Internet e voto por carta, portas abertas para fraude
20 de setembro de 2002A última semana da campanha eleitoral na Alemanha foi abalada por denúncias de comércio de votos pela internet. Em Frankfurt, o Ministério Público investiga um anúncio publicado no jornal Frankfurter Rundschau no fim de agosto. "Acadêmico oferece seu voto em troca de emprego", prometia o autor ainda não identificado pela Promotoria, que espera um mandado da Justiça para cobrar do diário a identificação do anunciante.
O site de leilões online Ebay, por sua vez, confirma ter encontrado em seu sistema mais de 15 pessoas à espera de ofertas por seus votos. A empresa afirma estar atenta e eliminando imediatamente toda oferta neste sentido em seu site.
Gozação com quem?
– O caso, porém, que mais espaço ganhou na imprensa foi o do site Cashvote.com, de propriedade do "Progresso – Partido do Extremo Centro", que se diz registrado desde 1999. A Comissão Eleitoral Federal afirma, no entanto, desconhecer a organização. O site foi ao ar no dia 13, oferecendo-se para intermediar o comércio de votos. Um pacote com mil votos custaria 6250 euros. O Cashvote enviou e-mail a todos os deputados federais do país, além de sindicatos e veículos de comunicação.Diante da abertura de inquérito no Ministério Público, o site interrompeu suas atividades dois dias depois, veiculando em sua página um comunicado, segundo o qual sua iniciativa tinha caráter "satírico". O Partido do Extremo Centro teria apenas o propósito de "pacificamente reativar as células nervosas" da sociedade, denunciando a "cada vez mais forte ligação entre dinheiro e poder em nosso sistema político" e estimulando os cidadãos a lutarem contra "a corrosão da democracia pela cobiça do poder e do dinheiro".
Em nenhum momento o Cashvote teria comprado, vendido ou intermediado o comércio de votos, nem mesmo tido esta intenção. Qualquer dado divulgado neste sentido seria "mera invenção". Os autores do site declaram ter a esperança de, em negociação com o Ministério Público de Kiel, encontrar uma forma para que a página volte ao ar. E pedem desculpas àqueles que "por absoluta falta de humor" se irritaram com o site.
Alemães dispostos a vender voto
– A Comissão Eleitoral Federal, entretanto, leva a sério todos estes casos. "Acho iniciativas assim uma forma perversa e altamente criminosa de ferir nossa democracia", afirma Johann Hahlen, coordenador nacional das eleições. De acordo com o Código Penal alemão, a compra, venda ou simples oferta de venda de votos pode ser punida com até cinco anos de prisão ou multa.Além de complicar-se com a Justiça, o Cashvote afirma ter tido, em seus parcos dois dias de vida online, outra má experiência. "Também nós ficamos surpresos e incomodados com o fato de que, aparentemente, há muitas cidadãs e cidadãos dispostos a dar seu voto ao partido que lhes prometer mais por ele", consta no comunicado do Partido do Extremo Centro, insinuando ter recebido inúmeros contatos de gente a fim de vender seu voto.
Voto por carta, o ponto fraco
– Na prática, isto não é tão difícil, graças ao mecanismo de voto por carta adotado na Alemanha. O eleitor que de antemão sabe que não poderá comparecer a sua seção eleitoral no dia do pleito pode requerer previamente uma cédula para votar pelo correio. Geralmente recorrem ao dispositivo aqueles que estarão ausentes de seu domicílio, assim como idosos e doentes com dificuldades de locomoção.São votos, no entanto, sem a garantia de terem sido dados sob sigilo, nem mesmo oriundos de quem encomendou a cédula. "O voto por carta é nosso ponto fraco", admite Helga Block, coordenadora das eleições na Renânia do Norte-Vestfália. Para ela, as tentativas de venda de votos este ano atingiram "uma dimensão sem precedentes de frieza e atrevimento".
Precedente do outro lado do Atlântico
– Os Estados Unidos também adotam o voto por carta, cuja legitimidade ficou ainda mais em xeque com o surgimento da internet. Nas eleições presidenciais de 2000, o site Voteauction leiloou votos também sob o satírico pretexto de querer "aproximar ainda mais capitalismo e democracia". Um voto no Arkansas chegou a ser cotado a 24,19 dólares. O pagamento ao eleitor só era efetuado após este enviar para o comprador, ou melhor, o corruptor sua cédula de voto postal.Na época, um dos criadores do site (um estudante de Nova York) garantiu não ter ganho um centavo com a intermediação, mas não negou que os negócios se concretizaram. Os iniciadores só teriam recebido "algum dinheiro" ao vender o Voteauction para um empresário austríaco, que transferiu o servidor do site para a Bulgária, onde está melhor protegido da Justiça americana.