Kraftwerk 3D
17 de outubro de 2011No início dos anos 1970, quatro jovens de Düsseldorf revelaram uma nova forma de cultura pop, que se diferenciava do padrão rock 'n' roll anglo-americano, mostrando ao mundo uma estética que se aproximava mais da ciência do que da música, e apontando que o apelo alemão pela tecnologia também pode ser algo "cool".
Desde seus primórdios, a história do grupo alemão Kraftwerk esteve ligada ao desenvolvimento das mais modernas tecnologias. Além disso, como afirma o historiador de arte e curador para a arte do pós-guerra no museu Lenbachhaus de Munique, Matthias Mühling, enquanto a cultura pop de países de língua inglesa sempre preconizava a vivência e a representação do honesto, do verdadeiro, da dor e do amor, desde o início, o Kraftwerk apostou na encenação.
Nesse contexto, Mühling traz agora para a capital bávara a videoinstalação Kraftwerk 3D. Pela primeira vez, o mundo visual e acústico programado pelo Kraftwerk pode ser visto fora dos palcos num ambiente imersivo gerado através da tecnologia 3D.
A videoinstalação foi inaugurada no último sábado (15/10) e poderá ser visitada até o próximo dia 13 de novembro no espaço de exposições Kunstbau, anexo ao museu Lenbachhaus. A exposição acompanha os concertos com animações em 3D, realizados pelo Kraftwerk na última semana em Munique.
Obra de arte total
Assim como nos três concertos esgotados que o grupo alemão realizou na capital bávara, a videoinstalação Kraftwerk 3D só pode ser devidamente apreciada com óculos da tecnologia Infitec, tecnologia 3D desenvolvida na Alemanha pela então DaimlerChrysler, que reforça a impressão tridimensional. A videoinstalação multicanal foi especialmente concebida para a exposição na Lenbachhaus.
Mühling denomina o trabalho do Kraftwerk como um Gesamtkunswerk, ou seja, uma obra de arte total. "A coerência conceitual do Kraftwerk permitiu que o grupo apresentasse seus temas de maneira bastante conclusiva – em forma de som, performance, projeção e através de "uma música fantástica".
O crítico de arte chama atenção para o fato de a gênese do grupo – que surgiu a partir do Kling Klang Studio em Düsseldorf, fundado em 1970 por Ralf Hütter e Florian Schneider – sempre ser erroneamente associada ao trabalho de compositores como Pierre Schaeffer ou Karlheinz Stockhausen.
A origem do grupo remonta, segundo Mühling, ao denso movimento artístico que a Renânia, uma das regiões mais industrializadas do mundo, vivenciava no final dos anos 1960. Assim como nas fotografias de Bernd e Hilla Becher, o interesse do Kraftwerk também se voltou para as tipologias da identidade cultural das regiões do Vale do Ruhr e do Reno.
Terceira dimensão
Torna-se assim compreensível a popularização da música eletrônica proporcionada pelo Kraftwerk. O próprio grupo sempre denominou seu trabalho como "música popular eletrônico-industrial" – o que o Kraftwerk executa transpondo as fronteiras do pop, aproximando-se de movimentos artísticos como o construtivismo.
Pois, segundo Mühling, a obra do Kraftwerk vai para além da música. Trata-se de uma "combinação completa", que dá continuidade ao trabalho realizado pelas vanguardas no início do século, interrompido pela Segunda Guerra Mundial.
Assim, em seu álbum O homem-máquina (1978), Kraftwerk resgata a incondicionalidade e a sinestesia das antigas vanguardas, como no filme Metropolis, do diretor Fritz Lang, ou através da estética Proun (projeto para a afirmação do novo, em russo) do pintor El Lissitzky.
A videoinstalaçãoKraftwerk 3D não deve ser lida somente como um reconhecimento do grupo para a história da arte em geral, mas como o desenvolvimento de um trabalho artístico que, acompanhando a evolução dos tempos, alcança seu amadurecimento no uso da terceira dimensão.
Autor: Carlos Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer