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"Indústria antideportação" é a "despalavra" alemã de 2018

15 de janeiro de 2019

Pronunciada por ex-ministro de partido conservador, expressão foi considerada exemplo de como discurso político guinou à direita na Alemanha. Linguistas esperam mais responsabilidade no uso das palavras.

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Imagem mostra mão escrevendo expressão "Anti-Abschiebe-Industrie" sobre tela. "Indústria antideportação" foi eleita "despalavra do ano" na Alemanha
"Anti-Abschiebe-Industrie" foi eleita "despalavra do ano" na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/A. Arnold

A expressão "indústria antideportação" foi escolhida como a pior palavra ou frase na Alemanha em 2018, anunciou um júri de especialistas em linguística nesta terça-feira (15/01), na cidade alemã de Darmstadt.

Em alemão, a chamada "despalavra", selecionada no país desde 1991, é "Anti-Abschiebe-Industrie", e foi pronunciada pelo ex-ministro dos transportes, Alexander Dobrindt, do partido conservador União Social Cristã (CSU), numa entrevista durante a qual ele atacou grupos opostos à política alemã de reenviar à força aos seus países de origem os requerentes de refúgio cujo pedido de acolhimento foi negado.

Em maio deste ano, Dobrindt havia afirmado que queixas legais para impedir esse tipo de deportação eram uma sabotagem coordenada pela "agressiva indústria antideportação" contra o Estado de Direito alemão, colocando em risco a segurança pública.

Segundo os cinco responsáveis pela seleção da "despalavra" entre sugestões enviadas ao colegiado pela população alemã, expressões linguísticas se tornam "despalavras" por serem pronunciadas de forma irrefletida ou com intenções dignas de crítica num contexto público. "A crítica a essas palavras expressa a esperança de mais responsabilidade no agir linguístico", explica o texto no site "Unwort des Jahres" ("despalavra do ano").

De acordo com o júri, formado por especialistas em linguística e um autor e jornalista que trabalham de forma voluntária, as regras sobre o que é "dizível" no país vêm se alterando. A expressão "indústria antideportação", pronunciada por um político de alto escalão como Dobrindt, mostra como "o discurso político guinou à direita, tanto do ponto de vista linguístico quanto do lugar-comum", justificam os especialistas, em comunicado. A expressão "indústria antideportação" foi sugerida dez vezes ao colegiado.

Ao saber que a expressão de sua autoria foi selecionada, Dobrindt destacou que a criou no contexto de um debate, e que "debates requerem expressões exageradas".

Desde que o governo alemão decidiu abrir as fronteiras a milhares de requerentes de refúgio e refugiados em 2015, o país está mergulhado numa discussão sobre migração. Após vários protestos e vitórias de partidos conservadores, o governo endureceu as regras para a entrada no país.

Estas incluem a deportação aos países de origem de requerentes de refúgio cujos apelos foram negados, contanto que os destinos sejam considerados "seguros". Aqueles que se opõem a essa política questionam como um país como o Afeganistão, por exemplo, pode ser considerado seguro.

O júri também criticou outras palavras, como "fundamentalismo de direitos humanos". A expressão "cínica", segundo o júri, foi usada pelo prefeito de Tübingen, Boris Palmer, do Partido Verde, durante debate sobre o resgate emergencial de refugiados no Mar Mediterrâneo "para criticar a postura política daqueles que ele chamou de 'cruzados moralizadores' na política de refugiados", continua o comunicado da "despalavra".

"De forma assustadora, a expressão mostra – assim como um debate pró e contra nos meios de comunicação – que parece ter se tornado discutível, na Alemanha, se pessoas se afogando devem ou não ser salvas."

Outras palavras apontadas pelos especialistas foram "centros-âncora", que apressam processo de solicitantes de refúgio na fronteira e onde refugiados são inicialmente alocados quando chegam à Alemanha. O júri afirma que o uso da palavra foi uma tentativa de fazer uma associação positiva com a palavra "âncora", enquanto se ocultou a difícil tarefa de decidir se se aceita ou não um refugiado na Alemanha.

Inicialmente, os especialistas receberam 508 palavras ou frases consideradas violando a "dignidade humana" e "princípios de democracia". Apenas 15 chegaram à rodada final.

RK/dpa/kna/ots

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