Líderes europeus rejeitam apoio a missões militares francesas na África
20 de dezembro de 2013O presidente da França, François Hollande, sofreu uma derrota no primeiro dia do encontro de cúpula da União Europeia (UE), nesta quinta-feira (19/12) em Bruxelas. Os líderes da UE rejeitaram a ajuda financeira pedida por Hollande para apoiar as missões militares francesas no continente africano.
Na reunião, os 28 países-membros da UE aprovaram somente uma avaliação das regras que preveem o financiamento conjunto de missões militares realizadas por um ou mais parceiros do bloco europeu.
"Não podemos financiar nenhuma missão em que não estivemos envolvidos no processo de decisão", declarou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, no final do primeiro dia do encontro. Merkel declarou ainda que a Alemanha e outros países-membros da UE esperam, no futuro, uma mudança de comportamento da França.
Segundo Merkel, uma decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas não é suficiente para que um país-membro da UE empreenda uma missão militar. É necessário também que a missão seja coordenada e aprovada pelos parceiros da UE caso se almeje uma corresponsabilidade europeia. Merkel afirmou que já teria dito isso a Hollande, em encontro bilateral na quarta-feira em Paris.
Solidariedade europeia em estruturas europeias
No ano passado, Hollande mandou tropas francesas para o Mali e, recentemente, enviou 1.600 soldados para a República Centro-Africana, com o objetivo de reprimir revoltas e pacificar países que se localizam em tradicional zona de influência francesa na África Ocidental. A França está, portanto, agindo em interesse próprio. Mas, devido ao alto custo das missões militares, Hollande sugeriu um fundo europeu permanente para o financiamento de tais missões.
O presidente francês, por sua vez, afirmou no primeiro dia de reuniões que a Polônia se dispôs a apoiar, com 50 técnicos da Força Aérea, a missão militar francesa na República Centro-Africana. Antes do encontro, Hollande havia dito que tanto a ONU quanto a União Europeia teriam apoiado a intervenção no Mali e na República Centro-Africana. "E ao financiamento deve seguir o apoio político", exigira Hollande.
O presidente, no entanto, parece ter se enganado. Além de Merkel, também o primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt, afirmou que, "quando se pede a solidariedade europeia, então a tomada de decisão deve se encontrar dentro de estruturas europeias".
Cameron, Rasmussen e a Otan
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que considera sensata uma cooperação militar entre os europeus. "Mas não é correto que a União Europeia possua tais capacidades – um Exército próprio, Força Aérea etc." Cameron não quer de maneira alguma estruturas paralelas à Otan.
Isso não somente seria um desperdício de dinheiro, argumenta, mas também poderia vir a enfraquecer a Otan. Nesse ponto, no entanto, Cameron contradisse ninguém menos que o próprio secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, que também foi convidado para as negociações em Bruxelas.
Rasmussen não disse ver nenhuma contradição entre um aumento da capacidade de defesa da Europa e uma Otan forte. "Se nós, europeus, não pudermos mais cuidar da nossa segurança, corremos o risco de que os EUA se afastem de nós."
Para acalmar os ânimos de Cameron, defensor das relações com os EUA e com a Otan, Rasmussen acresceu que não se trata de criar um Exército europeu. As Forças Armadas continuam a pertencer aos diversos países.
Cooperação em tempos de crise
De qualquer forma, em tempos de "vacas magras", os chefes de Estado e governo aprovaram em Bruxelas uma cooperação europeia mais estreita na política de segurança e armamentos. Em 2014, a UE pretende aprovar ao menos uma estratégia de segurança marítima comum e pretende chegar a um acordo sobre um enquadramento legal para a defesa contra ataques cibernéticos.
Além disso, entre 2020 e 2025, os países-membros da UE pretendem desenvolver um drone europeu. Isso poderia ajudar a encontrar uma solução para o problema da partida e aterrissagem de aviões militares não tripulados em espaço aéreo civil, o que foi um dos motivos para o fracasso na Alemanha do desenvolvimento do drone Euro Hawk.