Indústria brasileira de roupas sofre com concorrência asiática
24 de maio de 2013A invasão de importados, principalmente da China, tem prejudicado a indústria têxtil e de confecções no Brasil, que está perdendo mercado para esses produtos. Apesar do aumento de 3,4% nas vendas do segmento de vestuários em 2012, houve uma queda de 4,5% na produção têxtil no país e 10,5% na de confecções.
Essa diferença entre o aumento das vendas e a diminuição na produção foi preenchida por produtos importados. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), as importações no setor em 2011 foram de 6,17 bilhões de dólares. Em 2012, o valor subiu para 6,59 bilhões de dólares.
O cenário é preocupante, uma vez que o setor é o segundo maior empregador da indústria de transformação no país. "A expectativa é que, se as empresas não se mexerem neste ano, o mercado interno vai ser abocanhado em 30% por produtos estrangeiros", diz Daniel de Souza, professor do departamento de Ciências Econômicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
O deficit na balança comercial de têxteis e confecções era de 235 milhões de dólares em 2006. Em 2012, ele fechou em 5,3 bilhões de dólares. "Isso representa um aumento de 1.800%. O produto importado vem tomando o mercado do produto nacional, e cada vez mais rápido", ressalta Souza.
Parque fabril defasado
A perda de competitividade no setor não é um problema novo e é causada pela combinação de uma série de fatores internos e externos, entre eles o real valorizado, que contribuiu para o aumento das importações, o que, por sua vez, desestimulou a indústria a renovar seu parque fabril.
"Durante muitos anos era mais barato importar do que produzir no Brasil e isso se estendeu por longos períodos, até que a indústria não conseguiu investir em máquinas e equipamentos e, assim, não pôde trabalhar suficientemente na sua atualização tecnológica", afirma Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP.
Outros problemas internos apontados por especialistas são a alta carga tributária do país (o que encarece o preço final das roupas), a valorização do real (o que facilita a entrada dos importados), o preço da energia elétrica (uma das mais caras do mundo), a infraestrutura ineficiente do país (que faz com que o transporte da mercadoria seja muito deficiente), a falta de mão de obra especializada e os encargos sociais elevados.
Concorrência asiática
"A evolução do quadro é triste. Nós temos uma dificuldade imensa de manter essa indústria que sempre foi uma indústria competitiva no Brasil. A dificuldade é de mantê-la viva, porque a possibilidade de competirmos em pé de igualdade já foi ultrapassada", afirma Grisi.
Os fatores externos estão relacionados à situação econômica e de produção dos países asiáticos, principalmente da China, principal concorrente no Brasil. Com a crise mundial nos maiores mercados consumidores do mundo, esses países tiveram que procurar outros mercados para sua produção e encontraram no Brasil espaço para vender seus produtos.
A Abit considera a concorrência com a China desleal. Segundo a associação, os chineses mantêm sua moeda artificialmente desvalorizada – cerca de 30% em relação ao real –, além de possuírem cerca de 27 subsídios contestáveis na OMC e não seguirem as regras míninas trabalhistas, previdenciárias e ambientais. A associação argumenta que, se a demanda é mundial, as condições de produção deveriam ser iguais em todos os países.
Mudanças para elevar a competitividade
A indústria nacional tem capacidade de suprir a demanda nacional, mas, para isso, algumas mudanças fundamentais são necessárias. As medidas para aumentar a competitividade da produção nacional envolvem a qualificação da mão de obra, investimentos em infraestrutura, modernização do setor e das leis trabalhistas, redução dos impostos e a queda dos juros.
"Muitas vezes o produto é tributado duas ou três vezes durante a cadeia produtiva. Atualmente a carga tributária é em torno de 18%. Para a indústria ser competitiva, esse imposto precisava ser de no máximo 10% sobre a receita bruta", diz Souza.
A Abit vem organizando uma série de ações para fortalecer a indústria nacional. A associação está negociando com o governo uma reforma tributária para o setor. No ano passado, ela encaminhou um pedido de salvaguarda ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A medida visa limitar a importação de 60 produtos de confecção que correspondem a 82% do total do vestuário importado.
"No momento, é preciso 'estancar' a hemorragia das importações para que o setor têxtil no Brasil não continue a ser depauperado, enquanto não temos uma reforma tributária. Além disso, mesmo com uma reforma, é preciso enquadrar a produção chinesa nos requisitos mínimos que o mundo adota em termos trabalhistas e de meio ambiente", afirma a associação.
Consumidores e redes de lojas de varejo
Segundo a Abit, as confecções importadas já chegam a 20% nas grandes redes de loja. "Ao olhar as etiquetas das roupas vendidas nas grandes redes varejistas, como Renner, C&A, Riachuelo e Marisa, percebe-se uma predominância de produtos chineses", diz Souza.
O consumidor brasileiro não costuma verificar, antes de comprar, onde as peças são produzidas. "A cada ano que passa, os consumidores desinformados compram mais e mais produtos importados. Infelizmente não há propaganda na mídia das empresas do Brasil para inibir esses produtos importados, até porque eles ganham e lucram muito com os produtos asiáticos", afirma o Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Blumenau, Gaspar e Indaial (Sintrafite).
A C&A, a Hering, a Riachuelo e a Lojas Renner foram contatadas, mas não quiseram comentar o assunto.