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A Leica e sua história

15 de outubro de 2011

Depois de chegar tarde à era da fotografia digital e quase ser varrida do mercado, a mitológica marca alemã Leica se recuperou e está de novo registrando lucro.

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Câmeras com filmes continuam sendo fabricadas, mas futuro é digitalFoto: picture alliance/united-archives/mcphoto

No mundo das câmeras digitais, fortemente dominado pelas empresas japonesas, a marca alemã Leica sobrevive. Quase varrida do mapa pela revolução digital, a pioneira tem agora obtido sucesso com as câmeras eletrônicas. E está fazendo dinheiro.

Em agosto, a empresa fechou o seu mais recente ano fiscal com vendas recordes, registrando um aumento de 60%, com um faturamento de 249 milhões de euros. Esse valor, embora seja apenas uma fração daquilo que as concorrentes japonesas – Canon e Nikon – geram, é, ainda assim, um fluxo de dinheiro saudável para uma empresa respeitada por fãs da fotografia em todo o mundo.

Passos em falso

A Leica ajudou a abrir caminho para o formato de 35 mm, que levou a fotografia dos estúdios de cinema para as ruas. A companhia deve muito de sua fama a Oskar Barnack, que fabricou a primeira câmera portátil a usar rolos de negativos de 35 mm, então de uso exclusivo no cinema.

Muitos dos mais emocionantes momentos de revoluções, guerras (e do que restou depois delas) no século 20 foram registrados por câmeras Leica. A reputação da marca foi reforçada por nomes como Henri Cartier-Bresson, Robert Capa e outros fotógrafos famosos da Agência Magnum.

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Robert Capa: Leica em usoFoto: picture-alliance/dpa

Mas os primeiros anos do século 21 não foram tão generosos com a Leica. A empresa perdeu dinheiro e sofreu com a má administração. Com os pés firmemente fincados no mundo analógico, viu a participação de mercado das câmeras digitais passar de zero para 90% em poucos anos.

A Leica desmoronou e depois se recuperou. A volta por cima, admite o atual presidente Alfred Schopf, é em grande parte mérito de Andreas Kaufmann, um executivo alemão rico e fã da Leica que, em meados da década passada, começou a injetar milhões nos caixas deficitários da fabricante de câmeras fotográficas, a fim de financiar sua transição para o mundo digital.

"Seu investimento foi necessário e também corajoso, considerando a situação naquele momento. Nos novos campos da fotografia digital que queríamos ocupar, precisávamos de dinheiro para adquirir know how a partir do zero", disse Schopf à Deutsche Welle.

A empresa sediada em Solms já havia anteriormente tentado entrar no mercado digital, mas sem sucesso. Em 1995, por exemplo, a Leica fabricou a inacreditável câmera de 75 megapixeis, a S1, pelo também inacreditável preço de 50 mil euros, em valores de hoje. Aproximadamente 150 unidades foram vendidas e os gastos exorbitantes com o desenvolvimento da câmera ficaram empatados.

A Leica também esteve à frente nas lentes de foco automático, inventadas por ela. Mas, em outra decisão infeliz, a empresa vendeu a patente para a concorrente japonesa Minolta, argumentando que quem usa uma Leica sabe fazer foco.

Flash-Galerie Andreas Kaufmann Leica Camera AG
Andreas Kaufmann: papel crucial na trejetória da empresaFoto: picture-alliance/dpa

Novos tempos

Schopf afirma que passos em falso como esse pertencem ao passado. Ele aponta a Leica M9 como um exemplo de tradicional mecânica da empresa aliada à nova era digital.

Essa câmera pequena e leve chegou ao mercado sem as infinitas e complexas funções encontradas na maioria das câmeras digitais reflex de lente fixa e usa a tecnologia rangefinder, na tradição das renomadas câmeras Leica de cinema. Os usuários focam o objeto a ser fotografado ao olhar por uma pequena janela do lado de trás da câmera e girar um aro na objetiva, a fim de fundir a imagem dupla no centro do campo de visão em uma só.

Isso pode até não soar como fotografia digital hi-tech, mas a câmera provida desse pequeno sistema é equipada com uma objetiva de 35mm e um sensor de 18 megapixeis, desenvolvido pela Kodak.

Nos últimos anos, a Leica gastou entre 25 milhões e 39 milhões de euros em pequisa e desenvolvimento – um montante significativamente maior que o dispendido nos anos anteriores.

Qualidade de fabricação

Enquanto a empresa preza sua competência "de casa", também colabora estreitamente com parceiros selecionados, como o Instituto Fraunhofer e a Universidade de Colônia. "As equipes de pesquisa de nossos parceiros estão alguns passos além de nós em seus trabalhos teóricos", diz Schopf.

Alfred Schopf
Alfred Schopf, diretor-executivo da LeicaFoto: Leica

Tanto no campo do design quanto no da fabricação de seus próprios sensores – que substituíram o filme como mídia de gravação na fotografia digital –, Schopf também aposta na colaboração com parceiros experientes, como a Kodak. "Temos um departamento digital muito avançado, que supervisiona todas as nossas atividades digitais. Não acredito que tenhamos que adquirir esse know how completamente, devido à rapidez dos ciclos de desenvolvimento no setor de sensores. Isso não valeria a pena", diz ele.

Não importa o quão importantes os sensores sejam, eles são apenas um componente entre os vários que fazem uma câmera ser uma Leica. "Transformamos sensores relativamente grandes em pequenos, fazemos câmeras mais compactas e as equipamos com as melhores objetivas do mercado. E acrescentamos ainda um design de primeira, em um produto de qualidade 'made in Germany'", completa Schopf.

E por falar em 'made in Germany", a Leica espera poder se transferir no fim do próximo ano para uma nova sede, de volta a Wetzlar, onde Barnack fabricou a primeira Leica, no ano de 1914, nas Oficinas Óticas Ernst Leitz – bem a tempo de celebrar o centésimo aniversário da empresa.

O Parque Leitz, que terá esse nome em homenagem ao fundador da empresa, irá ter também uma seção na qual os visitantes poderão ver de perto e "experimentar" junto à equipe da Leica, além de aprender mais sobre a história da empresa. Com a ajuda de um bom número de fotos, obviamente.

Autor: John Blau (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque