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Laudo sugere que cacique do Amapá morreu afogado

16 de agosto de 2019

Polícia Federal diz que exame do corpo de líder waiãpi não acusou sinais de violência, contestando relatos de que ele teria sido assassinado a facadas durante uma invasão de garimpeiros.

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Índios waiãpi em reserva indígena no Amapá, em foto de outubro de 2017
Índios waiãpi em reserva indígena no Amapá, em foto de outubro de 2017Foto: Getty Images/AFP/A. Gomes

A Polícia Federal informou nesta sexta-feira (16/08) que no exame necroscópico do cacique Emyra Waiãpi que não se encontraram sinais de violência no corpo, sugerindo que a provável causa da morte teria sido afogamento.

A morte de Emyra, no fim de julho ganhou destaque internacional e foi associada a uma invasão de garimpeiros à Terra Indígena Waiãpi, no Amapá. Na ocasião, indígenas e entidades indigenistas denunciaram que o líder indígena de 63 anos fora assassinado de forma violenta – alguns relatos mencionaram facadas – após uma invasão de garimpeiros na área que provocou a fuga de vários indígenas.

"Apesar das informações iniciais darem conta de invasão de garimpeiros na terra indígena e sugerirem possível confronto com os índios, que teria ocasionado a morte da liderança indígena, o laudo necroscópico não apontou tais circunstâncias", informou a PF em comunicado. O laudo, assinado por dois médicos legistas da Polícia Técnica do Estado do Amapá, estima que a morte do cacique ocorreu entre 21 e 23 de julho. O corpo foi exumado em 2 de agosto.

O laudo aponta a existência de uma lesão superficial na cabeça do indígena waiãpi, mas minimiza seu efeito, pois o ferimento não teria atingido planos profundos ou causado fratura craniana. Além disso, os peritos afirmam não ter encontrado lesões ou sulcos que pudessem evidenciar a hipótese de enforcamento ou esganadura, nem lesões penetrantes na região do tórax – o que, segundo a PF, "desmente as primeiras notícias que davam conta de que a liderança teria sido atacada a facadas".

"O laudo conclui que o conjunto de sinais apresentados no exame, corroborado com a ausência de outras lesões com potencial de causar a morte, sugere fortemente a ocorrência de afogamento como causa da morte de Emyra Waiãpi", acrescenta a PF, explicando aguardar o laudo complementar toxicológico para auxiliar na investigação, "não interferindo [isto], contudo, na conclusão pericial quanto à causa da morte por afogamento". A previsão é que o laudo complementar toxicológico seja concluído em até 30 dias.

Em 27 de julho, agentes da PF se deslocaram para a terra indígena, após relatos de que garimpeiros teriam invadido a área em 23 de julho, porém atestaram posteriormente não ter encontrado sinais de invasão. Os waiãpis contestaram as conclusões da PF.

À época em que o caso ganhou repercussão e as informações iniciais ainda apontavam para uma morte violenta, o presidente Jair Bolsonaro contestou a versão de um assassinato cometido por garimpeiros. "Não tem nenhum indício forte que esse índio foi assassinado lá. Chegaram várias possibilidades, a PF está lá, quem nós pudermos mandar, nós já mandamos", disse Bolsonaro em 29 de julho. Bolsonaro ajuntou, ainda, que ONGs e entidades indigenistas usavam os indígenas como "massa de manobra".

A terra dos waiãpi fica a cerca de 300 quilômetros de Macapá, capital do Amapá, numa área próxima à fronteira com o estado do Pará. Quase 1.300 indígenas da etnia vivem na região.

Nos últimos meses, indígenas de várias áreas da Amazônia vêm denunciando um aumento de invasões por parte de garimpeiros e madeireiros. Recentemente, a liderança do povo yanomami denunciou que até 20 mil garimpeiros estariam atualmente no território, atrás de ouro. Eles desmatam, abrem cavas na terra e contaminam o solo e a água com mercúrio.

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