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Iniciativa privada investe cada vez mais em cultura

(sv)8 de agosto de 2002

Siemens e Eon são alguns exemplos de conglomerados que patrocinam um número cada vez maior de eventos culturais. Algumas empresas vão mais longe, tentando delegar a seus próprios produtos um caráter de obra de arte.

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Obra de Miró exposta no Kunstpalast de Düsseldorf, museu mantido por parceira público-privadaFoto: AP

O mecenato é uma prática que persiste há milhares de anos, tendo suas origens entre os romanos. Aos poucos, no entanto, a arte foi se libertando das amarras dos mecenas, tendo trilhado seu caminho independente no correr dos últimos séculos. Quanto mais o mercado de arte se estabelecia, maior tornava-se o poder de criação do artista.

Imagem polida -

Na Alemanha, empresas privadas investem anualmente mais de 250 milhões de euros em cultura, exercendo o que se pode chamar de um "mecenato moderno". A política de patrocínio parte do princípio de que a arte deverá trazer não só benefícios fiscais, através de leis de incentivo, mas também uma melhor divulgação da imagem da empresa. A maior parte dos patrocínios no país é feita por multinacionais, que promovem eventos culturais, freqüentemente com o intuito de "polir sua imagem" perante o público.

A mostra "Arte & Economia", organizada há alguns meses em Hamburgo, procurou documentar o paradoxo das relações entre o capital e as artes. Raimund Beck, um dos curadores, acredita que a iniciativa privada procura participar de eventos culturais "basicamente por querer passar uma imagem moderna, dinâmica e positiva do empresariado".

Idéias próprias –

No entanto, é possível observar, nos últimos anos, um uso cada vez menor da arte como mero veículo de renovação da imagem de uma empresa. Conglomerados alemães deram início a ambiciosos projetos culturais, que vão além da mera tentativa de melhorar a imagem perante a opinião pública.

O Siemens Arts Program, por exemplo, é um departamento criado dentro da multinacional alemã, que cuida especialmente de projetos relacionados à arte e cultura, como a curadoria de exposições e a organização de eventos ligados à dança e à música.

"Isso deve possibilitar um sucesso completamente à parte da esfera racional empresarial, provando que a Siemens pretende pensar além dos limites da economia de mercado", afirma Dirk Luckow, diretor de projetos na área de artes plásticas. Através do programa especial, a empresa acaba não se limitando à reação perante novas idéias que surgem no circuito cultural, mas procura criar tendências, quase que tomando o lugar do artista.

Produção como arte -

A empresa de médio porte Erco, de Lüdenscheidt, deu um passo adiante: arquitetos criaram aqui uma divisória de vidro, que permite ao transeunte observar parte do processo de produção. Assim, o interior da fábrica adquire um caráter de obra de arte, passando a ser visível para o "espectador". Também a fábrica da Volkswagen em Dresden encena o processo de montagem de automóveis de luxo como um espetáculo para quem passa por perto.

Críticos afirmam que a arte criada com tal proximidadade do empresariado não pode manter sua independência. A discussão tornou-se mais acirrada na Alemanha, quando, há alguns meses, a companhia de energia Eon deu início a uma cooperação com o Museu Kunstpalast, de Düsseldorf.

Debates sobre a instituição, que não poderia mais sobreviver apenas com recursos públicos, levaram à idéia de uma parceria, criando então o primeiro museu financiado pela iniciativa privada na Alemanha. "No regulamento da parceria está muito claro: não há influência direta da empresa sobre nosso programa de artes", assegura Bernd Kaufmann, diretor do departamento de marketing do museu.

Ironia -

Christian Jankowsky, videoartista berlinense, procura em seu trabalho, através da ironia, quebrar as relações de dependência existentes entre a arte e seus "mecenas modernos". Em seu vídeo Point of Sale (Ponto de Venda), "vê-se de um lado um consultor, que organiza a empresa de forma rígida, e do outro duas projeções: a da dona de uma galeria de arte e a de um vendedor de produtos eletrônicos. Eu pedi ao consultor que passasse a eles os catálogos de perguntas - que ele sempre distribui a seus clientes - mas troquei os papéis. A dona da galeria fala sobre eletrônicos e o vendedor dá dicas de como vender melhor a arte", explica Jankowsky, provando que a obra de arte na era da reprodutibilidade técnica tomou rumos ainda mais ousados do que os imaginados por Walter Benjamin.