Kremlin nega ter envenenado opositor de Putin
3 de setembro de 2020O governo da Rússia rechaçou nesta quinta-feira (03/09) as alegações de possível envolvimento no caso Alexei Navalny, um dos principais opositores do Kremlin, que foi envenenado e atualmente está sendo tratado na Alemanha.
Na quarta-feira, a Alemanha havia divulgado a comprovação "de modo inequívoco" da presença de um agente químico neurotóxico do grupo de agentes novichok no corpo de Navalny.
"Não há razão para censurar o Estado russo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, citado pela agência russa Tass. Segundo Peskov, o caso não beneficiaria ninguém. "Eu não acho que isso [o envenenamento de Navalny] seja útil para ninguém, se você olhar sobriamente para o que aconteceu."
O porta-voz do governo russo afirmou não ver razão para eventuais sanções contra Moscou ou contra o projeto do gasoduto Nord Stream 2 (entenda) no Mar Báltico, uma parceria entre Rússia, Alemanha e outros países europeus.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, está sob crescente pressão doméstica para abandonar o apoio ao projeto. O Partido Verde pediu à chefe de governo que use o gasoduto para pressionar o Kremlin a esclarecer o envenenamento de Navalny, que Merkel chamou de um crime com objetivo de "silenciar" o opositor russo.
"Essa tentativa escancarada de assassinato por meio das estruturas de estilo mafioso do Kremlin não deveria apenas nos preocupar, mas precisa ter consequências reais", disse Katrin Göring-Eckardt, copresidente dos verdes no Parlamento alemão. "Nord Stream 2 não é mais algo que podemos apoiar em conjunto com a Rússia."
Os países da União Europeia (UE) começaram a discutir uma resposta ao envenenamento de Navalny, mas alertaram que ainda é muito cedo para impor sanções até que uma investigação identifique culpados.
Berlim comunicou os outros 26 Estados-membros da UE sobre o estado de Navalny e as descobertas em relação ao agente neurotóxico. O porta-voz da diplomacia da UE, Peter Stano, pediu uma investigação transparente por parte de Moscou, que se disse disposta a cooperar.
"Queremos que os responsáveis sejam levados à Justiça, mas para isso a investigação precisa ser lançada e deve trazer resultados", disse Stano, em Bruxelas, quando questionado se poderia haver sanções em retaliação. "Ainda não chegamos lá, então é difícil falar em punição se não tivermos o responsável."
O agente químico neurotóxico usado para envenenar Navalny faz parte da mesma série de agentes novichok desenvolvidos pela União Soviética e usados, por exemplo, contra o ex-agente duplo Serguei Skripal, envenenado na Inglaterra em 2018.
Navalny, de 44 anos, é um dos maiores críticos do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Aliados do opositor afirmam que o Kremlin quer eliminar o político.
Navalny adoeceu enquanto voava de Moscou para a cidade siberiana de Tomsk, em 20 de agosto. A aeronave precisou fazer um pouso de emergência, e o ativista foi levado a um hospital. Ele estava a caminho de Tomsk para realizar pesquisas para seu fundo anticorrupção, mas também para acompanhar as eleições regionais.
Em 22 de agosto, ele foi transportado para a Alemanha a pedido de sua família. Navalny está em coma induzido, mas em estado considerado estável, no Hospital Universitário Charité, em Berlim.
Inicialmente, os médicos russos haviam vetado o traslado do ativista, alegando que seu estado crítico de saúde não permitia a remoção. Apoiadores de Navalny denunciaram a recusa como uma tentativa do governo russo de protelar a transferência até que indícios de envenenamento não pudessem mais ser rastreados em seu corpo.
PV/dpa/afp