apresentar uma moção de confiança para verificar se ainda conta com o apoio da maioria dos parlamentares. Se não houver o apoio necessário, o presidente pode dissolver o Parlamento e convocar novas eleições. 

O Partido Verde, da oposição, manifestou "profunda preocupação com uma crise real dentro do governo", que coloca a Alemanha "numa encruzilhada entre escolher a humanidade, a solidariedade e o estado de direito ou dizer adeus a todos esses valores".

Horst Seehofer
O ministro do Interior, Horst Seehofer, é um crítico feroz da política de portas abertas a refugiados de MerkelFoto: Getty Images/S. Gallup

Discurso anti-imigração

Desde que assumiu o posto de ministro do Interior, em março, Seehofer tem feito declarações que causaram desconforto ao governo.

Em seu segundo dia no cargo, ele gerou controvérsia ao dizer que "o islã não faz parte da Alemanha", ao ser questionado se o grande fluxo de refugiados muçulmanos à maior economia da Europa significaria que o islã se tornou parte do tecido social do país.

Como ministro, Seehofer delineou uma série de políticas anti-imigração, prometendo desde o início uma nova estratégia para acelerar as deportações no país.

Segundo ele, o governo vai lidar com as causas que levam as pessoas a migrar, além de aumentar o número de países considerados "seguros", o que facilitaria a devolução dos requerentes de refúgio que tiverem seus pedidos negados.

O ministro, que antes de assumir o cargo era governador da Baviera, foi um dos mais ferozes críticos à política migratória de Merkel, se manifestando em diversas ocasiões contra a abertura das fronteiras aos migrantes.

Em 2017, a Alemanha processou mais pedidos de refúgio do que todos os outros Estados da União Europeia combinados. Neste ano, a questão migratória abriu um fosso entre os partidos de Seehofer e Merkel, que há décadas formam uma única bancada parlamentar.

Em meio ao impasse, um parlamentar da CSU chegou a afirmar ao jornal bávaro Augsburger Allgemeine, sob condição de anonimato, que o partido poderia inclusive encerrar sua aliança de longa data com a CDU.

O Bild citou outro parlamentar bávaro afirmando: "A chanceler federal está pedindo confiança e paciência, mas nossa confiança e paciência já se esgotaram."

EK/afp/ap/dpa/rtr

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