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LGBTs europeus convivem com o medo, mostra estudo

Mark Hallam as
14 de maio de 2020

Pesquisa com 140 mil pessoas revela que maior parte da comunidade LGBT+ na Europa percebe aumento da intolerância, e muitos preferem esconder sua sexualidade em público. Situação é pior no Leste Europeu.

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Gays e lésbicas participam de manifestação em Praga, na República Tcheca
Uma em cada dez pessoas disse que foi atacada fisicamente ou sexualmente nos últimos cinco anosFoto: Reuters/D.-W. Cerny

A ampla maioria dos casais LGBT+ na Europa evita andar de mãos dadas em público, e um em cada cinco LGBT+ se sente discriminado no local de trabalho, segundo um estudo da Agência Europeia de Direitos Fundamentais (FRA) divulgado nesta quinta-feira (14/05).

De cada dez pessoas ouvidas na União Europeia e no Reino Unido, uma disse que foi atacada fisicamente ou sexualmente nos últimos cinco anos.

A pesquisa, chamada Um longo caminho até a igualdade para as pessoas LGBTI, ouviu cerca de 140 mil pessoas com 15 anos ou mais nos 27 países da União Europeia, no Reino Unido (que ainda era membro quando a pesquisa foi feita), na Sérvia e na Macedônia do Norte (que querem entrar no bloco).

É a segunda pesquisa desse tipo feita pela FRA. A primeira foi realizada em 2012, mas ouviu menos pessoas e apenas maiores de idade.

"Um número muito grande de pessoas LGBT+ continua a viver na sombra, com medo de ser ridicularizada, discriminada ou mesmo agredida", diz o diretor da FRA, Michael O'Flaherty.

"Apesar de alguns países terem avançado na igualdade para os LGBT+, nossa pesquisa mostra que, no geral, houve pouco progresso real, deixando muitas pessoas LGBT+ vulneráveis. Governantes deveriam estar cientes disso e promover de forma ativa o respeito total pelos direitos das pessoas LGBT+."

Um dos responsáveis pelo estudo, Milton Pavlou afirmou que "o resultado mais alarmante é o que mostra o assédio, o medo, a falta de segurança". Ele disse que 38% dos consultados disse ter sido vítima de assédio no último ano por ser LGBTQ+. "Isso é inaceitável. As pessoas não merecem viver assim", afirmou.

Na União Europeia e no Reino Unido, apenas 36% dos consultados disseram perceber uma melhora na tolerância nos últimos cinco anos, e 40% disseram perceber uma piora. Cerca de um quarto não viu mudança nenhuma.

Menos de um quarto dos alemães disse que a situação melhorou no país, e 45% disseram que piorou.

A Polônia, majoritariamente católica e governada pelo partido conservador PiS, é um dos países onde a percepção da situação mais piorou. Mais de duas em cada três pessoas ouvidas disseram que a situação está pior no país.

A comissária europeia da Igualdade, Helena Dalli, lembrou que a Polônia recentemente criou dezenas de assim chamadas "zonas livres de ideologia LGBT+".

"Ainda mais preocupante, testemunhamos recentemente dentro da UE incidentes contra a comunidade LGBT+, como agressões em paradas, a adoção de declarações de 'zonas livres de ideologia LGBT+', multas para publicidades que são simpáticas ao público LGBTI e outros", diz Dalli, sem mencionar que esses casos ocorreram na Polônia.

"Qualquer pessoa na União Europeia deveria se sentir segura e livre para ser ela mesma", afirmou Dalli.

Entre as pessoas ouvidas na Polônia, 44% disseram perceber uma deterioração dramática na tolerância em relação a membros da comunidade LGBT+ nos últimos cinco anos. É a maior percentagem identificada pela pesquisa num país.

Em segundo lugar está a França, com 25% dos consultados franceses dizendo que perceberam uma deterioração, dos quais 29% disseram que ela foi dramática.

Mas o relatório tem também ao menos uma boa notícia: na Irlanda, 76% disseram ter visto uma melhora na tolerância no período depois de 2015, quando o país, também majoritariamente católico, aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo num referendo.

A agência antidiscriminação do governo alemão afirmou que o estudo demonstra uma clara necessidade de ação, já que o país ficou na média ou apenas um pouco acima.

"Quando quase metade dos consultados diz ter medo de andar de mãos dadas em público, e um em cada cinco esconde sua sexualidade no local de trabalho, isso deve nos causar enorme preocupação", afirmou o diretor da agência alemã, Bernd Franke.

Este último aspecto é um dos que melhor mostram a linha divisória que existe entre o Leste Europeu e a parte ocidental da Europa na questão dos direitos dos LGBT+. Na Bulgária, Croácia, Chipre, Estônia, Finlândia, Grécia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Eslováquia, Macedônia do Norte e Sérvia, apenas 10% ou ainda menos disseram ser muito francos sobre sua identidade sexual no trabalho. A média dos 27 países da UE mais o Reino Unido é de 21%.

Franke disse que está mais do que na hora de uma reviravolta nas diretrizes europeias sobre igualdade, que, segundo ele, não mudam há anos. Ele sugeriu que o Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, em 17 de maio, seja usado para destacar as injustiças existentes, "mesmo durante a crise do coronavírus".

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