Maduro busca apoio do Mercosul em sua primeira viagem após a posse
9 de maio de 2013Depois de visitar os chefes de estado do Uruguai e da Argentina, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, vai se encontrar nesta quinta-feira (09/05) com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília. É a primeira viagem internacional de Maduro após a sua posse como chefe da nação petrolífero.
Ele pretende, com a viagem, aumentar o apoio político dos países do Mercosul, mostrar para a comunidade internacional que existe estabilidade política no país e negociar os detalhes do ingresso da Venezuela ao bloco econômico. A viagem é considerada de praxe, já que ao assumir seus governos, geralmente os líderes eleitos percorrem os países que consideram mais próximos.
"Um dos principais objetivos da política externa é de legitimar o governo e mostrar que ainda se mantém firme o apoio de países como Brasil e Argentina. Ele deve, também, fechar acordos bilaterais, alguns deles referentes a investimentos estrangeiros no país", disse Ana Soliz Landivar, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo.
Maduro pretende também aprofundar a relação existente com esses três países em diversas áreas. E "ratificar o caminho da integração profunda com Uruguai, Argentina e Brasil, para seguir completando a equação perfeita, de integração energética, financeira, econômico-produtiva, social, cultural e política", completou o venezuelano em Caracas, antes da viagem.
Com os membros do Mercosul, Maduro vai tentar negociar os termos e regras aduaneiras para a adesão definitiva do país. A Venezuela tem três anos para se adequar às regras comerciais do bloco econômico.
O Brasil se tornou o terceiro maior parceiro comercial da Venezuela, depois da China e dos EUA. De acordo com o Itamaraty, o comércio entre Brasil e Venezuela multiplicou-se por sete de 2003 a 2012.
No ano passado, o comércio bilateral alcançou o recorde histórico de 6,05 bilhões de dólares. As exportações brasileiras de manufaturados para a Venezuela cresceram 30% em 2012, alcançando 65% da pauta exportadora.
Maduro visitou nesta terça-feira, em Montevidéu, o presidente uruguaio José Pepe Mujica e, nesta quarta-feira, a presidente argentina, Cristina Kirchner, em Buenos Aires – onde fechou acordos para exportar energia para a Argentina e importar alimentos. Argentina e Venezuela são estreitos aliados políticos e econômicos desde os governos Chávez e Kirchner.
Problemas internos na Venezuela
Esta é a primeira viagem internacional de Maduro desde que assumiu a presidência da Venezuela, em 19 de abril. Mas, a nível interno, a oposição venezuelana se nega a reconhecer Maduro como presidente, depois de ele ganhar a eleição com uma vantagem de cerca de dois pontos percentuais sobre o candidato oposicionista, Henrique Capriles.
A visita também pretende buscar o respaldo do Mercosul quanto à escolha de Maduro pela população venezuelana, depois que o presidente norte-americano, Barack Obama, questionou a legitimidade do presidente eleito.
"A posição dos Estados Unidos é ditada muito mais por seus objetivos de política externa do que por qualquer preocupação com a democracia", acrescentou Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Os EUA compram cerca de 40% do petróleo venezuelano.
Reincorporação do Paraguai ao Mercosul
Outro ponto a ser discutido com a presidente Dilma é o retorno do Paraguai ao Mercosul. O país havia sido suspenso do bloco em junho do ano passado devido à impugnação do ex-presidente Fernando Lugo. O processo de impeachment de Lugo foi considerado intransigente e não foi apoiado pelos países do bloco econômico.
Dos membros do Mercosul, o parlamento paraguaio foi o único que não ratificou a entrada na Venezuela no bloco – fato que gerou um problema político na região. Durante a visita de Maduro ao Uruguai, ele e Mujica afirmaram que há condições de acabar com a suspensão do Paraguai no grupo.
"Espera-se que a situação seja resolvida quando o novo presidente paraguaio, Horacio Cartes, tomar posse em 15 de agosto. Na prática, a presença da Venezuela no Mercosul já é um fato consumado", explicou Antonio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). Tanto que em 28 de junho, a Venezuela vai assumir a presidência rotativa do Mercosul – comando que, atualmente, está com o Uruguai.
"O Paraguai deverá ser reintegrado no momento em que a Venezuela tiver a presidência, já que a Venezuela terá que agir em nome do bloco e não em seu próprio interesse. Ela terá as cartas na manga para fazer isso", acredita Ramalho.
Maduro pretende, ainda, fortalecer o bloco econômico. No Uruguai, ele disse que "o Mercosul tem que mudar para se converter em um espaço poderoso de união da América do Sul e do continente". Ele frisou, ainda, que está animado com a futura incorporação definitiva da Bolívia e do Equador no bloco, mesmo que isso possa demorar alguns anos para se concretizar.