Lenz: "Somos todos um pouco utópicos"
17 de março de 2006"Percebi cedo que quem quiser passar a vida escrevendo, tem que ter paciência. Não apenas inspiração, mas paciência, obstinação e perseverança – aliás qualidades, que Goethe também percebeu".
O escritor Siegfried Lenz considera que se costuma superestimar a genialidade. Ele próprio prefere tratar o idioma de forma artesanal, sendo um mestre da linguagem claramente estruturada e defensor de um estilo de narração cronológica convencional. "Se a vida decorre cronologicamente, por que é que teria de ser diferente na literatura?"
Seu ideal literário é Ernest Hemingway, enquanto Willy Brandt foi sua esperança política. Em 1970, Lenz acompanhou o ex-chanceler federal alemão à capital polonesa para assinar o Acordo de Varsóvia, um tratado de normalização das relações teuto-polonesas.
A necessidade de refletir e superar os crimes do passado nazista são sua maior preocupação. Em suas obras, a responsabilidade do indivíduo por si mesmo e pela época em que vive é um tema recorrente.
A difícil aula de alemão
Lenz é um escritor de altos princípios morais, para quem a literatura é uma espécie de memória coletiva. Como jornalista, ele se entende como cronista – sempre solidário aos impotentes e, ao mesmo tempo, crítico em relação aos fracos que se deixam levar pelos "prazeres do dever", tal como o policial Jepsen em Deutschstunde (Aula de Alemão), volume publicado em 1968.
Um defensor da lentidão
Siegfried Lenz não é apenas um dos autores clássicos da Alemanha do pós-guerra, mas também um crítico da contemporaneidade – sem jamais correr atrás da atualidade.
Em Der Mann im Strom (O Homem no Fluxo), de 1957, ele se debate com o problema do envelhecimento na sociedade de consumo. Em Brot und Spiele (Pão e Circo), evidencia o resplendor e a miséria do mundo dos esportes, que em 1959 já não era mais tão incólume. Em Das Vorbild (O exemplo), retrata a realidade cotidiana da Alemanha Ocidental dos anos 70.
Lenz compôs peças radiofônicas, peças de teatro e histórias infantis, além de contos com personagens divertidos e comoventes. Como escritor, acredita no poder da palavra escrita. E, assim como Günter Grass aposta no progresso da lesma, Lenz também confia – tanto política quanto literariamente – na lentidão progressiva.
"Somos todos um pouco utópicos e, ao escrever, naturalmente só podemos confiar nos efeitos pavorosamente morosos, lentos, e principalmente incalculáveis da literatura. E creio, sim, que o esforço conjunto de todos nós, escritores, basta...talvez não para criar grandes e espetaculares modelos alternativos à atual situação do mundo – para isso, certamente não. Mas para fazer correções, abrir os olhos, desmascarar, desvendar, como diz Sartre. A literatura surte efeito ao desvendar", escreveu Lenz.
Em sua longa vida dedicada à literatura, ganhou muitos prêmios. Entre eles, o Prêmio Goethe, o Prêmio Thomas Mann e o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão. No ano 2000, aos 71 anos, recebeu o Prêmio de Literatura de Weinheim, o único prêmio alemão cujo júri é composto por menores de idade.
Mesmo que hoje pouco se ouça do escritor, ele continua ocupando seu posto como um dos maiores autores da literatura alemã contemporânea.