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História desconhecida

2 de novembro de 2009

A divisão da Alemanha é um dos períodos mais documentados da história do país. Porém o nível de consciência histórica coletiva é baixo. E os eventos sobre os 20 anos da queda do Muro pouco contribuem para mudar o quadro.

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RDA: ditadura cruel ou mar de rosas socialista?Foto: AP

Professores alemães alertam que o currículo de História nas escolas do país não reserva muito tempo para discutir a República Democrática Alemã (RDA), a parte oriental do país mantida sob um regime comunista de 1949 a 1990.

O pouco conhecimento sobre o período em questão foi confirmado também por Hans-Michael Schulze, guia do Museu da RDA (DDR-Museum), que admite haver muitas perguntas que o museu ajuda a responder pouco a pouco.

"Quando faço visitas guiadas, 20 anos após o fim da RDA, fico espantando com o pouco que se sabe sobre ela", lamenta. Ao apresentar o Trabant, ele não se atém ao charme do poluidor veículo de plástico, lembrando também o quanto era preciso esperar até possuir um deles, e o porquê deles serem praticamente os únicos disponíveis.

Consciência zero

DDR-Museum in Berlin
Museu da RDA evoca cultura do dia-a-dia na Alemanha OrientalFoto: DW

Mais para o leste de Berlim, o Museu da Stasi mostra como o serviço secreto da RDA – o Ministério de Segurança do Estado – documentava, com câmeras ocultas, cada aspecto da vida dos cidadãos, dos trajetos diários para o trabalho até festas de aniversário infantis.

Uwe Hillmer é pesquisador da Universidade Livre de Berlim e organiza programas educacionais para jovens no Museu da Stasi. Segundo ele, o papel da família é mais determinante para as opiniões e o grau de informação de uma criança sobre a Alemanha Oriental do que a região onde ela foi à escola.

Durante três anos, ele e outros pesquisadores conversaram com estudantes sobre o que sabiam da RDA. E concluíram que os do Oeste geralmente estavam melhor informados que os do Leste. Porém o desconhecimento sobre o assunto entre os jovens é generalizado: a maioria não sabe quem construiu o Muro de Berlim, nem se Willy Brandt era um político do Leste ou do Oeste.

Democracia ou ditadura

Trabbi und Straße in Anklam
O 'Trabbi' virou lendaFoto: DW

"A divisão da Alemanha e o pós-guerra estão, provavelmente, entre os períodos mais bem documentados da história. Há prateleiras sem fim cheias de livros sobre o assunto. Mas o nível de consciência histórica coletiva é zero e esses incontáveis eventos do 20º jubileu nada contribuem para mudar isso", critica Hillmer.

A Alemanha reunificada jamais chegou a entender plenamente como era a vida para os alemães orientais, acrescenta o pesquisador. Sobretudo no que concerne a cruelmente efetiva manipulação psicológica e social por parte da Stasi e do Partido Socialista Unitário (SED).

Os alemães ocidentais não conseguem compreender o confortável senso de previsibilidade e segurança que os orientais perderam com a reunificação, observa. E estes últimos sentem saudades do Estado social, esquecendo a intensa vigilância e controle estatais, dos quais talvez nem tivessem tido consciência.

"A constatação central de nosso estudo é que os jovens de hoje, quer do Leste, quer do Oeste, não são realmente capazes de distinguir entre democracia e ditadura", conclui o pesquisador da Universidade Livre de Berlim.

"Imprensada" depois do nazismo

Olympia '72: Einmarsch der DDR-Mannschaft
Doping institucionalizado é capítulo obscuro da história da Alemanha comunistaFoto: picture-alliance / dpa

A RDA consta do currículo escolar alemão no 1º ano do ensino médio, após a unidade dedicada à Segunda Guerra Mundial. Mas alguns docentes explicam que nem conseguem chegar ao período da RDA, pois os colegiais precisam de mais tempo para digerir toda a pesada história que o antecede. Outros professores e pais simplesmente não querem reviver seu passado.

Não muito longe do Museu da Stasi, fica uma escola de esportes, que, nos tempos da RDA, era sinônimo tanto de vitórias internacionais quanto de doping regulamentado de atletas. Mas muitos dos alunos da escola jamais visitaram seja o Museu da Stasi ou o Museu da RDA, o memorial do Muro de Berlim ou a prisão da Stasi em Hohenschönhausen, situada perto da escola.

Isso não é incomum na capital alemã. Hillmer informa que 80% dos visitantes do Museu da RDA vêm do oeste do país e que há raramente visitas guiadas para classes do leste.

Mosaico de pedras pessoais

Para Leopold Grün, cineasta e educador, não é justo ignorar os bons momentos nas décadas ruins – embora nem sempre seja fácil reconhecê-los. Ele lecionou na RDA de 1989 a 1990, entre a queda do Muro e a reunificação alemã.

Ele é natural de Dresden, no leste, mas sua esposa é do oeste e as famílias de ambos estão envolvidas de maneira intrincada na história da reunificação, que para Grün é inseparável da história alemã do pré e do pós-guerra.

"Ainda há um muro na pergunta: 'Qual é a forma de falar dessas coisas?'. Para mim, o mais importante ao transmitir a história é buscar indícios dela na própria biografia, na sua família. As histórias particulares são as pedras do mosaico, as peças de um quebra-cabeça que, de algum modo, é possível montar."

Autora: Susan Stone (av)
Revisão: Rodrigo Rimon