Livro discute laços que unem Brasil e Alemanha
2 de março de 2015O Brasil e a Alemanha têm muito mais em comum do que papel de liderança em suas regiões, poder econômico e a paixão pelo futebol. A recém lançada coletânea Relações entre Brasil e Alemanha na época contemporânea usa temas como imigração, diplomacia e culinária para discutir a relação entre os dois países.
Organizado pelo professor de literatura da USP, Willi Bolle, e pelo diretor do Instituto Martius-Staden, Eckhard E. Kupfer, o projeto é uma continuação de Cinco séculos de relações brasileiras e alemãs, livro publicado em 2013, que contava com artigos sobre o relacionamento entre as duas culturas do século 16 até a Segunda Guerra Mundial.
"Na verdade queríamos publicar um livro só, do século 16 até hoje. Entregamos os textos para a editora, e, depois do processo de ilustração e diagramação, o resultado foi um livro de quase 500 páginas. Então decidimos separar em dois volumes. Neste sentido, a interrupção das relações pela segunda guerra foi um corte bem lógico", diz Kupfer em entrevista à DW Brasil.
Ampla perspectiva
O novo título reúne 32 artigos que buscam criar discussões sobre temas pertinentes para as duas culturas, como o texto de Klaus-Wilhelm Lege sobre as empresas alemãs no Brasil. Ao mesmo tempo, cooperação para o desenvolvimento e questões ambientais também foram abordadas.
"Procuramos especialistas em cada segmento, como o diplomata Roberto Abdenur, que foi embaixador na Alemanha em uma época muito importante. Alexander Busch é um dos mais renomados jornalistas econômicos alemães no Brasil. Na parte cultural, convidamos acadêmicos que trabalham há décadas com o intercâmbio cultural entre os dois países", explica Kupfer.
O intercâmbio cultural entre os dois países é um dos pontos fortes do livro. Tereza Arruda analisa essa troca nas artes plásticas e no design. A Alemanha nas obras de Loyola Brandão, João Ubaldo Ribeiro e Zé do Rock é o tema de Uli Reich. Já Helmut Galle fala das relações entre o escritor alemão Hubert Fichte e a poesia das religiões afro-brasileiras.
Os temas são abordados de forma curiosa, como "a observação de José Miguel Wisnick sobre o gol que o Pelé não fez, ou o texto de Jurandir Malerba sobre os brasileiros perdidos na Alemanha", conta o organizador da coletânea, que também buscou uma linguagem simples e jornalística nos textos, para que o livro atinja um público mais abrangente.
Dialogo entre as duas culturas
O projeto é uma parceria do Instituto Goethe de São Paulo com o Instituto Martius-Staden, que possui um acervo de 200 mil documentos e uma biblioteca especializada na imigração alemão no Brasil. A ideia inicial das publicações surgiu em função da Temporada Alemanha + Brasil.
"Acho que foi muito importante a Alemanha e o Brasil mostrarem diversos aspectos de sua cultura de uma maneira mais detalhada, para superar estereótipos que acompanham tanto os alemães como os brasileiros", comenta Kupfer.
Para ampliar esse diálogo e criar diferentes perspectivas, Relações entre Brasil e Alemanha na época contemporânea conta com textos publicados em português e alemão, por autores dos dois países.
Relação recente
Para quem já viveu na Alemanha ou se interessa pela cultura do país, o livro tem uma parte reservada à convivência entre as duas culturas nas últimas décadas, mostrando como essas relações são diferentes da época da imigração alemã no sul do país.
Jens Glüsing enumera os maiores clichês antes de começar a analisar por que eles existem. Seriam os brasileiros os reis do improviso e os alemães os mestres do planejamento? Seriam essas culturas opostas ou complementares? O escritor Zé do Rock declara seu amor à língua alemã com o divertido artigo Etâ linguinha kompliziert!