Livro revela Alemanha como o país das casas de ópera
9 de abril de 2012Alguns falam abertamente sobre um "infarto cultural", sobre a necessidade ou não de medidas de economia em teatros e museus. Outros preferem olhar para o que o cenário cultural alemão tem a oferecer.
O jornalista Ralph Bollmann dedicou-se durante anos de corpo e alma ao teatro musical e, numa espécie de busca pessoal, visitou quase todas as casas de ópera da Alemanha. Não somente os grandes palcos nas metrópoles, pelo contrário: foram justamente as óperas de província que o cativaram.
Suas andanças estão agora registradas no livro Walküre in Detmold (Valquírias em Detmold, em tradução livre), lançado recentemente na Alemanha pela Editora Klett-Cotta.
Príncipes e mecenas
Em suas viagens, ele descobriu algo impressionante: a coragem de pequenos teatros em realizar produções complexas e o entusiasmo incansável do público. Pois, ao contrário de todos os prenúncios de que Fidelio ou Aida seriam algo somente para a elite burguesa, as salas estão sempre lotadas.
A cada ano, cerca de 10 milhões de pessoas visitam teatros musicais como óperas, operetas e musicais – a mesma quantidade de torcedores que assistem aos jogos da Bundesliga.
A diversidade teatral entre Flensburg e Passau, Krefeld e Chemnitz – ou seja, respectivamente de norte a sul, de oeste a leste – é um legado histórico. Quase metade das casas de ópera alemãs é composta por antigos teatros da corte, fundados e patrocinados por pequenos ou grandes soberanos para elevar sua própria glória.
Ostentação principesca
As casas de ópera se juntaram a palácios senhoriais, coleções de arte de valor inestimável e bibliotecas como parte da ostentação principesca. Somente no século 19, patronos da educação e comerciantes abastados entraram em cena, fundando os chamados teatros municipais. Desenvolveu-se então o que até hoje caracteriza a paisagem cultural alemã: seu colorido, mas também uma espécie de mecenato moderno.
Uma rede inigualável de teatros municipais e federais é financiada na Alemanha por estados e municípios. Que a ópera, como muitas vezes se afirma, sobreviveu a todos os sistemas políticos não é de todo verdade.
Na antiga Alemanha Oriental, por exemplo, teatros multigêneros foram fundados pelas forças de ocupação soviéticas – "mas com o comunismo eles vieram, e com o comunismo eles se foram", escreveu o autor Bollmann. Houve um falta de identificação e de dinheiro.
Cachês e patrocinadores
Também no teatro musical, o desejado dinheiro desempenha um papel importante. Obviamente ele não circulou e não circula de forma abundante em todos os lugares. Os recursos são escassos em muitos municípios. Principalmente no leste da Alemanha registram-se tendências decrescentes e deprimentes. Para economizar em cachês, tais cidades preferem, eventualmente, contratar atores que sabem cantar um pouco no lugar de verdadeiros profissionais de ópera.
Nessas cidades, acontece de a orquestra voltar para casa depois de ver a sala quase vazia. Os teatros são banidos para a periferia, em salas improvisadas ou escuras. Os teatros têm que se fundir ou ser fechados.
E muito além das grandes manchetes, uma guerra cultural também se desenvolve no interior do país. Quando o teatro é subversivo e político, ele passa a desagradar grupos neonazistas locais, que não poupam ataques contra artistas participantes.
Há também exemplos bem diferentes: auditórios magníficos, público culto e abastado. Ou simplesmente formado por entusiastas do teatro, que apoiam "seus" palcos municipais, querendo mantê-los vivos.
"Um pequeno milagre"
Os petiscos oferecidos durante as pausas deixam, no entanto, a desejar: espumantes muito doces e pães velhos e secos. Nesse quesito, o autor Bollmann olha com inveja para os destaques culinários nos foyers de Londres ou Milão.
Mas, acima de tudo, com seu livro divertido e informativo, ele deixou claro que mesmo que os sons vindos do fosso de orquestra ecoem ralos e estridentes, mesmo que cantoras e cantoras lutem, ocasionalmente, contra os desafios de seus papéis, muito pode ser descoberto nos palcos de óperas alemães.
E pode-se conhecer muita música maravilhosa por ali, onde o teatro não é somente província, mas sim onde "todas as noites acontece um pequeno milagre".
Autora: Cornelia Rabitz (ca)
Revisão: Mariana Santos