Jihadistas alemães costumam voltar desiludidos após combates na Síria
28 de outubro de 2013Na perspectiva de um jihadista, existem muitos motivos para ir à Síria. Os autoproclamados "guerreiros de Deus" podem lutar contra um líder secular e, portanto, "infiel". Eles também podem participar de uma batalha entre sunitas e xiitas – e muitos acreditam que ela poderá definir a supremacia de um desses grupos no Oriente Médio. Por fim, há a possibilidade de contribuir para o estabelecimento de um Estado islâmico a partir das ruínas da Síria.
É com esses objetivos em mente que muitos extremistas sunitas estrangeiros vão lutar em território sírio. Um estudo publicado pelo instituto de pesquisa britânico Janes calcula que eles são em torno de 10 mil. Eles simpatizam com a ideologia de uma jihad mundial, promovida pela Al Qaeda. Além deles, o estudo fala em mais 30 mil ou até 35 mil islamistas cujo objetivo principal é derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad.
De acordo com uma reportagem do semanário alemão Der Spiegel, o serviço de inteligência da Alemanha – o Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV) – estima que existam 200 jihadistas alemães lutando na Síria.
A maioria deles vem do estado da Renânia do Norte-Vestfália, mas muitos são provenientes de Hessen, Berlim, Baviera e Hamburgo. Mais da metade possui a cidadania alemã. A maior parte se encontra nos chamados "acampamentos alemães", que abrigam principalmente os jihadistas provenientes da Alemanha.
Muita vontade e pouco treinamento
É difícil avaliar o papel dos voluntários alemães na Síria. Uma coisa, porém, é certa: eles estão num campo de batalha ao lado de guerreiros experientes e altamente profissionais, diz o cientista político Alexander Hamann, da Universidade RWTH de Aachen.
Alguns dos jihadistas internacionais que foram lutar na Síria já passaram pela Bósnia, pelo Afeganistão e pelo Iraque, o que significa que possuem experiências e habilidades bem superiores às dos islamistas alemães, que mais cedo ou mais tarde acabam se dando conta de que a situação é pesada demais para eles. "São jovens mais ou menos 'idealistas', provenientes de uma região pacífica que não guarda nenhuma semelhança com a situação atual da Síria", explica Hamann.
Sem experiência e sem o treinamento adequado, eles costumam ser de pouca utilidade nas frentes de batalha. "Sabemos disso pelo que já aconteceu no Iraque e nos territórios palestinos", observa o cientista político. "Jovens europeus ocidentais eram rejeitados pelos mais experientes por não possuirem as habilidades necessárias para o combate."
Privações e medo
Mas os islamistas alemães também podem ser úteis. Os grupos jihadistas são suficientemente profissionais para empregar seus afiliados de acordo com suas capacidades. Assim, alguns cuidam das finanças enquanto outros trabalham com mídia, por exemplo usando a internet para recrutar novos membros.
Novos membros são muito importante, diz Hamann, já que campanhas como a da Síria demandam um grande número de ajudantes, mesmo que sem treinamento. "E, numa situação como essa, pouco importa se todos retornam ao final do dia ou se alguns ficam no campo de batalha", afirma.
Sem passaporte ou dinheiro
Muitos dos jihadistas alemães não falam árabe. Por isso, não conseguem se comunicar com seus companheiros, o que os deixa isolados. Além disso, eles têm que se adaptar a acomodações ruins e comida de má qualidade, sem contar as doenças. E eles ainda temem por suas vidas, até porque justamente os campos de treinamento são alvos frequentes de ataques do outro lado.
É difícil saber como tais experiências afetam aqueles que retornam à Alemanha. Também não se sabe ao certo que tipo de ameaça eles podem representar. Hamann explica que não é possível nem mesmo saber o que eles aprenderam na Síria. "É impossível avaliar quais habilidades eles adquiriram na Síria ou se voltam de lá motivados", explica Hamann.
Mas é certo que muitos jihadistas em atividade na Síria ou em outras regiões não necessariamente retornam à Alemanha como terroristas bem treinados e comprometidos com a guerra santa. De acordo com um estudo do BfV, muitos até mesmo ficam desiludidos e desmoralizados após as experiências numa zona de guerra.
Esse seria um dos motivos pelos quais eles geralmente desejam voltar logo para a Alemanha, o que não é fácil. Muitas vezes eles não têm visto de permanência nos países em que estão, nem passaporte e, geralmente, pouco ou nenhum dinheiro. Com frequência, a única alternativa que resta é entrar em contato com a embaixada alemã.