Limite a imigração na Suíça pode gerar perdas econômicas
11 de fevereiro de 2014Os 28 países da União Europeia (UE) compõem, juntos, o maior mercado comum do mundo. Cerca de um quarto da economia mundial é produzido pelo bloco europeu. E, apesar de não fazer parte da UE, a Suíça lucra bastante com diversos acordos que facilitam o comércio com países do continente.
A UE é de longe o mais importante parceiro comercial dos suíços. Cerca de três quartos de todas as importações da Suíça vêm de países europeus – que consomem mais da metade das exportações suíças. A balança do comércio bilateral, somando as importações e exportações entre os dois parceiros, chegou a 210 bilhões de euros em 2012, segundo autoridades alfandegárias do país alpino.
E, entre os europeus, os alemães são os parceiros comerciais mais importantes da Suíça, com transações comerciais no valor de 79 bilhões de euros.
Pequena, mas representativa
Do ponto de vista da UE, a Suíça não pode ser ignorada. Depois dos Estados Unidos, o país ao sudoeste da Alemanha é o segundo maior comprador de produtos do bloco europeu. De acordo com o departamento de estatísticas europeu Eurostat, 9% das exportações têm a Suíça como destino, mais do que o volume que segue para a China (8,8%), Rússia (7%), Turquia (4,7%) ou Japão (3,2%).
Já com relação às importações, o papel da Suíça é bem menos representativo para seus vizinhos. Com 5,3%, o país ocupa apenas o quinto lugar entre os que mais vendem para a UE, atrás da China, Rússia, Estados Unidos e Noruega, segundo os dados mais atuais do Eurostat, de 2011.
Enquanto em relação com outros países o bloco europeu mais importa do que exporta, a situação das relações comerciais com os suíços é contrária. A balança comercial (diferença entre importação e exportação) da UE com a Suíça registrou superávit de 17 bilhões de euros em 2012. Bens de consumo são os mais comprados pelos suíços.
Sem contar com uma indústria automobilística própria, a república alpina chegou a importar 380 mil carros em 2012, numa conta que chega a 8 bilhões de euros. A aquisição de bens de produção, como equipamentos e instalações de indústrias, é bastante significativa na Suíça.
Essa é uma importante vantagem para empresas alemãs da área automobilística e de montagem de maquinário. "Por ano, a Alemanha vende cerca de 10 bilhões de euros a mais em produtos do que compra da Suíça", avalia o economista suíço Thomas Straubhaar, diretor do Instituto de Economia Mundial (HWWI, sigla em alemão), em Hamburgo.
Consequências invisíveis
Entre os bens mais exportados pelos suíços estão produtos da indústria química e farmacêutica, relógios, ferramentas de precisão e produtos de luxo, como chocolates. O setor bancário suíço tem relevância mundial por conta de seus reconhecidamente vantajosos serviços financeiros.
Além da intensa migração, também é significativo o número de trabalhadores pendulares – ou seja, que atravessam a fronteira Alemanha-Suíça frequentemente. "A Suíça oferece os empregos, a Alemanha a força de trabalho", explica Straubhaar. "Juntos, eles produzem bens que depois serão fornecidos ao mercado automobilístico alemão, à construção de máquinas ou à indústria de transformação de metais, onde serão refinados."
Agora, diante dos resultados da votação popular do último domingo, o governo em Berna se vê obrigado a, num prazo de três anos, determinar cotas de imigração no país. A medida atingirá, inclusive, cidadãos europeus. Para a UE, o "princípio do livre fluxo de pessoas" será ferido. Em 1999, suíços e europeus fecharam diversos acordos que, além do fluxo de pessoas, também regulam outras áreas como transporte, agricultura, pesquisas e concorrências públicas.
Tais acordos estão legalmente interligados e não podem ser desfeitos individualmente, segundo comunicou a Comissão Europeia por meio de nota. Agora, o órgão deverá "analisar as consequências dessa iniciativa para as relações conjuntas".
Tudo ou nada
Para Straubhaar, a UE deveria se recusar a renegociar apenas o acordo de livre circulação. "A Comissão Europeia está sob forte pressão. Se ela permitir exceções e casos especiais a terceiros, como a Suíça, outros países fora do bloco também vão querer ter acesso ao privilégio. A UE não vai querer abrir esta brecha", afirma o diretor da HWWI.
Ainda assim, acredita ele, caso os acordos voltem a ser negociados, a Suíça poderá perder muitas das vantagens que mantinha até agora com a UE. "Essa é uma guilhotina pendurada sobre a cabeça de todos", diz Straubhaar. "Quando tudo for colocado em prática, será difícil para a Suíça, como um país pequeno, garantir seu atual status quo diante da gigante União Europeia."
Segundo Straubhaar, o governo suíço perdeu margem de manobra depois do referendo. "Agora, o governo precisa se mostrar ativo. E é exatamente isso que a Comissão Europeia não deve querer – ou poder permitir."