Juiz ordena prisão da presidente das Mães da Praça de Maio
5 de agosto de 2016Um juiz argentino ordenou nesta quinta-feira (04/08) a prisão da presidente da associação Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, por se negar a depor, pela segunda vez, sobre suposto desvio de verbas públicas destinadas à construção de casas populares.
A ordem foi emitida pelo juiz federal Marcelo Martínez de Giorgi, depois que Bonafini, de 87 anos, se recusou a comparecer às audiências marcadas para o último dia 6 de julho e esta quinta-feira.
Bonafini preside desde 1979 as Mães da Praça de Maio, associação que reúne mulheres que reclamam por seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar (1976-1983). Os dois filhos e a nora dela desapareceram em 1977 e 1978.
A octogenária e suas companheiras saíram nesta quinta-feira da sede da associação em direção à Praça de Maio para a tradicional marcha semanal, realizada desde 1977. Em um breve discurso, a poucos metros do Parlamento argentino, Bonafini leu uma carta enviada ao juiz e falou com a imprensa, rodeada de centenas de militantes e também de dirigentes do kirchnerismo que estiveram presentes para expressar apoio à líder das Mães da Praça de Maio.
Ela afirmou que não tem medo da prisão, porque foi "muitas vezes" presa durante a última ditadura militar. "Eles querem nos fazer desaparecer, mas, mesmo que nos matem, vamos continuar lutando", declarou Bonafini. Além de ordenar a prisão da presidente da associação, o juiz também a proibiu de sair do país.
Governo não cumpre ordem
Segundo noticiou jornal argentino Clarín nesta sexta-feira, o governo não quis deter Bonafini imediatamente por haver erros na ordem de prisão emitida pelo magistrado. De acordo com a publicação, o endereço da associação na ordem é o mesmo divulgado pelo site da Mães da Praça de Maio, mas, tecnicamente, ele não existe.
Por essa razão, o policial federal Gómez Oliveira, em acordo com o advogado da associação, Eduardo Barcesat, decidiu não prendê-la. Mais tarde, eles também desistiram de detê-la na Praça de Maio, porque, em rigor, o juiz havia emitido uma ordem de detenção, mas não de captura – que pode ser feita em qualquer lugar, além dos domicílios especificados pelo juiz.
No entanto, altos funcionários do governo afirmaram ao jornal considerar que Bonafini está em fuga e que ela será detida, sem definir quando.
De acordo com a publicação, apesar da ordem de prisão, Bonafini viajará nesta sexta-feira para a cidade argentina de Mar del Plata para dar continuidade à agenda prevista. Ela participará de um congresso de comunicação política, desafiando a ordem judicial.
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