Luto e esperança dois anos após tragédia da Germanwings
24 de março de 2017"Precisamos dela aqui", disse uma mãe da escola secundária Joseph König, em Haltern. Ela chamou uma especialista em acompanhamento pós-traumático assim que ficou sabendo que 16 estudantes e dois professores não voltariam de uma viagem de intercâmbio a Barcelona. Eles viajavam no voo 4U 9525 da Germanwings com destino a Düsseldorf, quando o avião, com 150 pessoas a bordo, caiu nos Alpes franceses.
Mais tarde, investigações revelariam que o copiloto provocou a queda deliberadamente. Na tarde daquele 24 de março de 2015, Mechthild Schroeter-Rupieper, do Instituto Lavia para Trauma Familiar, correu com uma colega para a pequena cidade alemã de Haltern. Um pároco local pediu que ela voltasse no dia seguinte.
Acompanhada de uma professora, ela foi, então, a uma sala do quinto ano. Na lousa, escreveu as perguntas: "Por que isso aconteceu? Os que estão no céu percebem que estamos tristes? O que os pilotos pensaram quando o avião estava caindo?".
"Pode ser que vocês estejam tomados por sentimentos e pensamentos ruins. Vamos tentar reduzir o estresse juntos", disse a especialista. Ela ficou durante duas horas na sala de aula. "Quem conta ao contrário não consegue pensar em coisas ruins", disse às crianças. "Funcionou", constatou uma menina.
Então Schroeter-Rupieper foi para uma turma do décimo ano, para encontrar colegas e amigos dos estudantes mortos e conversar sobre como lidar com os próprios sentimentos após a tragédia.
"Ficar triste não significa apenas chorar. Alguns ficam infinitamente bravos com Deus e com o mundo, outros ficam em silêncio. E há quem queira apenas distância, ou quem faça piadas bobas. Nenhuma forma de luto é errada", disse. Desde então, a especialista conversa regularmente sobre a dor da perda com irmãos, amigos e pais das vítimas do desastre.
Copiloto é tema delicado
Dois anos se passaram. Muitos parentes de vítimas viajaram novamente até a francesa Le Vernet, perto do local do acidente, por ocasião do aniversário da queda. Lá, eles se sentem mais perto de seus familiares. Quando voaram até lá pela primeira vez, pensaram antes no que poderiam levar. "Seus filhos morreram numa terra estrangeira, leve simplesmente um pouco da terra de sua pátria", sugeriu Schroeter-Rupieper às famílias.
Neste ano, nem todos foram a Le Vernet. Em Haltern, também foi planejada novamente uma cerimônia em homenagem aos mortos, com cinco minutos de silêncio. "Nos aniversários, a dor aflui novamente", diz a especialista em acompanhamento pós-traumático. "Isso pode ser sentido também fisicamente, por meio de problemas de estômago, dores de cabeça, náuseas e insônia."
O fato de o pai do copiloto Andreas Lubitz aparecer diante da imprensa para refutar a responsabilidade de seu filho e criticar as investigações justamente no aniversário de dois anos da tragédia é considerado "inacreditável" por clientes do advogado Roland Krause, cujo escritório representa sobreviventes espanhóis e alemães, incluindo os de Haltern.
"Até agora, o copiloto não chegou a ser um grande tema entre a maioria das famílias", afirmou Schroeter-Rupieper. "Queremos manter o coração deles livre de raiva ou até mesmo ódio."
"Dor é como uma onda"
Os jovens do grupo se sentem mais bem preparados hoje do que há dois anos. "A dor chega que nem uma onda", diz um deles. "No começo, a gente luta contra ela. Mas em algum ponto, você tem que aprender a se deixar levar, porque você sabe que a onda passa por cima de você, mas depois vai embora."
Logo no início, a especialista levou junto com ela para Haltern jovens de outros grupos que também tinham perdido pessoas próximas. Pia contou sobre a morte de seu irmão e Carla, de Bottrop, perguntou: "Vocês conhecem essa situação, quando você abre a porta de casa e toda a tristeza vem contra você?" Quando os jovens de Haltern balançaram a cabeça afirmativamente, ela disse: "Isso passa."
Muitas crianças e jovens, inconscientemente, se recolhem, ao ver que os pais estão tristes. No grupo, irmãos e amigos estão entre si. Aprendem a construir a própria segurança, a pensam em coisas como a quem recorrer, a quem telefonar em um momento mais difícil. Eles pensam também sobre as coisas alegres que aconteceram depois da perda, oportunidades e momentos onde podem rir, se divertir, se distrair.
Pontos altos foram a excursão para um jogo de futebol do Schalke 04 e a visita do jogador do Schalke e da seleção alemã Benedikt Höwedes, natural de Haltern, ao grupo.
Homenagem musical
Como se não bastasse o aniversário de dois anos da queda do avião, neste ano também 16 jovens de Haltern estariam completando o ensino médio. E eles estão faltando, assim como as duas professoras.
Helen, por exemplo, tem saudades de suas melhores amigas Julia e Caja. As três faziam natação juntas. Celebrar após a morte dos amigos e amigas? Alguns sequer podem imaginar isso. "Julia e Caja estão sempre comigo", diz Helen.
Novas recordações e ondas de luto podem aparecer quando um pertence é descoberto e enviado aos familiares do local da queda na França. Mas muitos pais também se alegram com a surpresa. Recordações são preciosas. O irmão de Lea encontrou no celular dela uma música, em que Lea canta e toca piano.
Um produtor musical retocou o áudio, que agora tem melhor qualidade. Para a mãe de Lea, a música é "como uma saudação do outro lado", que dá a ela mais energia para transformar um antigo cinema de Haltern em um teatro dedicado à menina.
O projeto foi financiado com 100 mil euros que saíram do fundo criado pela Lufthansa, após a queda do avião de sua subsidiária Germanwings. Ainda neste ano, a sala deve ser inaugurada com um musical dedicado a Lea, que amava música e gostava de subir ao palco.