Como Paris tenta ser mais verde nos Jogos Olímpicos de 2024
2 de janeiro de 2024"As expectativas para Paris são altas – em todos os aspectos", disse o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) , Thomas Bach. Os Jogos Olímpicos de 2024, de 26 de julho a 11 de agosto, e os Jogos Paralímpicos, de 28 de agosto a 8 de setembro, "devem ser sustentáveis e inclusivos e defender a igualdade de gênero".
Além disso, segundo Bach, a cidade-sede não deve servir apenas como pano de fundo, mas tornar-se parte integrante dos Jogos. A cerimônia de abertura, por exemplo, não será realizada no Estádio Olímpico, mas em um desfile de barcos no rio Sena, dia 26 de julho, com um público esperado de mais de 400 mil pessoas.
Quais são os critérios parisienses de sustentabilidade?
Os organizadores dos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris estão planejando reduzir drasticamente as emissões de CO2 em comparação aos eventos anteriores. Se eles conseguirem, cerca de 1,58 milhão de toneladas de CO2 serão emitidas. Uma meta ambiciosa, se comparada a Londres em 2012 (3,4 milhões) e ao Rio de Janeiro 2016 (3,6 milhões).
A redução da pegada de carbono também passa por trajetos mais curtos. A maioria dos atletas deve ser capaz de chegar às instalações esportivas, localizadas dentro de um raio de apenas dez quilômetros, em apenas trinta minutos. Não há praticamente nenhuma construção nova, pois 95% dos locais já existem. Por exemplo, o estádio Parc des Princes, onde o Paris St Germain, campeão francês de futebol, normalmente joga, recebe algumas das partidas de futebol, o estádio Roland Garros (onde se realiza o importante French Open) recebe as partidas de tênis e o Stade de France recebe o rúgbi e o atletismo.
E quais são as medidas para a proteção climática?
Paris se comprometeu com ações importantes para a revitalização da natureza da cidade. Uma etapa é a limpeza do Sena, onde vão ser realizadas as provas de natação em águas abertas e triatlo. Após os Jogos Olímpicos, a ideia é que turistas e moradores possam nadar no Sena.
A maior parte da energia para os Jogos será proveniente de fontes renováveis, como energia eólica e solar. O deslocamento até os locais dos jogos será facilitado pela promoção de meios de transporte menos poluentes, como metrô e bicicletas. Intencionalmente, não foram planejados novos estacionamentos ao redor das instalações esportivas.
A alimentação de atletas, autoridades, voluntários e público durante os Jogos terá como foco uma dieta sustentável, com pouca carne e com produtos locais e sazonais, para reduzir o desperdício de alimentos. A quantidade de plástico de uso único deve ser reduzida pela metade com o uso de garrafas reutilizáveis e a instalação de bebedouros.
A construção da Vila Olímpica no departamento de Seine-Saint-Denis gerou 47% menos CO2 do que com os métodos convencionais e dispensou a instalação de ar-condicionado.
Um ano antes do início dos Jogos, Paris também começou a abolir os estacionamentos da cidade para transformar o espaço em áreas verdes. Novas ciclovias, linhas de metrôs e muros antirruído foram construídos, e edifícios foram reformados com técnicas mais sustentáveis. A cidade também pretende adotar novos limites de velocidade em suas vias e proibir ônibus no centro.
E a segurança para os Jogos de Paris?
De acordo com um porta-voz da prefeitura, Paris está esperando cerca de dez milhões de visitantes durante os Jogos. Devido ao histórico de ataques terroristas de 2015 e o caos na final da Liga dos Campeões de 2002, a Assembleia Nacional aprovou leis especiais que se aplicarão durante os Jogos Olímpicos e pelos meses seguintes ao evento.
Entre outras medidas, haveráo uso de militares e vigilância por vídeo controlada por inteligência artificial. Esse tipo de tecnologia de vigilância algorítmica será usado pela primeira vez na União Europeia.
Como funciona a vigilância por vídeo com controle de IA?
Câmeras e drones estarão programados para reconhecer movimentos suspeitos de indivíduos ou grandes grupos de pessoas e alertar a polícia. Elas podem ser instaladas não apenas nas ruas, mas também nos estádios e no transporte público. Em geral, o tráfego motorizado será severamente restringido durante os jogos e algumas estações de metrô serão temporariamente fechadas.
De acordo com estimativas de especialistas, cerca de 30 mil policiais e agentes e 17 mil seguranças privados estarão mobilizados em Paris todos os dias durante os Jogos Olímpicos. Estima-se que mais 15 mil soldados sejam recrutados para a segurança, dos quais cerca de 5 mil montarão um grande acampamento em uma área aberta no leste de Paris.
O chefe da polícia de Paris também anunciou medidas drásticas de segurança para os residentes. As áreas ao redor dos locais das Olimpíadas serão de acesso restrito e só será possível entrar com um código QR específico. O intuito é evitar, por exemplo, que se repita o ataque com faca na Torre Eiffel ocorrido no início de dezembro. Além disso, os residentes devem registrar todos os visitantes que quiserem assistir aos eventos de suas varandas, janelas e telhados ou até mesmo de suas casas-barcos flutuantes.
Críticas aos organizadores
Hamid Ouidir, representante dos residentes da Vila Olímpica em St. Denis, teme consequências econômicas para ele e seus vizinhos e uma deterioração da qualidade do ar devido ao tráfego adicional. Ele também não acredita que haverá mais apartamentos disponíveis após os Jogos Olímpicos. "Os apartamentos serão comprados principalmente por pessoas de fora – os moradores locais não podem pagar apartamentos de cerca de 7 mil euros por metro quadrado", disse ele à DW.
O anúncio feito pelas autoridades locais de que as passagens de metrô custarão quase o dobro do preço durante os Jogos também não agradou. O transporte público em Paris já é considerado sobrecarregado. A linha B, em particular, que vai para o departamento de Seine-Saint-Denis, onde vários eventos serão realizados, está causando dores de cabeça para os organizadores.
Atletas e dirigentes reclamam da falta de ar-condicionado na Vila Olímpica, tendo em vista uma possível onda de calor. Mesmo que os quartos sejam seis graus mais frios do que a temperatura externa, conforme prometido, isso não será aceitável a 40 graus.
O conceito de segurança também não vem agradando os políticos, que temem pela liberdade dos cidadãos, até mesmo depois dos Jogos. Ativistas de direitos humanos, como a Anistia Internacional, falam de "medidas drásticas de vigilância em massa", veem o direito à privacidade e à reunião pacífica comprometido e temem que o próximo passo seja a introdução do reconhecimento facial, como na Rússia ou na China.