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Justiça revoga parte de veto de Trump a refugiados

29 de janeiro de 2017

Juíza federal decide que refugiados e outras pessoas afetadas pela nova medida não podem ser deportados. Milhares de pessoas protestam em aeroportos americanos contra nova política de imigração do presidente americano.

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Milhares de pessoas protestaram em aeroportos americanos em prol dos refugiados
Milhares de pessoas protestaram em aeroportos americanos em prol dos refugiadosFoto: picture alliance/abaca/M. Elshamy

Em audiência de emergência na noite de sábado (28/01), a juíza Ann M. Donnelly, do Tribunal do Distrito Federal de Brooklyn, Nova York, respondeu a uma ação movida pela União das Liberdades Civis na América (ACLU, na sigla em inglês) contra a ordem executiva assinada na sexta-feira pelo presidente Donald Trump.

A decisão estipula que as autoridades americanas não realizem nenhuma deportação dos cidadãos dos sete países de maioria muçulmana afetados pelo decreto de Trump – Irã, Iraque, Iêmen, Somália, Líbia, Síria, Sudão – que chegaram aos Estados Unidos. 

As associações consideram a medida discriminatória e inconstitucional, uma vez que se aplicam aos cidadãos com os documentos em dia. Elas invocam a 5ª Emenda, alegando que as questões relacionadas a documentos não podem ser decididas arbitrariamente pelo governo e necessitam de uma decisão da Justiça. 

Nenhuma deportação

A decisão da juíza Donnelly, que não se pronunciou sobre a constitucionalidade da medida, não resolveu, no entanto, toda a questão, reconheceu o advogado da ACLU Lee Gelernt, ao pedir uma nova audiência em fevereiro. 

"O importante esta noite era que ninguém fosse colocado [de volta] num avião", disse Gelernt ao sair do tribunal. O advogado também indicou que a juíza havia ordenado ao governo que comunicasse a lista de todas as pessoas detidas nos aeroportos americanos desde sexta-feira. Isso deverá permitir às associações mobilizar-se pelos afetados, precisou.  

Numa ordem executiva assinada na sexta-feira, Donald Trump suspendeu a entrada de refugiados nos Estados Unidos por pelo menos 120 dias e impôs um controle mais severo aos viajantes oriundos do Irã, Iraque, Líbia, Somália, Síria e Iêmen durante os próximos três meses.

Nos Estados Unidos, segundo o jornal New York Times, entre 100 e 200 pessoas sofreram, já no sábado, o impacto direto dessas novas medidas de imigração. Só em Nova York, mais de dez estrangeiros foram retidos no aeroporto internacional John F. Kennedy (JFK).

USA Tausende demonstrieren an US-Flughäfen gegen Trumps Einreisebann
Milhares de pessoas responderam à convocatória de associações de direitos civisFoto: picture alliance/AP Photo/C. Ruttle

Protestos em aeroportos

Ainda no sábado, milhares de pessoas protestaram nos principais aeroportos contra a nova política de imigração aprovada na sexta-feira pelo presidente americano. No aeroporto JFK, por volta de 2 mil manifestantes gritaram "Deixem-nos entrar, deixem-nos entrar!" Grandes protestos também aconteceram nos principais aeroportos de Washington, Chicago, Minneapolis, Denver, Los Angeles, São Francisco e Dallas.

A mobilização de associações começou após a detenção de dois iraquianos na noite de sábado no aeroporto JFK. Eles estavam ligados ao governo americano no Iraque e possuem vistos de viagem válidos. Milhares de pessoas responderam à convocatória, enquanto outros saudavam as detenções nas redes sociais, ilustrando a divisão do país. 

No JFK, dois representantes democratas de Nova York no Congresso, Jerry Nadler e Nydia Velasquez, juntaram-se aos manifestantes e negociaram, ao longo de todo o dia, com a polícia do aeroporto.

Eles conseguiram a libertação de um dos iraquianos que trabalhava para empresas dos EUA e para o consulado americano de Erbil, no curdistão iraquiano, Hameed Khalid Darweesh, que saiu do aeroporto sob o aplauso dos manifestantes que gritavam palavras de ordem como "Bem-vindo" ou "Os muçulmanos são bem-vindos". 

Batalha jurídica

As mobilizações e a primeira decisão na Justiça deixam antever um longa queda de braço entre os defensores dos imigrantes e a administração de Trump. "Esta é a primeira etapa numa longa batalha nos tribunais", disse Michael Kagan, especialista em lei de imigração na Universidade de Nevada.

"Estamos nos preparando para uma guerra de trincheiras jurídica, desde a eleição", acrescentou. Para o jurista, o rumo dessa batalha perante os tribunais é incerto uma vez que "não tem precedentes na história recente americana". 

Tudo depende da atitude dos juízes, podendo seguir até a Suprema Corte, que não se pronuncia sobre questões de imigração desse tipo desde a lei sobre a exclusão dos chineses (Chinese Exclusion Act) adotada em 1882.

CA/efe/lusa/dpa