Fiasco dissecado
21 de dezembro de 2009Ao comentar os resultados dos 13 dias da COP 15, a conferência sobre o clima em Copenhague encerrada no último sábado (19/11), a imprensa europeia oscilou entre o desapontamento de políticos, ambientalistas e cientistas, e uma certa contemporização.
Na Alemanha, o diário Neue Osnabrücker Zeitung criticou duramente:
"Copenhague poderia ter sido o ápice da política de proteção ao clima. Em vez disso, tornou-se um sinônimo de crise. A cúpula que reuniu quase 120 chefes de Estado e governo, algo sem precedente na história das Nações Unidas, terminou num fiasco – ainda que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, desejasse vender o resultado como sucesso. [...] A proteção climática não avançou um só milímetro. É essa consciência que deveria ter sido demonstrada por todos aqueles que colocaram a pretensão nacional acima de uma estratégia comunitária, impedindo assim um resultado substancial."
Palavras estas reforçadas pelo Rheinische Post:
"Posteriormente, talvez vá se dizer que o início do fim da ONU foi em dezembro de 2009. Pois o fracasso da cúpula do clima organizada pelas Nações Unidas em Copenhague não demonstrou apenas desentendimento dos participantes quanto ao tema, mas também a espantosa inabilidade de ação da comunidade internacional. O insucesso [...] é representativo da catastrófica incapacidade dos poderosos deste mundo de colocar o interesse global acima dos egoísmos nacionais."
O francês Libération acrescentou:
"Num redemoinho de incompetência diplomática e cegueira imperiosa, as grandes nações torpedearam o consenso mundial vinculativo que nós, talvez um tanto ingenuamente, esperávamos de Copenhague. [...] Agora a ecologia internacional sabe onde focar sua atenção: nos EUA e na China. Em seguida vêm as nações que possuem um pouco mais de consciência ambiental, sobretudo na Europa. Estas não precisam esperar até que haja um acordo global, mas poderiam começar a operar de forma educativa por meio de seus atos. Se a União Europeia adotasse unilateralmente as medidas necessárias, poderia se posicionar na vanguarda do movimento. Assim seria possível superar, passo a passo, o fiasco de Copenhague."
O jornal Le Monde nomeou os responsáveis:
"Quando, nos tempos de hoje, se trata de questões tão importantes quanto o clima, quase nada acontece neste mundo sem um acerto prévio entre os EUA e a China – o famoso G2. E menos ainda chega a acontecer quando 192 nações devem decidir algo no contexto da estrutura das Nações Unidas, totalmente sobrecarregada e mal preparada para tema."
O conservador inglês Sunday Times se concentrou na responsabilidade dos não-europeus:
"Por meio dessa farsa em Copenhague, o premiê Gordon Brown, que quer entrar para história como salvador do clima global, e o governo que o sucederá obtiveram a oportunidade única de encerrar de uma vez por todas a caça às bruxas do dióxido de carbono. Se a Índia, a China, os Estados Unidos e o Brasil continuarem fazendo o que fizeram até agora, os esforços dos europeus para reduzir as emissões terão sido, na melhor das hipóteses, inúteis; e, na pior, terão representado atribulação e renúncia para os cidadãos europeus, sem o menor sentido ou finalidade."
O holandês De Volkskrant admite a derrota do encontro, sublinhando entretanto a continuidade do debate climático:
"As mudanças climáticas são um problema internacional por excelência. Assim, parece inevitável que todos os países sejam incluídos nas negociações. Ao mesmo tempo, é quase infactível alinhar 192 Estados com extensões bem diversas e interesses tão distintos. Mas também há um lampejo de esperança. Todos os participantes da cúpula do clima sabem que as negociações prosseguem. E presumivelmente também sabem que estarão ainda mais expostos ao olhar crítico da opinião pública, das organizações não-governamentais e de outras iniciativas. Afinal, uma coisa sem dúvida se alcançou: o clima não desaparecerá mais da ordem do dia."
O suíço Tages-Anzeiger se permite ser ainda mais otimista:
"A cúpula foi um sucesso, pois pela primeira vez a comunidade internacional aceitou que o ponto de aquecimento crítico de 2ºC poderia desequilibrar o ecossistema da Terra. Trágico é os países industrializados e em desenvolvimento não estarem dispostos a acelerar o andamento para [...] reduzir os gases-estufa. Copenhague também mostrou uma outra face, pois apresentou soluções concretas de como garantir um futuro favorável ao clima, sem renunciar ao lucro econômico. Numerosos empresários se mostraram pouco entusiásticos com a inércia política."
AV/dpa/afp/ots
Revisão: Simone Lopes