Skinheads, mas não neonazistas
16 de fevereiro de 2010O vestuário tem sido parte importante da cultura skinhead desde a década de 1960, quando um cisma dividiu a cena mod (abreviatura de modernist) britânica em dois grupos: peacock mods ("mods-pavão") – menos violentos, mais abastados e ocupados com a moda, preferindo roupas caras – e hard mods – endurecidos por sua vida menos privilegiada e cuja imagem era mais proletária.
No fim da década, estes últimos ficaram conhecidos como skinheads (cabeças peladas). Seu modo de viver e vestir havia se afastado cada vez mais da fascinação da classe média pelo "último grito", sedimentando uma imagem prática e que convinha a seu estilo de vida: botas de bico de metal, calças jeans de corte reto, blusão e suspensórios.
Tratava-se de uma robusta fusão dos estilos jovens dos negros – na maioria, jamaicanos – com o da classe operária inglesa. Logo os "skins" adotavam um uniforme com base nos jeans da Levi's e nas camisas pólo ou de abotoar, com mangas longas ou curtas, das marcas Ben Sherman, Fred Perry ou Brutus.
Absorção pela extrema direita
Quando, em meados dos nos 1970, o movimento punk e a morte do idealismo da década anterior trouxeram anarquia e desespero social, os grupamentos de extrema direita perceberam potencial na atitude de violência e patriotismo ferrenho que certos skinheads punk começavam a manifestar. Por toda a Europa, os radicais de direita passaram a recrutar skins brancos e a promover a imagem skinhead entre seus membros mais jovens.
Embora tenham adotado um corte de cabelo ainda mais curto, jeans mais apertados, calças de combate e botas de cano alto, esses skinheads neonazistas mantiveram os blusões Brutus e Ben Sherman, suéteres Lonsdale e cardigãs Fred Perry. Como resultado, a moda e o movimento skinhead tornaram-se sinônimos de extrema direita, racismo, neonazismo.
Na realidade, vindos das classes operárias, os skinheads tradicionais se identificavam com os imigrantes de todo o mundo no trabalho manual, nas comunidades herméticas e nas horas de lazer dançavam junto com seus companheiros jamaicanos.
Retorno ao multirracial
Nessa confusão de referências e identidades, as marcas de roupas adotadas pelos skinheads, de extrema direita ou não, assumiram, à própria revelia, uma conotação política. Esse peso simbólico é tão importante que os neonazistas da Alemanha se afastaram das "inocentes" marcas originais em favor de outras, claramente associadas a suas convicções políticas, como a Pitbull e a Thor Steiner, observa Bernd Richter.
Segundo o pesquisador alemão dos movimentos de extrema direita e de seu simbolismo, algumas das marcas contaminadas pela associação de direita estão agora aplicando estratégias coordenadas para limpar sua imagem.
A Fred Perry, por exemplo, empregou personalidades públicas populares, como o músico britânico Paul Weller, para aproximar suas roupas do público rock e indie. Até recentemente, o tenista Andy Murray era a imagem de sua linha esportiva.
"Essas casas também usaram modelos étnicos para promover igualdade em sua publicidade, evocando as origens dos skinheads, quando o seu meio era multirracial", observa Richter.
Black music x white power
Com o fim de transmitir uma imagem positiva para a próxima geração, essas marcas desenvolveram atividades de base, envolvendo interação e apoio ao público jovem. Segundo uma fonte ligada a Fred Perry e Ben Sherman, que preferiu não ser identificada, essas duas marcas abordaram o problema da associação neonazista de várias maneiras sutis.
"Elas deixaram de fornecer para as lojas que serviam a essa área do mercado, removeram de suas coleções certos artigos com associações mais fortes, e pararam de vender as roupas mais baratas. Isto colocou ambas num outro patamar, e são vistas hoje como grifes de designer."
Bill Osgerby, professor de Mídia, Cultura e Comunicação pela Metropolitan University de Londres, aponta uma tendência paralela: os skinheads tradicionais, em especial a geração mais velha, afastaram-se cada vez mais da imagem racista. Eles formaram grupos de ação e promovem suas raízes jamaicanas, o estilo e a música afro-caribenhos característicos do movimento original.
"Como os skins tradicionais costumavam dizer: você não pode ter as raízes na black music e estar no white power", conclui Osgerby.
Autor: Nick Amies (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer