Indignação e pressão por apuração após morte de vereadora
15 de março de 2018O assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, do Psol, causou indignação entre autoridades, associações de classe e ONGs e ativistas de direitos humanos nesta quinta-feira (15/03).
Atos públicos em protesto contra o assassinato foram convocados em várias capitais brasileiras. Desde a manhã, uma multidão ocupou a frente da Câmara dos Vereadores do Rio. Entre os gritos dos manifestantes, "Sem hipocrisia, essa polícia mata pobre todo dia".
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O presidente da República, Michel Temer, afirmou que o assassinato de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes, é "inaceitável e inadmissível". Em vídeo, Temer classificou o crime de atentado ao Estado de Direito e à democracia.
O presidente afirmou que o governo vai acompanhar as investigações e quer solucionar o caso no menor prazo possível. O Ministério de Segurança Pública colocou a Polícia Federal à disposição para auxiliar na investigação. O ministro Raul Jungmann já acionou a PF e irá ao Rio junto com o diretor do órgão, Rogério Galloro.
No Twitter, a palavra Marielle estava em segundo lugar entre os trend topics, que indicam os assuntos mais comentados. As hashtags utilizadas eram #NãoFoiAssalto e #MariellePresente.
Esclarecimento do crime
A ONU no Brasil manifestou consternação com o assassinato da ativista dos direitos humanos e disse esperar rigor na investigação do caso e uma breve elucidação, com responsabilização pela autoria do crime. "Marielle era um dos marcos da renovação da participação política das mulheres, diferenciando-se pelo caráter progressista em assuntos sociais no contexto da responsabilidade do Poder Legislativo local", afirmou o ONU.
A Anistia Internacional também pediu uma investigação imediata e rigorosa do assassinato. "Marielle Franco é reconhecida por sua histórica luta por direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das mulheres negras e moradores de favelas e periferias e na denúncia da violência policial", afirmou a Anistia. "Não podem restar dúvidas a respeito do contexto, motivação e autoria do assassinato de Marielle Franco."
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Lamachia, disse que o assassinato de Marielle é "um crime contra toda a sociedade e ofende diretamente os valores do Estado Democrático de Direito. O Conselho Federal da OAB acompanha o caso e espera agilidade na apuração e punição exemplar para os grupos envolvidos".
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, lamentou o assassinato e disse estar acompanhando a investigação com as forças federais.
"Lamento profundamente esse ato de extrema covardia contra a vereadora Marielle Franco, uma mulher admirável, guerreira e atuante, de liderança inequívoca, que tanto lutou contra as desigualdades e violência da qual acabou sendo vítima", disse.
Pelas mulheres e contra a violência
A direção do Flamengo, clube para o qual Marielle torcia, ordenou que a bandeira fosse hasteada a meio mastro na Gávea e afirmou que "é difícil conviver com tantos atos de violência, que matam diariamente, inocentes, mulheres, crianças e homens em todo o país".
A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que "punir os responsáveis e continuar sua luta de Marielle é honrar sua memória". "Marielle tinha plena consciência que, sem as mulheres e os negros, os direitos não são humanos".
O assassinato também causou indignação entre artistas. A cantora Elza Soares usou o Twitter para lamentar a morte de Marielle e se disse chocada e horrorizada: "Das poucas vezes que me falta a voz. Chocada. Horrorizada. Toda morte me mata um pouco. Dessa forma me mata mais. Mulher, negra, lésbica, ativista, defensora dos direitos humanos. Marielle Franco, sua voz ecoará em nós. Gritemos."
A sambista Teresa Cristina desejou conforto aos familiares da vereadora. "Que os familiares de Marielle Franco encontrem algum conforto diante de tamanha brutalidade."
Marielle atuou em organizações da sociedade civil, como o Centro de Ações Solidárias da Maré e a Brasil Foundation. Ela coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Freixo.
Na Câmara Municipal, Marielle presidia a Comissão de Defesa da Mulher. Ela apresentou um projeto para a criação do Dossiê da Mulher Carioca, que tinha o objetivo de fazer com que a prefeitura contabilizasse dados sobre violência de gênero no Rio.
Ela lutou pelo acesso ao aborto na cidade, nos casos previstos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e pela ampliação do número das chamadas Casas de Parto, locais destinados à realização de partos normais.
Na semana passada, Marielle participou ativamente das celebrações do Dia Internacional da Mulher em caminhadas pela Maré, Santa Cruz e no centro do Rio. Ela chegou a questionar no plenário da Câmara a representatividade feminina no legislativo municipal.
"Se este Parlamento é formado apenas por 10%, 13% de mulheres, nós somos a maioria nas ruas. E sendo a maioria nas ruas, somos a força exigindo a dignidade e o respeito das identidades. Infelizmente, o que está colocado aí nos vitima ainda mais", afirmou Marielle no dia 8 de março.
Um dia antes de sua morte, a vereadora divulgou uma mensagem no Twitter condenando a violência policial e a ação da Polícia Militar.
O assassinato de Marielle ocorre em plena intervenção federal no Rio na área de segurança pública, em meio a uma escalada de violência e a uma profunda crise financeira no estado.
AS/abr/ots
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