Julgamento do mensalão vai influenciar eleitor, avaliam especialistas
5 de outubro de 2012Neste domingo (07/10), mais de 130 milhões de eleitores brasileiros vão eleger os prefeitos e vereadores dos mais de cinco mil municípios do país. Apesar das eleições serem locais, elas deverão a dar o tom da disputa no âmbito nacional, daqui a dois anos.
Um dos elementos mais fortes da campanha deste ano é o chamado esquema do mensalão, nome dado à compra do apoio político de deputados de partidos aliados ao PT, durante o primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Neste semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) concentrou-se em julgar o chamado núcleo dos acusados, que inclui o núcleo publicitário – formado por integrantes de agências de publicidade acusados de desviar verbas para o pagamento de políticos – e o núcleo político – este último composto por nomes importantes do governo do ex-presidente, além de membros do Partido Liberal (PL).
Entre os acusados petistas estão José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil, segundo nome do governo à época), o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-presidente do PT José Genoíno.
A sessão desta quinta-feira – a última antes das eleições de domingo – encerrou a semana de julgamento com votos de quatro dos dez ministros. No momento, três deles votaram pela condenação do chamado núcleo político por corrupção ativa (crime contra a administração pública).
Candidatos de Lula em dificuldades
Na avaliação do professor Paulo Kramer, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), o resultado que começa a se desenhar no STF significa o "começo do fim de mais de uma década de hegemonia lulo-petista na política brasileira".
Há alguns anos, avalia Kramer, Lula poderia indicar um nome e a eleição deste era praticamente garantida, mas hoje o ex-presidente está tendo dificuldades para eleger seus candidatos, sobretudo nos grandes centros urbanos. "O eleitor está, sim, reagindo contra o mensalão do PT", declarou.
Os especialistas ouvidos pela DW Brasil concordam que não é possível quantificar com precisão a influência do mensalão nas eleições municipais, mas observam que o julgamento interferiu diretamente nas estratégias de campanha tanto dos partidos do governo quanto da oposição.
Para o cientista político Antônio Flávio Testa, também da UnB, a oposição busca associar o mensalão à imagem dos candidatos do PT. "Os adversários tentam se aproveitar do desgaste que o PT está sofrendo, principalmente porque a figura mais emblemática do partido depois de Lula, José Dirceu, está sendo condenado por corrupção ativa", observou.
Na última semana, algumas pesquisas tentaram mensurar essa suposta influência. Uma pesquisa CNI/Ibope mostrou que o julgamento do mensalão estava entre as notícias mais lembradas pelos eleitores. Outra pesquisa feita pelo Datafolha, em São Paulo, afirma que 42% dos eleitores reconheceram que o voto para prefeito neste ano sofrerá influência do julgamento do mensalão.
Como reação, o PT tem adotado nas principais capitais brasileiras algumas estratégias para tentar reverter a situação. A presidente Dilma Rousseff, por exemplo, participou, esta semana, de um comício do candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Além dela, ministros também manifestam publicamente apoio a outros candidatos do PT.
Antônio Flávio Testa associa a estratégia a um momento de desespero. "Isso faz parte de um jogo que eu considero antiético. É um absurdo que o Executivo se intrometa em eleições. Dilma fez isso provavelmente sob pressão de Lula, num momento de desespero", avaliou o pesquisador.
Os especialistas concordam, porém, que o julgamento do mensalão é um passo importante para o fortalecimento da democracia brasileira. "Tudo isso é muito auspicioso para a democracia brasileira", avalia Kramer.
O mensalão
Em 2009, o STF transformou em réus 38 acusados de participar do esquema que ganhou o nome de mensalão e que envolve a compra de apoio de deputados da base aliada do governo do ex-presidente Lula da Silva. O esquema foi denunciado em 2005 pelo então deputado federal do PTB Roberto Jefferson, já condenado pelo Supremo por lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Segundo a acusação, o dinheiro que seria repassado aos parlamentares em troca de votos favoráveis a projetos do governo vinha de verbas de publicidade de empresas estatais. O empresário Marcos Valério de Souza seria o responsável pela distribuição do dinheiro. Entre os crimes incluídos no processo estão lavagem de dinheiro, corrupção, peculato, formação de quadrilha e evasão de divisas.
Outros seis ministros ainda precisam votar para que seja julgada a participação do chamado núcleo político. A próxima sessão do STF acontece na próxima terça-feira (09/10).
Autora: Ericka de Sá, de Brasília
Revisão: Alexandre Schossler