Liquidação atrai clientes mas não soluciona crise do varejo
5 de agosto de 2002A situação é tão grave, que peritos temem uma onda de falências no varejo. Desde o início do ano, os consumidores alemães retraíram-se radicalmente. Na opinião de especialistas, a mudança de comportamento deveu-se fundamentalmente a dois fatores: em primeiro lugar, a incerteza quanto à evolução da economia, num momento em que o desemprego atinge níveis cada vez mais altos no país e não se percebe nenhuma perspectiva imediata de recuperação conjuntural.
Em segundo lugar, a introdução do euro como único meio circulante em doze países da União Européia provocou uma insegurança inicial entre os consumidores alemães, que não podiam prever se a nova moeda manteria um poder de compra equivalente ao do antigo e apreciado marco alemão.
Esta insegurança foi reforçada com a divulgação de inúmeros casos de abuso do comércio e, principalmente, do setor de prestação de serviços: empresas e profissionais que aproveitaram a troca da moeda para tentar impor aumentos drásticos de preços.
Resposta do consumidor
A resposta dos consumidores alemães foi quase imediata. Em poucas semanas, o volume de vendas do comércio varejista e o faturamento do setor de serviços despencaram. Embora tenham sido poucos os "pecadores", a retração do consumo atingiu a todos.
Já no final do inverno passado, as lojas de artigos sazonais ou de moda praticamente não conseguiram livrar-se dos seus estoques de estação. Uma situação que ameaçava agravar-se ainda mais neste fim de verão comercial na Alemanha, tradicionalmente fixado nas duas primeiras semanas de agosto.
Na Alemanha, as liquidações e promoções comerciais são rigorosamente regulamentadas. A fim de preservar a lealdade de concorrência no varejo, a lei só permite ofertas de ocasião pelo comércio duas vezes ao ano: nos encerramentos do inverno (WSV – Winterschlussverkauf) e do verão (SSV – Sommerschlussverkauf).
Nos anos de euforia de consumo, tais liquidações ficaram limitadas quase sempre a produtos de baixa qualidade, destinados ao público de menor poder aquisitivo.
Em 2002, a situação mudou. A crise envolveu até mesmo magazines de luxo, que aderiram à orgia de descontos, oferecendo peças de griffe por preços de ocasião. E nas lojas mais populares, a redução dos preços atingiu níveis inusitados.
Resultado satisfatório
Iniciada há cerca de uma semana, a liquidação de verão (SSV) estende-se até o próximo sábado (10/08) e trouxe ao comércio varejista, até agora, um resultado satisfatório. Apesar disto, ainda são grandes os estoques existentes.
O porta-voz da Confederação do Comércio Varejista Alemão (HDE), Hubertus Pellengahr, anunciou cortes ainda mais drásticos nos preços: "O que foi reduzido em 50% e não pôde ser vendido até agora, deverá ter uma queda de preço." Além disso, o número de artigos remarcados é muito maior que em anos anteriores, diz Pellengahr.
Apesar da maior afluência dos clientes, muitos comerciantes não vêem a crise como superada. Para Ralf Dewo, gerente de uma filial da loja de departamentos Karstadt em Frankfurt, os consumidores aproveitaram as ofertas para reviver as antigas emoções de compras.
Nada indica que, passada a liquidação, o movimento das lojas retornará ao normal, dizem também outros comerciantes. Em Hanôver, a porta-voz da Associação do Comércio Varejista, Karin Schindler-Abbes, foi clara: "O comércio está sentindo a retração de compras dos clientes durante todo o ano. O nó não foi desfeito nesta liquidação de verão."