Lula recebe a presidência do G20 ao final da cúpula na Índia
10 de setembro de 2023O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu neste domingo (10/09) do premiê indiano, Narendra Modi, a presidência do G20 e apresentou as três prioridades da agenda brasileira no comando do grupo: o combate à desigualdade e à fome, o combate às mudanças climáticas e a reforma das instituições de governança internacional.
A passagem simbólica da liderança do bloco foi feita ao final da 18ª cúpula do G20. O Brasil só assumirá o posto em 1º de dezembro.
“Todas essas prioridades estão contidas no lema da presidência brasileira, que diz ‘Construindo um mundo justo e um planeta sustentável’”, afirmou Lula. Ele anunciou que serão criadas duas forças-tarefas: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global contra a Mudança do Clima.
No discurso de encerramento da cúpula realizada em Nova Déli, capital da Índia, Lula reiterou também a posição brasileira de afastar das principais discussões do bloco a guerra na Ucrânia. Sem mencionar diretamente o conflito, ele disse que não se pode deixar que "questões geopolíticas sequestrem a agenda de discussões das várias instâncias do G20. Não nos interessa um G20 dividido".
Lula tocou na questão um dia após o G20 divulgar um comunicado final no qual condena indiretamente a guerra na Ucrânia, mas evita criticar a Rússia pela invasão, um reflexo da falta de consenso no bloco sobre o assunto.
Os Estados Unidos e alguns países europeus queriam a condenação de Moscou. O texto denunciou o uso da força para obter ganhos territoriais, mas evitou criticar diretamente a Rússia pela invasão lançada em fevereiro de 2022.
O presidente brasileiro lembrou a tragédia no Rio Grande do Sul em decorrência da passagem de um ciclone extratropical. De acordo com um balanço, divulgado às 18h deste sábado, o estado contabiliza 41 mortes e 46 pessoas seguem desaparecidas. São 88 municípios em estado de calamidade pública.
"No Brasil, Putin não será preso"
Em entrevista na noite de sábado à televisão indiana Firstpost, Lula afirmou que a guerra na Ucrânia não deveria fazer parte da agenda do G20, afirmando que o encontro deveria estar focado em questões sociais e econômicas.
Ele também garantiu na entrevista que Putin será convidado para a cúpula do G20 no Brasil e que não será detido, apesar do mandado de prisão contra ele emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) em março passado por crimes de guerra.
Sobre a reforma das instituições de governança internacional, Lula insistiu no seu apelo para que mais países se juntem ao Conselho de Segurança da ONU e para que as nações em desenvolvimento tenham mais voz no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial.
Mas o tema que dominou a agenda de Lula na cúpula da Índia foi o apelo à ação contra as alterações climáticas, com um aviso de que o mundo enfrenta uma "emergência climática sem precedentes".
Cúpula foi "um sucesso"
Contudo, a declaração final de Nova Déli aborda a questão de uma forma tão básica que foi aceitável tanto para os países que defendem a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis como para os grandes produtores de petróleo e carvão, como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e a Rússia.
Apesar da declaração pouco ambiciosa, os participantes da reunião descreveram a cúpula como um "sucesso".
Em particular, o ministro russo Lavrov destacou como uma conquista o fato de "conseguirmos impedir a tentativa ocidental de 'ucranizar' a agenda da cúpula".
O oficial indiano Amitabh Kant, um dos organizadores da cúpula, comentou no sábado que o Brasil ajudou a forjar o acordo sobre a Ucrânia na declaração final, que ele chamou de "a parte mais complexa" da declaração.
Lula agradeceu a Modi pela organização da cúpula, que descreveu como "bem sucedida". "Vamos fazer um esforço para fazer uma cúpula pelo menos igual a esta da Índia", disse Lula, elogiando os anfitriões indianos.
Reuniões bilaterais com europeus para pressionar por conclusão do acordo Mercosul-UE
Também neste domingo, Lula teve reuniões bilaterais com líderes europeus e com o príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.
Dos presidentes Emmanuel Macron (França), Ursula von der Leyen (Comissão Europeia), e Charles Michel (Conselho Europeu), Lula cobrou a conclusão do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia.
O acordo, fechado em 2019 mas ainda com a ratificação pendente, está travado por exigências ambientais do bloco europeu e resistência, do lado brasileiro, em fazer concessões no capítulo das compras governamentais. A isso somam-se pressões do setor agrícola europeu, liderado pela França, que teme a concorrência com os sul-americanos.
O presidente disse esperar uma postura clara dos europeus sobre a real possibilidade do acordo e rechaçou a imposição de sanções comerciais em caso de descumprimento de metas ambientais – o Mercosul entregou recentemente uma contraproposta à side letter dos europeus. Mensagem semelhante foi transmitida a von der Leyen e Michel.
Macron deve fazer sua primeira visita oficial ao Brasil no primeiro semestre de 2024.
Encontro com príncipe pivô do escândalo das joias sauditas
Do príncipe saudita, Lula ouviu que o país tem interesse em ampliar investimentos no Brasil, principalmente na área de petróleo e gás e também nas fontes verdes – o governo acena com projetos do novo PAC, algo que deve ensejar uma visita de empresários e autoridades sauditas ao Brasil.
Salman tem reputação controversa: ele governa um país com histórico de violações de direitos humanos – o caso mais emblemático é o assassinato e esquartejamento de Jamal Khashoggi, um jornalista crítico ao regime – e presenteou Jair Bolsonaro, antecessor de Lula no cargo, com joias milionárias que estão no centro de uma investigação da Polícia Federal.
Rica em petróleo e exercendo um lobby pesado em prol de combustíveis fósseis, a Arábia Saudita passou recentemente a integrar o Brics junto com Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã. A chegada de países com tradição autoritária ao bloco é fruto do esforço de Rússia e China para reequilibrar o tabuleiro geopolítico a seu favor.
md/ra (EFE, EBC, ots)