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Jovens, ridicularizar boomers é etarismo!

Nina Lemos
Nina Lemos
26 de dezembro de 2023

Conflito de gerações é algo normal e eu entendo que os jovens estejam chateados com os mais velhos. Afinal, o mundo anda horrível mesmo. Mas reproduzir preconceito é careta. Ok, geração Z?

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Mulheres com carrinhos de bebê na década de 1950
Os boomers são a geração que nasceu entre 1946 e 1965Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library

"Ok, boomer". Nos últimos anos, essa virou uma maneira comum, e cada vez mais popular, de chamar uma pessoa de careta, antiquada, sem noção.

Os boomers, as pessoas que nasceram entre 1946 e 1965, se tornaram os grandes vilões do mundo, os responsáveis pelo aquecimento global, pelo uso de petróleo, pelo apego aos carros e tudo aquilo que deu errado. Pobre geração, que agora se aposenta com essa fama horrível, espalhada pelos jovens, aqueles que nasceram entre 1996 e 2000 e formam a chamada Geração Z.

Conflito de gerações é algo normal e eu entendo que os jovens estejam chateados com os mais velhos. Afinal, o mundo anda horrível mesmo. O ano que está acabando, e 2023 será o mais quente dos últimos 125 mil anos, segundo prognóstico do Serviço de Monitoramento Climático da União Europeia. Assustador. Os jovens da Geração Z não terão um futuro fácil. A vida adulta deles vai ser muito mais difícil do que a dos meus contemporâneos da Geração X, aquela formada por nascidos entre 1965 e 1980, sempre foi.

Desculpem a falta de otimismo neste fim de ano, mas esses são fatos. E, dito isso, entendo mesmo que os jovens queiram culpar alguém. Mas, trago más notícias para quem acha que dá para simplificar tudo: a culpa do atual estado das coisas não é apenas dos boomers. Há pessoas burras, negacionistas e mal intencionadas em todas as gerações. E tem mais, apesar dos memes estilo "para, boomer" serem piadas tentadoras e muitas vezes engraçadas, trata-se, sim, de preconceito contra a idade. Vocês, que se acham tão modernos, vão continuar reproduzindo isso?

O nome disso é etarismo, o preconceito contra a idade, considerado uma das últimas discriminações ainda socialmente aceitas. E o pior é que é mesmo. Para ter certeza disso, é só dar uma olhada no TikTok, onde piadas sobre boomers estão por todo lado e são sucesso de audiência. Inclusive foi lá, em 2019, que o meme "ok, boomer" surgiu. 

Uma pesquisa realizada pela National University of Singapore confirma a minha impressão. Eles analisaram 673 vídeos com as hashtags #Boomer e #OkBoomer que totalizaram 5,4 bilhões de visualizações e concluíram que 49,3% delas eram etaristas.

Luta contra o etarismo

O etarismo nos atinge de um milhão de formas e hoje virou briga e ativismo principalmente para nós, mulheres mais velhas, as mais atingidas. Queremos ter o direito de envelhecer em paz, sendo as mesmas pessoas que sempre fomos e não sendo tratados como "inúteis", o que, por exemplo, nos afastaria do mercado de trabalho.

Muitas das pessoas que lutam contra o etarismo são… boomers. Pois é. Entre eles está, por exemplo, Madonna, de 65 anos. Sim, nascida em 1958, Madonna é, segundo a divisão de gerações, totalmente boomer. E o que ela está fazendo? O que sempre fez: está, lutando contra preconceitos e abrindo portas para nós que viemos depois. No momento, a cantora desafia o etarismo e aqueles que insistem em falar que ela está muito velha para os palcos e "devia se aposentar". Algumas das pessoas que falam isso são jovens. Quem é careta aqui?

Outros exemplos de boomers famosos que não têm nada de caretas: Rita Lee, Cazuza, Renato Russo, Marina Lima, Nina Hagen. Se eles são boomers, quem também não quer ser?

Claro, existem boomers que são pessoas péssimas e que prestam um péssimo serviço para a humanidade. Em um vídeo no TikTok sobre boomers, um jovem criador lembra que o presidente russo, Vladimir Putin, é boomer. Fato, assim como Donald Trump e Jair Bolsonaro. Só que, como disse antes, as coisas realmente não são tão simples. Prova: esses líderes de extrema direita contaram com grande apoio de jovens, principalmente, homens, para se elegerem.

Um exemplo disso aconteceu na última eleição na Argentina, quando o populista de direita Javier Milei foi eleito. Ele tem 53 anos e faz parte da minha geração (aff). Mas sua campanha mirou principalmente os jovens da Geração Z, com foco em redes como o TikTok. Sim, muitos jovens se deslumbraram com o ex-comediante de TV e sua retórica "contra tudo que está aí" e, ao mesmo tempo, super conservadora. Milei e seus eleitores são, por exemplo, abertamente contra o feminismo. O voto dos jovens, principalmente dos homens, foi fundamental para que ele ganhasse.

Não estou dizendo, de forma alguma, que os jovens são os culpados pelo 2023 triste que se encerra. De jeito nenhum. Pelo contrário, no geral, em muitas coisas, eles são muito melhores que a minha geração e a que a antecedeu. O que não faz sentido é ver gente jovem, que costuma ser aberta, sendo preconceituosa com os mais velhos.

Preconceito é muito careta. Seja ele qual for. Ok, Geração Z?

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Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000, quando lançou com duas amigas o grupo "02 Neurônio". Já foi colunista da Folha de S.Paulo e do UOL. É uma das criadoras da revista TPM. Em 2015, mudou para Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada. Desde então, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão.

O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.

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O estado das coisas

Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000. Desde 2015, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão em Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada.