Indicação de presidente traz alívio e expectativas à Alemanha
20 de fevereiro de 2012O impasse sobre a presidência da Alemanha resolveu-se de forma tão rápida quanto inesperada na noite deste domingo (19/20). Na véspera e antevéspera, os partidos da coalizão de governo – democrata-cristãos (CDU/CSU) e liberais (FDP) – já haviam deliberado durante oito horas sobre o possível candidato à sucessão de Christian Wulff, que apresentara sua renúncia em consequência de diversos escândalos.
No início da tarde de domingo, as lideranças partidárias voltaram a se reunir: após todos os políticos cogitados haverem evitado fazer a indicação de um nome à presidência, o FDP se manifestou por Joachim Gauck, que em 2010 fora preterido em favor Wulff, por pressão dos democrata-cristãos.
No encontro deste domingo, a CDU/CSU – sobretudo a chanceler federal, Angela Merkel, – resistiu mais uma vez com veemência à perspectiva de ter Gauck na chefia de Estado, arriscando uma ruptura dentro da coalizão. Mas, por fim, os principais partidos de oposição, o Social Democrata (SPD) e o Verde, foram convidados para uma reunião na Chancelaria Federal às 20h.
Acuada, a premiê foi obrigada a ceder. Às 21h15 (hora local) foi convocada uma coletiva de imprensa, com a participação de Merkel, do líder social-democrata Sigmar Gabriel e do próprio Gauck, que foi apresentado como candidato único à presidência da Alemanha, necessitando apenas da aprovação formal pela Assembleia Federal.
Reconhecendo erros
Porém, antecipando a decisão, o cabo de guerra entre os partidos da coalizão foi ferrenho, como relata a secretária-geral do SPD, Andrea Nahles: "Não foi nada pacífico. Foi surpreendente o FDP não ter se rendido, e sim a chanceler federal". Para a social-democrata, houve um único motivo para tamanha resistência, por parte da chefe de governo, contra a designação do ex-diretor dos arquivos do serviço secreto da Alemanha comunista: "Isso implicaria a senhora Merkel reconhecer que cometeu um erro, dois anos atrás [nas eleições presidenciais]".
Toda a resistência anterior não impediu Merkel de fazer as honras ao ex-ativista durante a conferência da noite de domingo. Ela afirmou estar certa de que Gauck dará impulsos importantes à população da Alemanha, comunicando uma nova confiança na ordem fundamental da livre democracia. Por sua vez, o oposicionista Sigmar Gabriel não deixou de apontar: "Estou certo que, atualmente, todos lamentam a não eleição de Gauck, dois anos atrás".
Somente o partido A Esquerda, deixado de fora da decisão, criticou a escolha. "É difícil falar de um candidato consensual, quando, de antemão, mais de 5 milhões de eleitores foram excluídos", comentou o presidente do partido, Klaus Ernst, numa alusão ao número de votos alcançado pelos esquerdistas na última eleição. O chefe da bancada parlamentar de A Esquerda, Gregor Gysi, adiantou que seu partido não votará em Gauck.
"Um pouco perplexo"
Natural do Leste Alemão e teólogo de formação, Joachim Gauck, de 72 anos, foi ativista dos direitos civis na antiga Alemanha comunista. Sua eleição pela Assembleia Federal, em março próximo, é tida como certa. Afinal, sua indicação suprapartidária incluiu democrata-cristãos, liberais, social-democratas e verdes.
Durante a divulgação de sua escolha para o cargo de mais alto representante do Estado alemão, Gauck revelou-se "entusiasmado e um pouco perplexo", e se recusou a receber louvores por antecipação. O importante, segundo ele, é a chefe de governo e os outros partidos lhe terem conferido sua confiança, expressando um alto apreço.
O político, de 72 anos, disse que considera sua principal missão fazer com que mais gente volte a "dizer sim para a responsabilidade". Ao mesmo tempo, Joachim Gauck advertiu contra a expectativa de que ele seja "um Super-Homem ou um homem sem defeitos".
AV/dw/dpa/rtr/afpd/afp
Revisão: Marcio Damasceno