Inércia do governo da Nigéria revolta pais de meninas sequestradas
9 de maio de 2014As mães e pais das estudantes nigerianas sequestradas estão vivendo o pior pesadelo que eles podem imaginar: não sabem o que se passa com suas filhas nem que destino lhes darão os terroristas islâmicos do grupo Boko Haram. "Não sabemos onde elas estão nem o que estão fazendo com elas", disse um pai à DW.
Sua filha é uma das meninas raptadas há três semanas de seus dormitórios numa escola em Chibok, no estado de Borno, no nordeste do país. Ele comenta que alguns pais estão sem comer de tanta preocupação. "Queremos nossas meninas de volta agora!", grita uma mãe, desesperada.
Não só na Nigéria, mas em todo o mundo, o governo nigeriano vem sendo criticado por sua atuação no caso. O incidente provocou protestos tanto em diversas cidades do país quanto em capitais como Washington e Londres.
Venda como escravas
Algumas jovens conseguiram escapar de seus sequestradores, entre elas Amina (nome fictício). Ela conta que conseguiu fugir à noite, quando o caminhão em que ela e os sequestradores viajavam enguiçou no meio do caminho.
Ela pulou do veículo, junto com outras meninas, e correu através de uma floresta escura, no meio da noite, até encontrar um residente local. "Ele nos mostrou o caminho para a nossa aldeia", recorda Amina.
O Boko Haram divulgou uma mensagem de vídeo, anunciando que planeja vender as mais de 200 reféns como escravas. Depois disso, os pais apelaram para que o governo faça todo o possível para libertá-las.
"Por favor! Imploramos ao governo da Nigéria, imploramos ao nosso Exército, de que somos dependentes, por favor, façam alguma coisa!", apela um dos pais. A ameaça dos radicais islâmicos de vender as estudantes menores de idade como escravas sugere a intenção do grupo de forçá-las ao casamento.
Vitimas traumatizadas
A estudante Naomi (nome fictício), de 14 anos, viveu no ano passado uma situação semelhante à das meninas sequestradas agora. Ela foi raptada pelo Boko Haram, junto com outras três estudantes, e forçada a se casar. Os extremistas respondiam com escárnio aos protestos das meninas.
"Nos dizíamos a eles que éramos jovens demais e que não queríamos nos casar", relata Naomi. "Um deles apontou para uma menina de 7 anos e disse: 'Está vendo essa garota aqui? Eu já me casei com ela.' Aí eu também tive que me casar."
Naomi afirma que foi terrível o casamento forçado com um terrorista que não dava valor algum à vida humana. Ela chorou dias a fio, até que seu algoz a ameaçou. "Desde que você está aqui, não para de chorar, nunca fica calada. Se não se comportar, a gente vai te decapitar. Então, fique quieta.'" Depois de três semanas de cativeiro, Naomi conseguiu fugir durante a noite.
As meninas sequestradas enfrentam agora uma experiência traumática semelhante. Mas o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, só se manifestou publicamente sobre o caso três semanas após o rapto. No meio disso tudo, sua esposa, Patience Jonathan, ainda aumentou a controvérsia ao mandar prender uma líder dos protestos.
A impressão é que a primeira dama e outras pessoas próximas ao presidente querem silenciar os protestos que denunciam sua incapacidade de lidar com a situação. Muitos nigerianos acreditam que Jonathan está mais interessado na sua reeleição do que no resgate das meninas sequestradas.