Indonésia aguarda pedido de desculpas do governo brasileiro
23 de fevereiro de 2015A Indonésia espera um pedido de desculpas do governo brasileiro pelo adiamento da apresentação das credenciais do embaixador indonésio designado para o Brasil e está analisando todas as áreas da cooperação bilateral, declarou nesta segunda-feira (23/02) o porta-voz da diplomacia do país asiático, Armanatha Nasir, à agência de notícias Lusa.
Segundo ele, o pedido de desculpa está subentendido na declaração enviada ao governo brasileiro sobre os passos que este deve tomar para resolver o mal-estar diplomático, criado pelo adiamento da apresentação das credenciais do embaixador indonésio à presidente Dilma Rousseff.
As declarações foram dadas depois de uma reunião no Ministério do Exterior da Indonésia, na qual o embaixador designado para o Brasil, Toto Riyanto, relatou o ocorrido. Ele foi chamado a Jacarta após Dilma ter adiado, na sexta-feira, o recebimento das suas credenciais até a situação das relações diplomáticas entre as duas nações se esclarecer.
"Trata-se um passo muito extraordinário e antidiplomático", comentou Nasir, explicando que Riyanto foi convidado formalmente para apresentar as suas credenciais e, quando já se encontrava no Palácio do Planalto para fazê-lo, foi informado de que isso não aconteceria. Dilma, porém, recebeu as credenciais dos embaixadores de Venezuela, Panamá, El Salvador, Senegal e Grécia.
Em resposta, o governo indonésio enviou uma declaração às autoridades brasileiras, informando que chamou Riyanto de volta "até que o governo do Brasil determine o momento em que as credenciais deverão ser apresentadas" e onde constam todos os "passos que devem ser tomados pelo Brasil", respondeu o porta-voz, sem entrar em mais detalhes.
"Todos os aspectos das nossas relações estão sendo analisados e revistos, bem como o que poderemos fazer para seguir em frente e o que precisa ser feito nos próximos meses, semanas e dias", disse Nasir.
O diretor-geral para os Assuntos Europeus e Americanos no Ministério do Exterior, Dian Triansyah Djani, sublinhou que a Indonésia "é um país amigável", mas que "toda a cooperação deve ser baseada no respeito mútuo e na aceitação da sua soberania".
A diplomacia indonésia convocou o embaixador brasileiro no país, Paulo Soares, logo após a recusa das credenciais, com a intenção de transmitir a sua nota de protesto relativa ao episódio no Planalto, que qualificou de "inaceitável".
Nasir sublinhou que a Indonésia tem explicado ao Brasil, "ao nível técnico, ministerial e até dos chefes de Estado", que a condenação de dois brasileiros à pena de morte é uma questão de "implementação da lei" indonésia. "Esperamos que eles entendam isso", completou o porta-voz.
Em janeiro, a execução de Marco Archer por tráfico de drogas gerou um mal-estar entre os dois países, após Dilma ter falado diretamente com o presidente indonésio, Joko Widodo, e pedido clemência. Outro brasileiro, Rodrigo Gularte, também foi condenado e pode ser fuzilado em breve, mas os familiares esperam que o fato de ele ter sido recentemente diagnosticado com esquizofrenia adie a aplicação da pena.
AS/lusa