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Incêndio atinge galpão da Cinemateca Brasileira

30 de julho de 2021

Bombeiros foram deslocados para combater chamas em galpão na Zona Oeste de SP. Governo Bolsonaro foi alvo de ação por abandono intencional da instituição em 2020. Ex-funcionários também alertaram sobre risco de incêndios

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Incêndio  na Cinemateca de São Paulo
Galpão atingido pelo fogo na Vila Leopoldina já havia sido palco de incêndio em 2016Foto: Carla Carniel/REUTERS

Um incêndio atingiu na noite desta quinta-feira (29/07) um depósito da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo. Pelo menos seis viaturas do Corpo de Bombeiros foram deslocadas para o local. Não há vítimas.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, funcionários da Cinemateca afirmaram que o incêndio teria começado com um curto-circuito do ar condicionado. 

De acordo com o jornal, os bombeiros estimam que 400 m2 foram atingidos pelas chamas. Não há informações sobre o estado do acervo no local após o incêndio. O prédio onde houve o incêndio não é a sede principal da Cinemateca, que fica na Vila Clementino, mas um depósito de apoio, que também abriagava filmes.

O local já havia sido palco de um incêndio em fevereiro de 2016. Na ocasião, mil rolos de filmes da década de 1940 - na maioria cinejornais - foram destruídos. O depósito guarda obras registradas em nitrato de celulose, que é inflamável. Em 2020, o local também foi danificado por uma enchente, resultando na destruição de mais rolos de filmes.

Em abril de 2021, ex-funcionários da Cinemateca publicaram um manifesto alertando para o risco de destruição do acervo. "O risco de um novo incêndio é real. O acompanhamento técnico e as demais ações de preservação, inclusive processamento em laboratório, são vitais", informava o documento. O abandono da instituição e o desleixo do governo federal em relação ao acervo também foram criticados internacionalmente. Em setembro de 2020, o diretor do Festival de Cannes chegou a afirmar que a Cinemateca estava "ameaçada pelo atual governo”.

A Cinemateca Brasileira foi palco no ano passado de uma disputa entre a Secretaria Especial da Cultura do governo Bolsonaro, comandada pelo ex-ator Mário Frias, e a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que administrava a instituição. No final de 2019, o governo cancelou o contrato com a associação, mas ao mesmo tempo não abriu uma nova licitação, na prática abandonando a instituição. A Acerp continuou a administrar o acervo por conta própria até julho de 2020. A associação ainda tentou cobrar uma dívida de R$ 12 milhões em valores devidos pela União por serviços prestados entre 2019 e 2020.

Em julho de 2020, o Ministério Público Federal em São Paulo entrou com uma ação contra a União por abandono da Cinemateca Brasileira.

"Desde 31 de dezembro de 2019, o governo federal abandonou, pura e simplesmente, a Cinemateca Brasileira à própria sorte, não a administrando diretamente, nem efetuando repasse financeiro à Acerp ou a alguma entidade similar para a curadoria e a manutenção da Cinemateca", escreveu à época o procurador Gustavo Torres Soares.

Ele ainda listou os problemas na instituição como risco de incêndio, falta de vigilância, atrasos nas contas de água e luz e de salários dos funcionários.

Em agosto de 2020, a Secretaria Nacional de Cultura retomou a instituição. Frias mandou seu atual número dois na secretaria, Helio Ferraz de Oliveira, antigo diretor de um game show apresentado pelo ex-ator, ir ao local em 7 de agosto com a Polícia Federal para assumir o comando da instituição. Houve protesto de ex-funcionários.

Em maio deste ano, o MPF-SP suspendeu a ação contra a União depois que o governo federal informou que iria mostrar ações implementadas pela preservação do patrimônio em um prazo de até 45 dias.

No ano passado, ao demitir Regina Duarte da Secretaria Especial de Cultura, o presidente Jair Bolsonaro chegou a declarar que ela assumiria o comando da Cinemateca. No entanto, a nomeação nunca foi oficializada.

jps (ots)