Imprensa europeia julga com rigor rebaixamento do Brasil
11 de setembro de 2015Ao comentar o anúncio, na quarta-feira (09/09), de que a agência de classificação americana relegou o Brasil ao nível de risco "BB+, a maioria dos veículos de imprensa europeus evita uma denominação mais crassa, pelo menos nas manchetes.
Fala-se preferencialmente de "queda de solvência", "perda do selo de bom pagador", "relegação a status de devedor especulativo". Para o espanhol El País, "um dos maiores pesadelos da equipe econômica de Dilma Rousseff e dos empresários brasileiros começou a tomar forma nesta quarta-feira".
Por sua vez, o título do Público, o site de notícias mais popular de Portugal, não faz rodeios: "Standard & Poor's coloca rating do Brasil ao nível de 'lixo'”
"A queda acentuada do investimento e do consumo, num ambiente de instabilidade política, empurraram [sic] a atividade econômica do país para o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, de acordo com números recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)."
Acusações a Dilma
O suíço Neue Zürcher Zeitung não tem dúvidas quanto a quem atribuir a culpa pelas atuais vicissitudes brasileiras: "Esta é a conta pela caótica política econômica do governo de Dilma Rousseff."
O jornal cita a S&P, ao acusar os governantes de parecerem "estar cada vez menos dispostos a implementar a política fiscal iniciada no começo deste ano". E ressalta que as duas outras principais agências de rating, Fitch e Moody's, "ainda avaliam o Brasil como um devedor seguro, mas deverão em breve seguir o exemplo da S&P, com seus próprios rebaixamentos".
A revista alemã Der Spiegel tampouco poupa críticas aos responsáveis brasileiros, ao estampar: "A política de dívidas da presidente do Brasil quica de volta".
"Com o rebaixamento, o Brasil, enquanto devedor, perdeu o investment grade, que indica um investimento financeiro ao menos razoavelmente seguro. Assim, os títulos de dívida pública brasileiros ficam categorizados como junk bonds. Com isso, o financiamento estatal deve ficar ainda mais difícil", prediz o site do semanário alemão.
Segundo o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, "o rebaixamento do Brasil não foi inesperado, mas veio inesperadamente cedo": muitos não contavam como ele antes do fim de 2015.
Consequências internacionais
Atribuindo o atual estado de coisas à "falta de reformas", o britânico Financial Times aponta para os efeitos globais da desclassificação da potência sul-americana, ao preconizar que ela "desencadeia a perspectiva de mais turbulência nos países emergentes".
"O rebaixamento ao status de 'lixo', nesta semana, pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, não é apenas um severo golpe para os investidores, tomadores de decisões e cidadãos do Brasil, mas também abre a perspectiva de uma onda de rebaixamentos subsequentes através dos mercados emergentes, à medida que os spreads de crédito se ampliam e os investidores se tornam mais pessimistas quanto ao desaquecimento econômico global."
La Repubblica, da Itália, igualmente enfatiza as consequências transnacionais da desclassificação do "país sul-americano, onde escândalos, corrupção e déficit galopante sufocaram o crescimento econômico". Ele cita, com preocupação, a Pirelli e a Fiat entre as "muitas firmas italianas com interesses brasileiros".
Além disso, "com as dificuldades da Rússia e da China, crescem os problemas do Brics". Falando de um "duríssimo golpe" e de uma "bordoada" desferida pela agência de rating americana, a conclusão do diário italiano é: "Assim se esfacela o Brics."
Esperanças francesas
Exceção nesse quadro pessimista, o editorial do diário francês Le Monde adota um tom compassivo e até otimista.
"Esta crise política, econômica e moral do Brasil talvez seja a etapa que ele precisa ultrapassar, para adentrar uma nova fase de seu desenvolvimento. Contanto que a paralisia política não perdure e o clima emocional se amaine, o Brasil pode sair fortalecido dessa provação", escreve.
"A descoberta de importantes reservas de petróleo durante a era Lula anestesiou o país para o fato de que seu futuro não está suficientemente preparado", prossegue a análise do jornal francês. "Ele precisa e deve reinventar seu modelo, a fim de poder responder às expectativas da nova classe média."
AV/ots