Jovens alemães votam por mudança, mas o que isso significa?
2 de outubro de 2021Oskar, um jovem de 18 anos de idade da Saxônia, estado no leste da Alemanha, foi às urnas pela primeira vez no domingo passado. Ele acompanhou a tendência de sua geração e não votou em nenhum dos dois grandes partidos, a conservadora União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda. Ele escolheu o Partido Liberal Democrático (FDP), pró-negócios.
O FDP é um dos dois partidos apelidados como "fazedores de rei" nas negociações para formar o novo governo da Alemanha, ao lado dos Verdes. Ambos receberam amplo apoio dos jovens eleitores.
Talvez não seja surpresa que os mais novos tenham votado em massa no Partido Verde. Afinal, os jovens têm indicado com frequência em pesquisas que a proteção climática é o tema mais importante para eles, e o movimento de greve escolar Fridays for Future, liderado pela ativista adolescente sueca Greta Thunberg, é muito popular na maior economia da Europa.
Mas o FDP também se saiu bem entre os jovens e os eleitores de primeira viagem. Para aqueles com menos de 24 anos, eles ficaram em segundo lugar, logo atrás dos Verdes, e entre os eleitores de primeira viagem, eles bateram por pouco o partido ambientalista e foram a escolha mais popular, com 24% dos votos. No eleitorado como um todo, o FDP teve 11,5% dos votos.
Oskar diz que o sistema de aposentadoria foi um dos motivos pelos quais ele votou no FDP. Os liberais acreditam que o atual sistema público alemão de aposentadorias não funciona. Eles querem reforçá-lo com a introdução de um sistema de aposentadoria baseado em fundos de investimento, similar ao modelo sueco.
"Acho que é extremamente importante, para muitos jovens, como as aposentadorias irão funcionar", disse Oskar. Quando o assunto é aposentadorias e você é jovem, "você acaba escolhendo o FDP".
Jona, do estado da Renânia do Norte-Wesfália, no oeste da Alemanha, é outro eleitor de primeira viagem. Ele escolheu o Partido Verde, mas não se surpreende com o sucesso do FDP.
"É por causa da imagem jovem e digital do FDP", diz, mencionando como os liberais fazem hábil uso de redes sociais, memes e outras formas de comunicação digital. "Eles também são progressistas em questões sociais, por exemplo são pró-LGBTQ, o que é importante para os jovens eleitores".
"Não acho que o FDP seja uma má opção, em princípio. Mas eles têm o problema de não serem um partido para os menos favorecidos; eles são neoliberais", diz.
"Mas também posso entender que muitos jovens estão irritados com os Verdes", acrescenta, devido a algumas de suas políticas consideradas limitadoras de liberdades e dominadas por restrições e regulamentações.
Explicação do voto dos jovens
O alto apoio da juventude aos Verdes e ao FDP não surpreendeu o sociólogo Norbert Schäuble, do Instituto Sinus de Pesquisa de Mercado e Social. "Os jovens são tão diversos quanto a população como um todo", diz.
O Instituto Sinus desenvolveu um modelo para explicar a distribuição dos contextos sociais da população alemã, que identifica os grupos que dão atenção a uma "reorientação". Isso inclui o chamado Meio Agilizador e o Meio Neoecológico. De acordo com Schäuble, esses são os "meios do futuro" – em outras palavras, os criadores de tendências.
Ambos os grupos estão unidos por preocupações e reflexões sobre o futuro, mas eles diferem em suas ideias sobre como moldá-lo, diz Schäuble.
"O foco dos Neoecológicos é proteção climática, sustentabilidade e requisitos normativos, incluindo a renúncia. Os Agilizadores estão mais focados na inovação e em tecnologias digitais, responsabilidade pessoal e liberdade", diz. "Essas visões da sociedade são atribuídas com maior probabilidade aos Verdes e ao FDP, que são convincentes com suas respectivas narrativas do futuro".
Opções de coalizão
Oskar e Jona podem ter votado em partidos diferentes, mas eles estão igualmente satisfeitos com a perspectiva de que ambas as legendas entrem no governo.
"Agora com os Verdes fortes e um FDP forte, e um CDU e um SPD relativamente fracos, as ideias programáticas dos parceiros da coalizão estarão no topo da agenda", disse Oskar, mencionando a legislação de proteção climática como uma questão-chave. Ele preferiria uma coalizão entre CDU/CSU-Verdes-FDP, mas reconhece que isso é improvável.
Jona apóia uma coalizão entre social-democratas, Verdes e FDP, e vê com desconfiança a possibilidade de que o FDP e os Verdes possam decidir, em vez disso, se coligarem com a CDU/CSU.
"Acho que foi um pouco abusado o FDP ter logo dito que também falaria com a CDU/CSU, apesar de eles não terem ganho", diz. Historicamente, o FDP tem sido o parceiro preferido de coalizão da CDU/CSU.
Mas, tanto para a CDU/CSU quanto, em menor grau, para o SPD, esta eleição mostrou que sua base eleitoral está envelhecendo. Esses partidos tiveram, respectivamente, 38% e 35% dos votos entre os maiores de 70 anos. Serão as preferências da próxima geração irão definir as eleições seguintes.