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Imprensa internacional comenta resultado da eleição nos EUA

8 de novembro de 2020

Por todo o mundo, a derrota do atual presidente americano pela dupla democrata Biden-Harris é motivo de celebração e esperança – mas também de advertências e até mesmo desconfiança.

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Democratas Joe Biden (c.) e Kamala Harris (esq.) comemoram vitória em Wilmington , Delaware
Democratas Joe Biden (c.) e Kamala Harris (esq.) comemoram vitória em Wilmington, DelawareFoto: Tasos Katopodis/Getty Images

Com manchetes como "Deus abençoe a América", poderosos veículos de mídia por todo o mundo saudaram a derrota de Donald Trump, embora advertindo ao presidente eleito, Joe Biden, dos enormes desafios que ele tem a enfrentar para fim de curar as feridas dos Estados Unidos, como prometeu.

No Brasil, a Folha de S. Paulo noticiou sobre o resultado das urnas no contexto da presidência de Jair Bolsonaro, que também tem atacado as instituições democráticas e rejeitado fatos científicos: "Derrocada de Trump pune ataques à civilização e carrega lições para Bolsonaro [...]Que no Brasil as lideranças saibam captar o espírito do tempo —ou feneçam, como Trump, que já vai tarde."

O jornal igualmente enfatiza o papel da vice-presidente eleita, Kamala Harris: "[...] mulheres negras mostram que não são apenas um eleitorado que ajuda outros a se elegerem, mas que se colocam como as que governarão e liderarão processos políticos".

Em artigo de opinião, O Globo anuncia que o "espaço" para o país "fica estreito com Biden": "O Brasil sob Bolsonaro já havia perdido importância na cena global. Para resgatá-la, será mais necessário ainda o trabalho profissional na política externa, que de nada valerá se o Planalto não souber se adaptar ao novo equilíbrio mundial."

Da Espanha, o El País registra: "O presidente brasileiro demora a digerir a derrota de seu aliado Trump: na tarde deste sábado, ainda mantém silêncio sobre o triunfo do democrata Biden nas disputadas eleições norte-americanas, Além disso, "a vitória de Biden é também um freio à onda nacional-populista mundial, que o tempo dirá se afeta Bolsonaro em âmbito interno ―e em que medida".

El Mundo, de centro-direita, classificou o vitória do democrata Biden como um adeus ao populismo trumpista, ao mesmo tempo que descreveu Kamala Harris como um "símbolo de renovação".

Na Alemanha, o Süddeutsche Zeitung abriu com "Que liberação, que alívio". O periódico de tendência esquerdista abordou o caráter conciliatório do discurso do veterano democrata de 77 anos, enfatizando: "De agora em diante, o assunto é novamente os EUA".

Sua futura vice é festejada como uma "mulher que faz história": "Para Joe Biden, Kamala Harris como 'companheira de corrida' não deixava de ter riscos, pois na pré-campanha ela o atacou duramente. Agora, eles conquistaram juntos a vitória na eleição presidencial."

Por sua vez o Bild, o tabloide mais vendido do país, estampou a foto do "perdedor da eleição", Trump, com a manchete: "Saída sem dignidade": "Ele perdeu, mas não quer ir embora. O presidente em exercício ainda se aferra ao poder com teorias de conspiração. Não vai lhe adiantar nada."

No Reino Unido, The Independent celebra "Uma nova aurora para os EUA", com uma foto de Biden ao lado de Harris, chamando a atenção para a conquista histórica da primeira mulher não branca a ocupar a vice-presidência americana.

O Sunday Times optou pela foto de uma mulher negra envolvida na bandeira americana, com a chamada: "Joe Dorminhoco acorda os EUA", uma alfinetada no candidato republicano derrotado, que repetidamente usou esse infantil apelido contra seu concorrente.

Em tom humorístico e bem local, o Ayrshire Daily News, lembrou que Trump é proprietário de um campo de golfe na Escócia, com a manchete: "Proprietário de clube de golfe em South Ayrshire perde eleição presidencial de 2020". Já o tabloide Sunday People simplesmente bradou em letras garrafais: "GOD BLESS AMERICA".

O maior diário da Suécia, Dagens Nyheter, intitulou seu editorial: "Vitória agridoce: Biden vai lutar para curar os EUA", considerando a promessa do ex-vice-presidente de retornar à normalidade como uma "missão impossível": "O resultado do pleito mostra um país profundamente dividido, e será difícil para Biden realizar o programa de reforma que prometeu a seu núcleo eleitoral."

Sob a manchete "A eleição acabou, mas o conflito continua", o conservador Svenska Dagbladet alerta para a ameaça representada pelos muitos milhões de americanos qua continuam a acreditar na perigosa retórica trumpista de que a eleição teria sido "roubada" dele.

"A metade do país – pelo menos a metade dos que votaram – pode ter uma insistente sensação de que algo está muito errado, após meses de batalhas e vozes questionando a própria eleição, de que o sistema eleitoral é fraudulento e indigno de confiança."

O Daily Telegraph da Austrália, parte do império midiático do magnata Rupert Murdoch, também focou a esperada resistência por parte do atual presidente, um "petardo de fúria", que "simplesmente não vai aceitar a humilhação de aparentemente ter sido derrotado por um inimigo que percebia como débil e contra o qual nem valia a pena comparecer para lutar".

Como era de esperar, veículos ultraconservadores do Irã como o Resalat celebraram a queda de Trump, um líder que aplicou uma "política de pressão máxima" e sanções esmagadoras contra o país asiático, desde que abandonou o acordo nuclear internacional, em 2018. Ao mesmo tempo, contudo, o jornal expressou pouca simpatia pelo chefe de Estado eleito, Biden, afirmando: "O inimigo sem máscara se foi, o inimigo mascarado chegou."

Já o Vatan-e Emrooz se concentrou nas falsas acusações de fraudes nas urnas e nas apurações, tedo como manchete, antes mesmo do anúncio oficial da vitória de Biden e Harris: "O cemitério da democracia".

De modo semelhante, o diário Al-Akhbar, do governo do Egito dedicou um longo editorial às – infundadas – "violações" de escrutínio fraudulento, advertindo que "está na hora de os Estados Unidos pararem de nos dar lições de democracia".

AV/afp,ots