Sudeste Europeu
12 de fevereiro de 2008Muitos consideram que o próximo domingo, dia 17 de fevereiro, será a data de declaração de independência do Kosovo. A maioria albanesa conseguiria assim seu objetivo: finalmente separar-se da Sérvia.
O que não está absolutamente claro é se a ainda província sérvia terá condições econômicas de sobrevivência. Já nos tempos da Guerra Fria, o Kosovo era considerado uma das regiões mais pobres da antiga Iugoslávia.
Pobreza extrema
Ainda hoje a província sérvia pertence a uma das regiões mais pobres da Europa. Em 2005, segundo o Banco Mundial, sua renda per capita girava em torno dos 1.243 euros anuais.
Trinta e sete por cento de sua população vive na pobreza, dispondo de menos de 1,42 euro diário para sua sobrevivência. A pobreza atinge principalmente crianças, idosos, famílias sem presença masculina, deficientes, desempregados, residentes de cidades pequenas e minorias com etnia não-sérvia como os rom. Segundo o projeto Ebis (Educação de Adultos no Sudeste Europeu), mais de 50% dos adultos da região são analfabetos funcionais.
Pode um país sobreviver, economicamente, desta forma? Pouco antes de uma possível declaração de independência, as dúvidas são muitas. "Os separatistas do Kosovo ignoram a realidade econômica", comentou o Wall Street Journal em sua edição de 9 de fevereiro último.
Sem razões para independência
Por este motivo, Ruth Wedgwood, professora de Direito Internacional e Diplomacia na Universidade John Hopkins em Baltimore, Estados Unidos, defende a não independência da província.
"O Kosovo tem carvão, chumbo e mão-de-obra, mas se localiza num canto da Europa onde poucos turistas vão passear", escreve Wedgwood. Politicamente, desde que Milosevic saiu do poder, não existiria mais motivo para independência da província, argumenta a professora.
Esperança no carvão
Franz Kaps, enviado especial do Banco Mundial para o Sudeste Europeu até maio de 2007, não vê a situação de forma tão pessimista. Kaps, que ainda hoje é conselheiro do banco, aposta na conversão do carvão vegetal em energia elétrica.
As reservas do Kosovo são avaliadas em 15 bilhões de toneladas. O Banco Mundial calculou que, até 2012, o Sudeste Europeu precisará de uma capacidade adicional de produção energética de 4,5 gigawatt.
As instalações estão em mau estado, por esta razão, procuram-se, atualmente, investidores. "Se funcionar, o Kosovo pode vir a se tornar um exportador de eletricidade", afirma Kaps.
No entanto, as condições para qualquer desenvolvimento seriam estabilidade política e legal. "O principal fator de estabilidade seria a inclusão do Kosovo e da Sérvia na União Européia", explica o conselheiro do Banco Mundial.
"Os problemas políticos começaram em 1989"
Até que este seja o caso, os habitantes do Kosovo dependerão da mesma ajuda que há anos recebem: o dinheiro que os kosovares emigrados mandam para os parentes que deixaram sua região de origem. Segundo estimativas, a cifra chega a cerca de 450 milhões de euros anuais.
"Esta é a tradicional ajuda ao desenvolvimento para o Kosovo", afirma Karl Kaser, professor de História do Sudeste Europeu na Universidade de Graz. Kaser lembra que já houve tempos melhores para o Kosovo.
Nos anos de 1980, ele visitou diversas vezes a região. Na antiga Iugoslávia havia uma transferência norte-sul de recursos. Assim, dinheiro da Eslovênia era enviado para o Kosovo.
"Antes, tinha-se a impressão que a região estava em crescimento", explica Kaser. Por toda parte, foram construídos hotéis e novas moradias. "Os problemas políticos começaram em 1989", explica.
Da Iugoslávia à União Européia
Kaser descarta um Kosovo dependente da Sérvia. Afinal de contas, a maioria da população quer a independência. Além disso, atualmente, pouca ajuda pode se esperar de Belgrado. "A própria Sérvia está arrasada e não tem condições de investir no Kosovo", explica o professor.
Para Kaser, tudo vai depender de uma eventual admissão do Kosovo na União Européia e de que o governo garanta condições de estabilidade. Condições legais claras são necessárias para a exploração dos recursos carboníferos e para atrair investidores internacionais.
Kaser teme, no entanto, que tais empresas não estariam interessadas em investimentos a longo prazo e acabariam por transferir seus lucros para fora. De qualquer forma, ele se diz otimista ao observar a atual situação da província: "A situação só pode, realmente, ficar melhor", afirma com humor negro.