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Lares de idosos na Alemanha se adaptam a tempos de pandemia

Mark Hallam
26 de outubro de 2020

Após proibirem entrada de visitantes no início do ano devido à covid-19, asilos alemães modificam instalações para que internos possam ver parentes durante a segunda onda.

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Enfermeira de máscara conduz homem idoso por um corredor da casa de repouso Kurt-Engert-Haus, em Kiel, Alemanha
Limitar ou não a entrada de visitantes durante a pandemia se tornou um verdadeiro dilema Foto: Frank Molter/dpa/picture-alliance

As portas continuam abertas no lar de idosos Lore-Malsch, em Munique, para a surpresa de alguns visitantes. "Agora estamos recebendo ligações – muitas ligações", disse o gerente do local, Jan Steinbach. As pessoas perguntam se ainda têm permissão para visitar seus parentes, enquanto aumenta o número de casos de covid-19 na Alemanha.

Limitar ou não a entrada de visitantes durante a pandemia é um verdadeiro dilema no caso de asilos. Deve-se liberar as visitas e arriscar trazer o coronavírus para dentro de uma instalação cheia de pessoas de um grupo de risco elevado, ou proibi-las e negar aos residentes o contato com seus entes queridos, potencialmente prejudicando sua saúde pelo próprio isolamento?

Durante o auge da primeira onda de covid-19, em março e abril, a maioria dos governos regionais da Alemanha suspendeu as visitas por completo ou as limitou de forma severa.

"Na primeira onda, as instalações tinham estratégias de higiene, mas elas eram adequadas principalmente para uma onda de gripe, e não para uma pandemia como a que temos hoje, inclusive em termos de equipamentos de proteção", diz à DW Bernd Tews, diretor administrativo da federação alemã de lares privados BPA.

"Isso significa que, em pouquíssimo tempo, a situação nas casas de repouso alemãs ficou difícil: não tínhamos máscaras, não tínhamos desinfetante, não tínhamos luvas. Todo o equipamento de proteção de que precisávamos não estava disponível e tampouco estava à venda no mercado internacional."

A escassez de material foi alvo de críticas da BPA no início do ano, mas Tews afirma que as instalações estão agora bem melhor equipadas para uma segunda onda. Esse fato, somado à promessa de testes rápidos de 20 minutos para verificar cada um que chega, deixa o diretor da BPA confiante de que a maioria das casas será capaz de continuar permitindo a entrada de visitantes.

Ele observou, porém, duas prováveis exceções: uma situação local particularmente séria ou casos de covid-19 dentro de uma própria instituição.

Longo percurso até o fim do inverno

O gerente Jan Steinbach implementou mudanças no lar de idosos protestante em Munique no início do ano, quando era primavera na Europa, ao se ver forçado a limitar drasticamente as visitas ao local. Além de facilitar as chamadas em vídeo, a casa de repouso Lore-Malsch também conta agora com uma sala de visitas isolada, onde moradores e convidados podem se encontrar, separados por uma placa de acrílico.

Os visitantes desinfetam as mãos e têm a temperatura verificada ao chegar, enquanto máscaras são exigidas o tempo todo, mesmo em salas privadas, por mais difícil que seja para Steinbach e sua equipe controlar ou aplicar a regra. O gerente também permite que sua equipe seja submetida a um teste de rotina gratuito de coronavírus às segundas-feiras, para a tranquilidade de todos.

"Com a chegada do inverno, é compreensível que todos que começarem a fungar agora tenham receios de que seja covid-19", diz Steinbach. "E pode muito bem ser que fique difícil manter nossa equipe habitual. No momento, ainda está tudo bem por aqui. Mas será um longo percurso até março do ano que vem, até o inverno acabar."

Imposição de limites é comum

Na cidade de Koblenz, no oeste da Alemanha, o lar de idosos St. Elisabeth, da organização Caritas, permite que cada residente receba no máximo dois visitantes por dia, que podem chegar juntos e ficar o tempo que quiserem. Duas pessoas parece pouco, mas o diretor da instalação, Raphael Kloeppel, aponta que, com 164 residentes, o tráfego pode aumentar rapidamente.

O lockdown de março e abril impôs mudanças consideráveis para os internos. Eles passavam a maior parte do dia em seus quartos, ainda que recebendo visitas de uma equipe médica, com atividades em grupo reduzidas e sem refeições comunitárias – somente os que não podiam comer sozinhos em seus quartos comiam em pequenos grupos.

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Kloeppel conta que os residentes se mostraram bastante resistentes, alguns brincavam que haviam sobrevivido à guerra e iriam sobreviver muito bem em seus quartos por algumas semanas. Mas ele também observa que os dois meses de isolamento tiveram um preço.

"O que me surpreendeu durante o confinamento, que se estendeu por muito tempo, foi que alguns residentes se deterioraram um pouco, fisicamente. Como diríamos por aqui, eles pareciam abatidos, diante da falta de conversa e estímulo. Essa existência bastante passiva que muitos deles suportaram acelerou o processo de envelhecimento", conclui Kloeppel.

Uma decisão baseada na ética 

Quer seja a casa gerida por Kloeppel em Koblenz, sustentada pela Igreja Católica, ou a casa protestante de Steinbach, em Munique, ambos insistem que, independentemente das regras de visita, sempre se abre uma exceção.

"Fico chateado ao ler notícias obscenas na imprensa sobre muitas pessoas morrendo em casas de repouso, impossibilitadas de verem seus entes queridos", diz Steinbach. "Não era o caso aqui. Nas fases paliativas, as visitas sempre eram e sempre serão autorizadas [...]. Qualquer outra coisa seria antiético, na minha opinião."

Em Koblenz, os pacientes que entravam em fase terminal eram isolados do resto da casa para receber visitas. Os convidados eram então munidos da cabeça aos pés com equipamentos de proteção pessoal, "desde capuz cirúrgico até avental, sapatos, luvas e máscara", conta Kloeppel. Uma mulher morreu nessa situação, mas com os filhos presentes.

"Acho que tem que ser assim. Com ou sem coronavírus, o lado humano deve ser respeitado. A casa tem meios de se proteger e vamos continuar a usá-los."