Futuro do Haiti
19 de janeiro de 2010Em artigo publicado nesta segunda-feira (18/01), a versão online do semanário alemão Der Spiegel comentou que as consequências do terremoto no Haiti ainda não são previsíveis, "no entanto, EUA, França e Brasil já brigam pela hegemonia no país".
Segundo o site, especialistas preveem que nos próximos anos o país deverá se tornar novamente uma espécie de colônia, enquanto o governo haitiano observa a situação de forma impotente.
Após o presidente haitiano René Préval haver transferido o controle do aeroporto de Porto Príncipe aos EUA, Brasil e França teriam se queixado oficialmente junto a Washington, já que as tropas norte-americanas passaram a ter preferência nas permissões de aterrissagem e os aviões de muitas organizações de ajuda humanitária tiveram que ser desviados para a República Dominicana. Para o ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, os EUA teriam "anexado" o aeroporto da capital haitiana, escreveu o Spiegel Online.
O site alemão comentou que o Brasil, que chefia a missão de paz da ONU na ilha caribenha, não estaria pensando em "desistir do controle sobre a ilha" e que, segundo o governo brasileiro, a reconstrução do Haiti deverá continuar sendo um projeto latino-americano.
Para o Spiegel Online, no entanto, diferentemente de 1994, quando os EUA marcharam no Haiti com 20 mil soldados e restituíram o então presidente deposto Jean Bertrand Aristide, desta vez, Barack Obama estaria se esforçando em evitar a impressão de uma ocupação. "Não temos a intenção de substituir a liderança haitiana", afirmou uma representante do Departamento de Estado norte-americano, citada pelo site alemão.
Brasileiros benquistos
Em outro artigo, publicado no Zeit Online na semana passada, o site lembrou que os EUA teriam um grande interesse estratégico no Haiti. A ilha se localiza somente a mil quilômetros de Miami e cerca de um milhão de haitianos vivem nos EUA.
Um colapso político e econômico total do Haiti poderia levar a uma violenta onda de refugiados, o que preocuparia o governo de Washington, que ainda luta contra as consequências da crise financeira.
Além disso, afirmou o Zeit Online, o Haiti se desenvolveu como ponto de conexão para o tráfico de drogas, sendo também uma importante peça na disputa regional de influência na América Latina. Opositores dos EUA já teriam enviado um sinal: o primeiro avião que pousou em Porto Príncipe após a catástrofe veio da Venezuela, lembra a página de internet do semanário Die Zeit, referindo-se a Hugo Chávez.
Para o Zeit Online, enquanto a França, antiga força colonial no Haiti, exerceria somente um papel cultural e simbólico, o Brasil ganhou boa reputação entre os haitianos como líder da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti). Sob a liderança brasileira, os capacetes azuis da ONU teriam conseguido conter bandos criminosos em bairros pobres, escreve o site.
Expansão da Minustah
Para o professor Günther Maihold, vice-diretor do Instituto Alemão de Política Internacional e de Segurança (SWP), de Berlim, os problemas de coordenação da ajuda humanitária no local devem-se à falta de um governo capaz de agir. Segundo ele, isso estaria sendo usado pela mídia para levantar eventuais disputas hegemônicas.
O fato de se estar lidando agora com um país destruído é algo inusitado que levaria a situações novas para a comunidade internacional, opina Maihold. Ele acredita que os EUA estariam bem orientados pela ONU para evitar o que o presidente venezuelano, Hugo Chavez, chamou de "militarização do Caribe".
Maihold reiterou a importância da ajuda à população haitiana para os norte-americanos, como forma de evitar uma onda migratória para a Flórida. Para o especialista do SWP, a expansão da missão de paz da ONU definirá o futuro do Haiti.
Com 1.166 soldados na ilha, o Brasil lidera desde 2004 a missão de paz da ONU no Haiti. Segundo o setor de Comunicação Social do Exército brasileiro, esse número foi estabelecido em acordo entre o governo do Brasil, do Haiti e as Nações Unidas.
Autor: Carlos Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer