"Impeachment deixará cicatrizes profundas", diz Dilma
25 de março de 2016Em entrevista a jornais estrangeiros nesta quinta-feira (24/03), a presidente Dilma Rousseff garantiu que não irá renunciar e que vai usar todos os meios legais para evitar um impeachment.
"Por que 'eles' querem que eu renuncie? Porque sou uma mulher fraca? Eu não sou", diz na reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian.
Dilma classificou o processo de impeachment como uma tentativa de golpe e disse que sua saída pode romper a ordem democrática e deixar uma "cicatriz profunda" na política brasileira.
A presidente destacou que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dá andamento ao processo de impeachment porque o governo não barrou uma investigação sobre contas dele na Suíça no Conselho de Ética da casa.
"Pedem que eu renuncie para evitar a pecha de ter colocado em curso, de forma ilegal, indevida e criminosa, o processo de afastamento a uma presidenta eleita", disse aos jornalistas.
Segundo o jornal americano The New York Times, a presidente usou um tom "desafiador". A entrevista, de quase duas horas, foi dada a seis correspondentes de publicações internacionais no Brasil, entre elas, o jornal alemão Die Zeit e o francês Le Monde.
Dilma também afirmou que não houve ilegalidades na nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil, a quem chamou de "parceiro". A presidente, que é alvo de um processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode culminar numa eventual cassação, alegou que não houve irregularidades nas doações de campanha durante as eleições presidenciais de 2014.
Moro
Ao criticar as interceptações telefônicas autorizadas pelo juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, Dilma disse que um magistrado precisa ser "imparcial".
A presidente demonstrou preocupação com o que chamou de aumento da intolerância no país. Sobre os protestos a favor do impeachment, Dilma disse que não é agradável ser vaiada, mas que dorme "bem a noite toda". "Nós nunca vimos tanta intolerância no Brasil. Nós não somos um povo intolerante", disse.
Por determinação do ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal (STF), Moro enviou à corte parte das investigações da Lava Jato que envolvem Lula, familiares e pessoas ligadas ao ex-presidente.
O juiz de Curitiba também determinou sigilo para a 26ª fase da operação, apelidada de "Xepa". Na quarta, Moro colocou em segredo de Justiça uma lista de pagamentos da construtora Odebrecht feitos a políticos da situação e oposição.
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