Juncker diz que Europa "não deve se deixar chantagear"
1 de junho de 2014O ex-primeiro-ministro de Luxemburgo Jean-Claude Juncker declarou estar seguro de que será eleito novo presidente da Comissão Europeia em meados de julho. "Uma larga maioria de chefes de Estado democrata-cristãos e socialistas me apoia no Conselho Europeu", afirmou em entrevista à edição do jornal alemão Bild deste domingo (1°/06).
Juncker disse ainda que essa decisão não deve ser influenciada por uma minoria. "A Europa não deve permitir ser chantageada", disse o político luxemburguês, acrescentando que, nas próximas três ou quatro semanas, os demais chefes de governo devem ser atraídos para seu lado.
A declaração de Juncker vem a público um dia após a revista alemã Der Spiegel ter divulgado que, durante a cúpula extraordinária da União Europeia (UE), na última terça feira, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, teria feito pressão sobre diversos chefes de governo, entre eles a chanceler federal alemã, Angela Merkel. Cameron afirmou que não poderia mais garantir a permanência do Reino Unido na UE caso os chefes de Estado e de governo do bloco europeu elejam Juncker por maioria.
A Der Spiegel afirmou ainda que a própria Angela Merkel teria, a princípio, se colocado ao lado dos opositores de Juncker, evitando assim uma rápida aprovação do nome do político para a chefia da Comissão Europeia.
De acordo com participantes da cúpula na semana passada em Bruxelas, Cameron deixou claro nos bastidores que a eventual escolha de Juncker poderia vir a desestabilizar seu governo de tal forma que um referendo sobre a saída do Reino Unido da UE teria de ser antecipado. A consulta popular, ressaltou o premiê britânico, muito provavelmente resultaria em um "não" dos britânicos à permanência do país no bloco europeu.
Dúvidas sobre novo presidente
Além de Cameron, os chefes de governo da Hungria, Suécia e Holanda também são contra a nomeação de Jean-Claude Juncker como presidente da Comissão Europeia – embora ele tenha sido o candidato apontado pelo conservador Partido Popular Europeu (PPE), que obteve o melhor resultado nas eleições europeias da semana passada.
O Bild informou ainda que o presidente francês, François Hollande, também tentou impedir a nomeação de Juncker para a presidência da comissão. Segundo o jornal, Hollande teria dito à Merkel que, após o êxito eleitoral dos radicais de direita da Frente Nacional na França, ele estaria precisando urgentemente de um sinal positivo para seu governo – e de um francês no comando da Comissão Europeia. O jornal afirmou que Hollande teria cogitado a indicação do nome do ex-ministro francês das Finanças Pierre Moscovici para o cargo.
Entre os socialistas, além de Hollande também o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, questionou uma nomeação rápida de Juncker para a chefia da comissão. Neste domingo, em Trento, Renzi disse que Juncker é 'um' nome para a Comissão, mas não 'o' nome. O premiê italiano ressaltou que o ex-presidente do Eurogrupo não é o único candidato e não teria, automaticamente, direito ao cargo mais importante da União Europeia.
Apoio a Juncker
A bancada socialista no Parlamento Europeu – à qual pertence também o partido de Matteo Renzi – posicionou-se claramente a favor do nome de Jean-Claude Juncker para a presidência da Comissão Europeia.
Na última sexta-feira, Angela Merkel também se pronunciou, pela primeira vez, abertamente em prol de Juncker – depois de ter evitado uma definição durante o encontro de cúpula da UE na semana passada, quando disse que tudo "é possível".
Tais reservas de Merkel provocaram críticas por outros partidos e também na mídia alemã. Políticos conservadores do partido da chanceler federal justificaram o posicionamento cuidadoso da chefe de governo da Alemanha pela necessidade da inclusão de "países hesitantes" como o Reino Unido.
O novo presidente da Comissão Europeia deve ser nomeado pelos chefes de Estado e governo dos 28 países-membros da UE. Nesse processo, eles deverão levar em consideração os resultados das eleições europeias de 25 de maio último, nas quais o PPE obteve o melhor resultado. O candidato – seja ele Juncker ou não – terá ainda de conseguir a aprovação da maioria do Parlamento Europeu.
CA/afp/dpa/rtr