Extrema direita
12 de novembro de 2011Durante as investigações dos incêndios de um trailer e de uma casa, a polícia alemã reuniu provas de que extremistas de direita estariam por trás do assassinato de uma policial, em 2007, na cidade de Heilbronn, no sul do país, assim como dos assim chamados "assassinatos do döner" – alusão ao sanduíche tipicamente turco vendido nas lanchonetes dos comerciantes mortos.
Por esse motivo, a Procuradoria Geral assumiu as investigações na última sexta-feira (11/11): "Há indícios suficientes de que as mortes podem ser creditadas a grupos de extrema direita", declarou oficialmente o órgão, que só se encarrega de casos envolvendo a proteção do Estado, ou seja, crimes cometidos por motivos políticos ou razões terroristas.
Crimes semelhantes
Segundo os investigadores, a série de assassinatos entre 2000 e 2006 seguiu sempre o mesmo modelo: o criminoso se aproximou em plena luz do dia de cada uma das vítimas – oito proprietários de lanchonetes turcos e de um pequeno empresário grego –, deu-lhes um tiro à queima-roupa na cabeça, e desapareceu em seguida, sem deixar rastros.
Em 25 de abril de 2007 ocorreu na cidade de Heilbronn um crime semelhante, quando a policial Michele K., de 22 anos, foi morta, também à queima-roupa e no meio do dia, durante uma festa ao ar livre. Seu colega de ronda, na época com 24 anos, ficou gravemente ferido, permanecendo várias semanas em coma.
As armas de serviço dos dois policiais foram encontradas há uma semana num trailer incendiado na cidade de Eisenach, na Turíngia. Dois homens acusados de diversos assaltos a bancos se suicidaram dentro do trailer, onde também se encontravam outros objetos pertencentes aos policiais mortos em 2007.
No mesmo dia, foi incendiada a casa em Zwickau onde os presumíveis assaltantes de banco viviam em companhia de Beate Z., a qual entregou-se à polícia poucos dias depois, na cidade de Jena. Nas ruínas da casa, foi encontrada a arma com a qual haviam sido assassinados os donos das lanchonetes de döner.
Motivação de extrema direita
Segundo as informações recolhidas até agora, os dois homens mortos, de 34 e 38 anos, e sua companheira Beate Z. mantinham ligações com grupos de extrema direita desde o fim dos anos 1990. Além disso, na casa de Zwickau encontraram-se provas de que os crimes tenham sido cometidos por motivação neonazistas.
A Procuradoria Geral parte do princípio de que a mulher pertence a uma organização terrorista. Ela é acusada de assassinato, tentativa de assassinato e incêndio proposital. Outros suspeitos ligados a grupos de extrema direita são suspeitos de envolvimento no caso.
Os homicídios dos donos de lanchonetes turcas deixaram rastros de sangue por toda a Alemanha: três ocorreram em Nurembergue, dois em Munique e um em Hamburgo, Rostock, Dortmund e Kassel, respectivamente. Todos os crimes foram cometidos com a mesma arma.
Destruição de provas?
Beate Z. encontra-se detida, e até agora se mantém em silêncio no tocante às acusações. A polícia supõe que a casa onde vivia com seus dois comparsas foi incendiada a fim de eliminar provas. É de conhecimento, contudo, que ela e os dois mortos mantinham ligações com a cena neonazista no estado da Turíngia.
Na década de 1990, os três participaram ativamente do movimento de extrema direita Thüringer Heimatschutz (Defesa da Pátria Turíngia), embora o tenham abandonado posteriormente. Em 1998, descobriu-se que estavam envolvidos na construção de bombas, mas em seguida o serviço secreto alemão os perdeu de vista.
Restam, contudo, algumas questões em aberto: por que os dois homens cometeram suicídio depois dos bem-sucedidos assaltos a banco? Por que sua cúmplice Beate Z. se entregou à polícia? E acima de tudo: quem se encontra por trás dos três?
O serviço secreto da Turíngia e também o Departamento Estadual da Saxônia já declararam que os três envolvidos não eram informantes da cena neonazista a serviço do Estado. Permanece desconhecido seu paradeiro desde que entraram para a clandestinidade, em 1998.
Segundo estimativas do político social-cristão Hans-Peter Uhl, agora que se sabe o que se esconde por trás da série de assassinatos, ela pode se tornar um caso de relevância para as autoridades do país. "Não se pode excluir a possibilidade de que isso se transforme num problema de proteção à Constituição", afirmou Uhl na edição de sábado do jornal Mitteldeutsche Zeitung. É possível que o serviço secreto tenha sabido mais sobre as razões que se escondiam por trás dos crimes do que se supõe. "Tenho a impressão de que [o desenrolar do caso] ainda vai ficar bem interessante", concluiu o político.
Autora: Eleonore Uhlich (sv)
Revisão: Augusto Valente