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Lenda de Hollywood, Kirk Douglas morre aos 103 anos

6 de fevereiro de 2020

Com mais de 90 filmes e 60 anos de carreira, Douglas era considerado um dos últimos nomes da era de ouro do cinema. Ele era questionador como seus personagens, a exemplo do escravo Spartacus, um de seus maiores papéis.

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Imagem em preto e branco mostra Kirk Douglas olhando para a câmera ao desempenhar papel no filme "Spartacus", de 1960, no qual representou um escravo que inicia uma revolta
Kirk Douglas em 1960 em seu provável papel mais conhecido, o do escravo SpartacusFoto: picture-alliance/AP/W. Fong

Kirk Douglas, estrela que lutou contra gladiadores, caubóis e pugilistas nas telas de cinema e combateu o establishment de Hollywood, morreu na quarta-feira (05/02) aos 103 anos, segundo divulgou um de seus filhos, o também ator e produtor Michael Douglas.

"É com uma tremenda tristeza que meus irmãos e eu anunciamos que Kirk Douglas nos deixou hoje aos 103 anos", disse Michael Douglas numa declaração à revista de celebridades americana People e também em sua página no Facebook.

"Para o mundo, ele era uma lenda, um ator da era de ouro dos filmes, que viveu bem até os seus próprios anos de ouro, e um humanista cujo comprometimento com a justiça e as causas em que acreditava definiu um padrão que todos nós podemos ambicionar", completou, dizendo ter "muito orgulho" de ser filho de Douglas.

Em 2016, por ocasião dos cem anos de Kirk Douglas, seu filho Michael organizou uma festa para mais de 130 convidados. Até os 90 e poucos anos, o lendário ator ainda distribuía refeições para sem-teto em Los Angeles no Dia de Ação de Graças.

Nos últimos anos de sua vida, as aparições públicas de Kirk Douglas se tornaram mais raras, mas ele continuou expondo suas opiniões. A estrela de cinema alertou para as consequências da vitória eleitoral de Donald Trump na eleição presidencial americana de 2016.

Num post de um blog no Huffington Post, ele citou um discurso republicano que atacava imigrantes. "Esses não são os valores americanos que lutamos para proteger durante a Segunda Guerra Mundial", criticou Douglas, lembrando que tinha 16 anos quando um homem que ninguém inicialmente levou a sério chegou ao poder na Alemanha em 1933, referindo-se a Adolf Hitler.

"Ele era considerado um palhaço e pensava-se ser impossível que ele enganasse um povo educado e civilizado com seus discursos nacionalistas e carregados de ódio", escreveu Douglas.

O ator Kirk Douglas em foto de 2005 levanta a mão enluvada com uma concha para servir um sem-teto no Dia de Ação de Graças em Los Angeles. Douglas veste um avental vermelho e tem os cabelos brancos
Ativo até sua morte, Douglas ainda distribuía refeições a sem-teto aos 90 anosFoto: picture-alliance/dpa/A. Arorizo

Douglas era filho de imigrantes judeus russos. Nasceu Issur Danielovitch Demsky em 1916 em Amsterdam, cidade industrial do estado americano de Nova York, e cresceu num bairro pobre com seis irmãs. Financiou os estudos com empregos como zelador e aparições em lutas livres de feiras anuais para conseguir estudar atuação.

Depois da Segunda Guerra Mundial, sua sorte mudou. Sua ex-colega de universidade, Lauren Bacall, que já havia indicado Douglas a papeis menores na Broadway, o recomendou a executivos de estúdios em Hollywood.

Douglas iniciou a carreira representando o marido alcoólatra de Barbara Stanwyck em O Estranho Amor de Martha Ivers (The Strange Love of Martha Ivers) em 1946, numa atuação tão aclamada que o ajudou a emplacar outros papéis de destaque.

Chegou a atuar em mais de 90 filmes, frequentemente trabalhando com diretores influentes como Billy Wilder, Howard Hawks, Otto Preminger e Elia Kazan. Preferia desempenhar papeis de vilões, personagens questionadores e heróis imperfeitos.

Kirk Douglas foi indicado a três Oscars por suas atuações em Champion (longa de 1949 no qual viveu um pugilista brutalmente ambicioso), Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful), de 1952 (com o papel de um produtor de filmes obcecado pelo poder) e por seu retrato envolvente do pintor Vincent Van Gogh em A Vida Apaixonada de Van Gogh (Lust for Life, de 1956).

Ele não levou a estatueta, mas recebeu um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra em 1996, "por 50 anos como uma força moral e criativa na comunidade cinematográfica".

Como muitos dos heróis que viveu no cinema, Douglas nunca se curvou a pressões, e no início da carreira tinha desentendimentos com os chefes dos estúdios a respeito de suas escolhas para papéis. Foi uma das primeiras estrelas a fundar uma empresa de produções em Hollywood no pós-guerra, batizando-a com o nome de sua mãe, Bryna, originária da Ucrânia.

Para o clássico épico Spartacus, de 1960 – filme pelo qual talvez seja mais conhecido, dirigido por Stanley Kubrick –, Douglas contratou o roteirista Dalton Trumbo, que figurava na lista de artistas comunistas. O ator estrelou o filme como o lendário escravo e líder de uma revolta e também foi produtor do longa.

Douglas foi casado duas vezes, a primeira com Diana Douglas (1923-1925), com quem teve os filhos Michael e Joel. Ele se casou com sua segunda esposa, Anne, em 1954, e o casamento é um dos mais longevos de Hollywood, apesar dos conhecidos casos do ator. Com ela, também teve dois filhos, Peter e Eric. O último morreu aos 46 anos por uma overdose acidental de remédios e álcool.

Kirk Douglas quase morreu num acidente de helicóptero, e um AVC nos anos 1990 o deixou com a saúde debilitada. Ele teve que aprender a falar novamente, mas continuou ativo até a sua morte.

RK/rtr/dpa/afp

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