Juventude busca alternativas de ação política
19 de agosto de 2012Para muitos jovens da Alemanha, a palavra do rapper Bushido vale muito. Nos últimos anos, ele ascendeu a ídolo de toda uma geração. Os temas de suas canções são narcotráfico, prostituição, violência armada. Com frequência, também fala dos problemas dos bairros berlinenses com alta porcentagem de estrangeiros.
Sobre política, os fãs tinham ouvido Bushido falar bem pouco. Pelo contrário, ele provoca com a misoginia e homofobia de suas letras e foi até condenado por uma pancadaria e diversos delitos ligados a drogas.
"Playground da política"
Assim, é compreensível o espanto causado pela notícia de que o escandaloso rapper de 33 anos iria fazer um estágio no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão. O deputado Christian von Stetten, da conservadora União Democrata Cristã (CDU), o convidara a dar uma olhada no mundo da política.
Anis Mohamed Youssef Ferchichi – nome verdadeiro do alemão de origem tunisiana nascido em Bonn, num meio socialmente desfavorecido – aceitou de bom grado e transformou o Bundestag "numa espécie de playground de aventuras", como ele próprio define.
Pauta parlamentar, sessões das comissões, declaração governamental: os conceitos sobre os quais o estagiário rapper aprendeu no parlamento também são um mundo estranho para grande parte de seu público, formado sobretudo por jovens entre 14 e 19 anos de idade.
Interesse político
Um estudo da Central Federal de Formação Política (BpB, na sigla em alemão) e do Instituto Sinus de Heidelberg constatou que, cada vez mais, justamente esse grupo quase ignora instituições tão importantes para a democracia representativa como partidos políticos e o parlamento.
Em entrevista à Deutsche Welle, o especialista em educação Klaus Hurrelmann, um dos autores do recente estudo, comenta: "Uma minoria dos jovens do país – hoje em dia, já quase 20% – guarda uma enorme distância em relação aos partidos, colocando, inclusive, em questão a democracia, como forma de Estado e de vida".
Seu colega Marc Calmbach, do Instituto Sinus, constata a confluência de dois fatores: jovens socialmente desfavorecidos têm pouco acesso à educação e, cada vez mais, também se distanciam automaticamente da política.
"Só quando astros como Bushido se ocupam com os problemas deles e os articulam numa linguagem que entendam, aí os jovens ainda escutam com atenção." Esse é também o motivo por que a estágio do rapper no Bundestag despertou tanto interesse entre os fãs do cantor, na opinião de Calmbach.
Novas formas de politização
O pesquisador Hurrelmann aponta uma outra conclusão do estudo: hoje em dia, demonstrar interesse político e ser politicamente ativo também significa, automaticamente, ter boa formação, possuir personalidade forte e poder se apresentar de forma soberana em sociedade.
Um exemplo é o estudante de 19 anos Hao Vu, de Bernkastel-Kues, no estado da Renânia-Palatinado. Ele chegou à política através do trabalho como voluntário no corpo de bombeiros. Filiado ao Partido Social Democrático (SPD), ele participa de todas as sessões estaduais e recentemente entrou para o parlamento jovem de sua cidade.
"Muitas vezes, quando leio projetos de lei ou tomadas de posição partidária, acho que eles são formulados de forma chata", confessa. Porém, por trás dessa fachada maçante, oculta-se um núcleo importante, que afeta toda a vida. Por isso, Hao Vu participa sem queixas de longas sessões, duras negociações e prolixas atas de reunião.
Contudo, ele não tem dúvida de que, no futuro, o trabalho partidário também terá que assumir uma outra feição. Seu engajamento político, ele organiza quase exclusivamente através de redes sociais, como Facebook e Twitter; inicia debates, alimenta sua rede com informações relevantes. Para seus correligionários mais velhos, não se trata de atividade partidária no sentido estrito do termo. Para Hao Vu, é simplesmente o futuro do partido.
Occupy em vez de conselho comunitário
Marc Calmbach ressalta que, para um número crescente de representantes das gerações mais novas na Alemanha, engajamento político não passa, em absoluto, pela competição em torno de mandatos, dentro dos partidos.
"Os jovens estão muito mais interessados em envolver-se em projetos de prazo limitado, de que esperam tirar vantagem direta." O amor ao próximo deu lugar a uma mentalidade do interesse próprio estratégico, como impulsionadora do engajamento político, na opinião do especialista em educação.
Cada vez menos jovens entre 14 e 19 anos estão dispostos a sacrificar seu reduzido tempo de lazer em sessões partidárias, na associação comunitária ou no conselho municipal. Mas se o estabelecimento político tradicional não representa mais nada para muitos jovens, isso não significa que eles sejam apolíticos, em comparação com as gerações anteriores. Como nas décadas de 1960 e 1970, muitos posicionamentos políticos voltaram a ser defendidos de forma extraparlamentar.
Dois exemplos de novas iniciativas políticas são o movimento jovem internacional Occupy, contra o poder ilimitado dos mercados financeiros mundiais, e as passeatas contra o acordo de direitos autorais ACTA.
Interesse e engajamento políticos buscam novos caminhos, impulsionados por um sentimento coletivo, analisa Calmbach. "Os jovens têm a impressão de que até os políticos estão desorientados em muitos assuntos, e precisam sempre de assessores."
Um rapper na prefeitura?
A ascensão do Partido Pirata, com seu programa de superpor a maior transparência da democracia direta aos agrupamentos estabelecidos, é outro exemplo do anseio juvenil por uma outra forma de política.
Para Hurrelmann, trata-se de um sinal de alerta para os partidos sedimentados, não importa de que lado do espectro político. "Temos hoje um desencanto em relação aos partidos, mas não em relação à política", resume o especialista em educação a tendência atual.
Após cumprir seu estágio parlamentar, o ídolo jovem Bushido prometeu combater essa tendência, anunciando que fundará seu próprio partido. A longo prazo, pretende ocupar até mesmo o cargo de prefeito de Berlim.
O que o músico recém-politizado não revelou até agora, é se o discurso do "Partido Bushido" com seus fãs e eleitores em potencial girará em torno de narcotráfico, prostituição e violência armada – temas preferenciais das letras desse rapper dos escândalos.
Autoria: Richard Fuchs (av)
Revisão: Marcio Damasceno