Imprensa alemã lamenta morte do “mestre do modernismo”
6 de dezembro de 2012O semanário Die Zeit acentua a aversão de Niemeyer "pelo útil", perguntando a seguir como ele poderia ter seu olhar voltado para a utilidade, "diante desta vista? Do seu escritório, no último andar de um prédio na avenida Atlântica, ele avistava a Praia de Copacabana. Um panorama de quatro quilômetros de areia, ao fundo a imensidão azul do mar, com o barulho das ondas que batem incessantemente na praia. Quem pensa nesse caso em superfícies planas e ângulos retos?" A seguir, o jornal comenta: "O Modernismo europeu, a Bauhaus. Rigidez e praticidade. A intenção de criar algo universal, de depreender teorias que possibilitam criar coisas em série. Niemeyer não dava a mínima para tais premissas pragmáticas. Ele apreciava a estética do momento. Com seus projetos, ele queria homenagear as curvas de uma mulher bonita, as montanhas, os oceanos".
Em artigo intitulado Senhor das curvas, a revista Der Spiegel fala que "Oscar Niemeyer conferia suavidade e leveza até mesmo a suas obras monumentais. Foi assim que o astro da arquitetura brasileira projetou algumas das mais fascinantes e interessantes construções do século 20". Segundo a revista, o senhor das curvas "criou em Brasília, Rio de Janeiro e em outros lugares formas onduladas de uma beleza às vezes estonteante, que se debruçam voluptuosamente sobre o espaço público, a paisagem e o futuro".
Já o diário Die Welt chama Niemeyer de "arquiteto do novo Brasil", lembrando que o brasileiro "congregava em suas construções opostos aparentes". O jornal acentua ainda: "Com o elã espontâneo e a rapidez com que executava seus trabalhos, ele pôde realizar mais de 500 projetos em sua longa vida – sem contar os blocos de apartamentos pré-fabricados menos famosos. Com tantas obras, o arquiteto – convencido da efemeridade da existência e por isso decidido a desfrutar intensa e sensorialmente da vida – queria também assegurar que seria lembrado. Pois é dele a frase de que um arquiteto precisaria construir mil obras, a fim de sobreviver mil anos".
"Modernismo tropicalmente aquecido"
Para o Süddeutsche Zeitung, Oscar Niemeyer era o "último gigante do Modernismo arquitetônico". E não apenas isso, "mas também aquele que melhor soube superá-lo. Da mesmo forma que Le Corbusier e outros de seus contemporâneos, ele acreditava que o mundo poderia se tornar melhor através da arquitetura. Para isso, ele não seguia nenhum ideal racionalista nem o frio desejo pela engenharia social, mas um humanismo terno e sensível".
Em homenagem ao arquiteto brasileiro, o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung afirma que "Niemeyer criou um modernismo tropicalmente aquecido. Sua Casa das Canoas, no Rio de Janeiro, não tem praticamente nenhum ângulo reto, o concreto dança em torno dos recifes, balançando como uma planta suculenta na mata tropical, unindo a dinâmica do barroco à diversidade de formas da selva". Segundo o jornal, "a natureza nunca serviu de adversária para Niemeyer, mas sim de exemplo", sendo sua arquitetura o eco desta natureza. "As formas suavemente arredondadas das montanhas, as folhas suculentas das plantas tropicais, a imensidão do cerrado no Brasil Central – tudo isso parece estar refletido nas esculturas e paisagens residenciais de Niemeyer", concluiu o jornal em seu obtuário do arquiteto brasileiro.
SV/dw
Revisão: Francis França