Lobos de bronze contra o extremismo de direita
13 de setembro de 2018Dez lobos de bronze, alguns deles fazendo a saudação nazista, foram expostos nesta quinta-feira (13/09) na cidade de Chemnitz como parte de uma instalação artística contra a crescente onda de radicalismo na Alemanha.
Com até dois metros de altura e até três metros e meio de largura, as figuras possuem cabeças, garras e caudas de lobos, mas tronco e braços humanos. Cinco delas fazem a saudação de Hitler, enquanto outras parecem preparadas para atacar. Há ainda criaturas que trazem os olhos vendados e usam coleiras.
A instalação "Os lobos estão de volta", do artista Rainer Opolka, é uma reação aos recentes protestos de extrema direita em Chemnitz, no estado da Saxônia, no leste do país.
"Precisamos de meios contra o medo e a febre que tomou conta de nosso país, e de soluções contra o ódio e a violência", disse Opolka a respeito da obra. Para ele, os acontecimentos recentes em Chemnitz são sintoma de um fenômeno que provoca "medo e amargura em todo o nosso planeta, dividindo a sociedade".
Placas em torno da instalação acusam o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o movimento Pegida (sigla em alemão para "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente") e neonazistas de instrumentalizarem as preocupações de cidadãos alemães.
A coleção de lobos de Opolka já foi exibida em Berlim, Dresden e Potsdam desde 2016. A obra faz referência ao dito romano de mais de 2.200 anos "O homem é o lobo do homem", corroborado sucessivamente por pensadores como Erasmo de Roterdã, Thomas Hobbes, Sigmund Freud.
A instalação também se baseia no fato de neonaziszas e extremistas de direita, com frequência, descreverem a si mesmos como lobos.
Posicionada em frente a uma icônica estátua de Karl Marx em Chemnitz, a instalação poderá ser visitada até a noite desta quinta-feira.
Protestos de extrema direita
Recentes protestos contra estrangeiros atraíram milhares de pessoas, sendo grande parte apoiadores do Pegida e da AfD, a Chemnitz após um cidadão alemão ter sido morto durante uma briga na cidade. Três requerentes de refúgio são suspeitos do crime.
O fato de suspeitos pelo crime serem estrangeiros acirrou os ânimos na cidade e teriam levado extremistas a perseguirem e atacarem pessoas que aparentavam ser estrangeiras durante os protestos.
No início de setembro, milhares de pessoas compareceram a uma série de shows em Chemnitz, em resposta às manifestações anti-imigração na cidade e em protesto contra a xenofobia e o racismo.
Na cidade de Köthen, também no leste alemão, manifestantes entoaram cânticos e palavras de ordem nazistas no üultimo domingo, durante uma marcha de luto pela morte de um homem após uma briga com imigrantes afegãos.
A chanceler alemã, Angela Merkel, lamentou as mortes em Chemnitz e em Köthen e afirmou que os responsáveis devem ser punidos. Ela disse compreender que muitas pessoas estejam com raiva de supostos crimes cometidos por imigrantes, mas condenou expressões nazistas e ataques a estrangeiros que teriam ocorrido nos recentes protestos.
"Não há desculpa para uso de violência e de palavras de ordem nazistas ou para atacar pessoas com aparência diferente", disse a chanceler federal, ressaltando ser necessário haver um consenso sobre valores básicos da sociedade alemã.
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