Maiorias virtuais ditam regras
3 de junho de 2005"Haverá um novo poder do 'nós'", afirma o pesquisador da Universidade de Essen/Duisburg Peter Wippermann, um dos fundadores do Trendbüro, consultoria com sede em Hamburgo que pesquisa mudanças sociais. Ele foi um dos participantes da 10ª Conferência Alemã de Tendências, que aconteceu esta semana em Hamburgo e teve como tema "Inteligência Coletiva – O poder das maiorias inteligentes".
De acordo com Wippermann, a internet iniciou uma revolução na mídia que influenciou não apenas a economia, mas também a vida privada. "O que estamos observando agora é uma resposta cultural a essa mudança", afirmou. As "maiorias inteligentes" do lema do congresso são pessoas que se organizam por meio de novas mídias, como a internet e o SMS (torpedos de celular), e acabam por determinar tendências que influenciam toda uma sociedade.
Tendências criadas por maiorias
Wipperman enumera exemplos para ilustrar sua tese. Na Alemanha, a canção infantil Schnappi, das kleine Krokodil começou sua carreira de sucesso sem o apoio da indústria fonográfica. A música foi um sucesso de download e só depois recebeu o aval da Universal, que passou a comercializar o single da canção, interpretada por uma menina de 9 anos chamada Joy Gruttmann. Essa inversão no mercado fonográfico teria sido bem captada pela Apple, que hoje vende mais iPods (o tocador de mp3 mais vendido no mundo) do que computadores.
Outros exemplos citados por Wippermann são a grife espanhola Zara, cujos clientes acabam por determinar os novos catálogos por meio de suas compras, a Wikipedia, uma enciclopédia virtual cujo conteúdo é escrito por internautas de todo o mundo, e o eBay, o site de comércio eletrônico onde os próprios usuários determinam o que está sendo vendido e por qual preço.
O todo melhor que a parte
Inteligência coletiva significa tomadas de decisão em comum, consensuais, explicam os pesquisadores do Trendbüro. Segundo eles, a maioria é mais inteligente que cada um de seus integrantes, e é desejo de cada indivíduo se organizar em sociedade, mas sem se subordinar. Cada um decide por si, mas aprende com os outros. É tendência dos individualistas fugir da massa, que reduz a sua inteligência, mas eles não ficam sós. Acabam por se organizar em torno de um tema, usando para isso mídias interativas como a internet e os telefones celulares, formando uma inteligência coletiva.
Para os pesquisadores, o poder desses grupos deverá crescer cada vez mais, tendo reflexos no consumo, na economia, na cultura e na política. "Também no campo político as maiorias virtuais deverão determinar os acontecimentos, e os políticos não irão mais se submeter ao desejo da maioria a apenas cada quatro anos", prevê Wippermann.