Renúncia de Berlusconi
12 de novembro de 2011Há 17 anos, Silvio Berlusconi iniciava sua carreira política na Itália, e se manteve no poder por longo tempo. Neste sábado (12/11) essa trajetória política chegou ao fim, com a oficialização de sua renúncia perante o chefe de Estado italiano, presidente Giorgio Napolitano.
Berlusconi havia anunciado que renunciaria tão logo o Senado e a Câmara aprovassem o pacote de medidas econômicas proposto pela União Europeia. Após seu afastamento, o governo sucessor terá como tarefa principal, encerrar a grave crise financeira que assola o país.
Questão meramente formal
Para que a nova lei de estabilidade financeira pudesse entrar em vigor, ela teve que ser aprovada pela Câmara dos Deputados. A votação aconteceu neste sábado, com o aval de 380 votantes (26 foram contra e dois se abstiveram). A Câmara italiana possui um total de 630 deputados.
Na véspera, sob pressão constante de outros países da UE, o sinal verde já havia sido dado pelo Senado italiano, que aprovou a lei com 156 votos, 12 senadores foram contra e um se absteve. A maioria dos políticos da oposição não participou da votação.
O pacote de reformas prevê, entre outros pontos, a venda de propriedades do Estado com o objetivo de quitar as dívidas públicas, assim como medidas de desburocratização e eliminação de obstáculos à concorrência. Além disso, as empresas que oferecerem trabalho a jovens desempregados deverão receber benefícios fiscais. A idade mínima para aposentadoria passará para 67 anos a partir de 2026 e 70 anos a partir de 2050.
Monti: possível sucessor
Após a renúncia, o presidente Napolitano reuniu-se com representantes dos principais partidos políticos, a fim de discutir o nome do sucessor de Berlusconi. Há fortes indícios de que o ex-comissário da UE para assuntos de concorrência Mario Monti poderá assumir o posto de primeiro-ministro. Acredita-se que o economista de renome internacional seria a pessoa mais indicada para implementar as medidas de contenção e as reformas necessárias.
Aos 68 anos, Monti conta com o apoio do maior partido de oposição, o PD, e da maioria dos partidos de centro. Ainda não se sabe que tipo de retaguarda Monti receberá do Povo da Liberdade (PdL), partido de Berlusconi. A diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, afirmou apreciar muito Monti, com quem teria "um diálogo constante e frutífero".
A mera possibilidade de que Monti possa assumir o poder na Itália já contribuiu para acalmar os mercados financeiros nesta sexta-feira, com uma baixa imediata das taxas de risco para os títulos públicos italianos. A principal tarefa do novo governo será reconquistar a confiança dos mercados, trazendo os juros de volta a um patamar aceitável. Só até o fim deste ano, a Itália terá que refinanciar dívidas em torno de 60 bilhões de euros; até outubro de 2012, serão quase 326 bilhões de euros. Para isso, o país precisa do dinheiro vivo dos investidores. Cada ponto percentual a mais de juros custará mais alguns bilhões de euros ao país já altamente endividado.
"Último dos moicanos"
As dívidas públicas da Itália, terceira maior economia europeia, são as maiores da zona do euro, depois da Grécia, correspondendo a 120% do PIB do país. Seu déficit público é de 1,9 trilhão de euros: um volume tão alto que a UE não conseguiria salvar o país em caso de falência pública.
A UE já apontou a necessidade de aplicação de outras medidas, a fim de reequilibrar o orçamento do país até 2013, como prometido. A Alemanha também pressiona o governo italiano. Segundo Steffen Seibert, porta-voz de Berlim, seu país espera "que a Itália apresente uma conduta clara, com medidas verificáveis e concretas, que possam claramente reaver a estabilidade do pais e sobretudo consolidar o orçamento".
Vários governos da Europa acreditam que, sem Berlusconi, a Itália voltará a prosperar. Porém o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, mostrou-se cético. Ele descreveu Berlusconi como um dos "últimos moicanos", que, apesar de seu "comportamento escandaloso perante as mulheres", ainda seria "um dos maiores políticos da Europa", do qual os italianos ainda irão sentir saudades.
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Revisão: Augusto Valente