Jovens alemães veem o futuro com otimismo
14 de outubro de 2015Contar com bons amigos, ter alguém em quem confiar e levar uma vida familiar boa são, nessa ordem, os valores mais importantes para os jovens alemães, revela a pesquisa Shell Jugendstudie, divulgada nesta terça-feira (13/10).
Para a maioria, não é o trabalho que define a vida. Mais de 90% acreditam que a família não deve ser negligenciada em favor da vida profissional.
Um bom emprego precisa ser interessante, mas, em primeiro lugar (para 95%) deve passar estabilidade e segurança. Para quatro em cinco jovens é importante adaptar as horas de trabalho a outras necessidades pessoais, e três quartos gostariam de trabalhar em tempo parcial quando tiverem filhos.
Mesmo assim, conciliar carreira e vida particular é considerada uma tarefa "difícil" por metade dos entrevistados, e o desejo de ter filhos passou de 69% em 2010 para 64% em 2015.
Os jovens alemães também têm uma boa relação com os pais, como declararam 92% dos enntrevistados. Quase três em cada quatro disseram que educariam seus filhos da mesma maneira que foram educados. Esse percentual cresce desde 2002.
Em relação ao futuro, eles estão mais otimistas: 61% acreditam que o seu futuro pessoal será bom. Para a sociedade alemã, também preveem anos melhores. Pela primeira vez desde a década de 1990, a maioria dos jovens (52%) vê de forma positiva o futuro da sociedade alemã.
Imigração e xenofobia
O jovem alemão também está mais receptivo aos imigrantes que chegam ao país. Em 2006, 58% dos jovens achavam que a Alemanha deveria receber menos imigrantes. Em 2015, essa percentual caiu para 37%, e 39% dos entrevistados acham que o país deve receber mais imigrantes, ante 24% em 2006.
Os jovens têm mais medo da xenofobia – quase metade dos entrevistados – do que da imigração (29%). A rejeição aos turcos – grupo que, em 2013, somava quase 3 milhões de pessoas na Alemanha –, por exemplo, passou de 27% em 2010 para 20% em 2015.
Mesmo assim, há diferenças marcantes entre as regiões das antigas Alemanhas Ocidental e Oriental. Enquanto um em cada três jovens de cidades do oeste é a favor da limitação da entrada de imigrantes, essa proporção sobe para um em cada dois no leste, incluindo Berlim.
O estudo, que traçou um perfil da atual juventude na Alemanha, ouviu 2.558 entrevistados entre 12 e 25 anos. Eles foram ouvidos entre os início de janeiro e a metade de março, ou seja, antes da atual crise dos refugiados.
Política sim, partidos não
O interesse dos jovens por política também aumentou: 41% se dizem "politicamente interessados". Em 2002, no auge do desinteresse, eram 30%.
As atividades políticas mais comuns incluem o boicote a mercadorias e a assinatura de petições – preferencialmente na versão online. Um em cada quatro jovens já participou de alguma manifestação, e 10% estão envolvidos com iniciativas de cidadania.
"A geração jovem é exigente, quer participar e abrir novos horizontes", diz um dos condutores da pesquisa, o professor Mathias Albert, da Universidade de Bielefeld. O mesmo estudo, em 2002, classificou a juventude alemã como "pragmática e pouco ideológica".
Os partidos políticos, porém, dificilmente conseguirão tirar alguma vantagem desse crescente interesse por política. Os jovens demonstraram não confiar nas organizações políticas estabelecidas. E até grandes empresas, igrejas e bancos são vistos com desconfiança. A maioria confia mais na polícia, nos tribunais e em grupos ambientalistas e de direitos humanos.
Conectados
A preferência por petições online faz sentido se for considerado que 99% dos entrevistados afirmam ter acesso à internet. Os jovens passam mais de 18 horas por semana conectados – em 2006, eram menos de 10 horas. A maioria (57%) usa a internet para acessar redes sociais ao menos uma vez por dia.
Ao mesmo tempo, os jovens se mostram conscientes sobre o uso de informações pessoais na rede e não perdem o olhar crítico. Mais de 80% deles acreditam que grandes corporações, como Google e Facebook, estão ganhando muito dinheiro a suas custas.
Papel da Alemanha
A expansão do terrorismo e o conflito no leste da Ucrânia também estão em debate entre os jovens. Em 2010, 44% deles se preocupavam com a possibilidade de uma guerra na Europa. Neste ano, o número subiu para 62%. Cerca de 73% dos entrevistados temem ataques terroristas.
A maioria dos jovens acha que a Alemanha deve desempenhar um papel importante como país mediador de conflitos, mas sem intervenções militares diretas.